Urgência de estratégias locais e nacionais articuladas, que combinem sustentabilidade ambiental, desenvolvimento económico, modernização do regadio, criação de soluções habitacionais e integração social dos trabalhadores migrantes. Esta foi a mensagem que sobressaiu das várias intervenções.
Na sessão de abertura, Luís Mesquita Dias, presidente da AHSA, sublinhou o potencial único do território para a agricultura, assente num clima excecional e na infraestrutura hídrica proporcionada pela barragem de Santa Clara. Além disso, recordou os avanços registados na última década, resultantes da conjugação entre disponibilidade de água e capital humano, onde se incluem tanto quadros técnicos como trabalhadores migrantes.
Entre os números apresentados, destacou a faturação gerada anualmente pela atividade agrícola no Perímetro, que se aproxima dos 500 milhões de euros, um terço dos quais representa receita fiscal para a região. Luís Mesquita Dias alertou, contudo, para alguns desafios atuais com que o setor se depara. A título de exemplo, referiu as restrições impostas por um conjunto de entidades reguladoras da atividade no Parque Natural, que limitam práticas essenciais como a construção de charcas ou dificultam ou atrasam o licenciamento da habitação nas quintas.
Apontou, no entanto, também aspetos positivos, como o projeto “Água que Une”, que contempla fundos para a modernização do regadio no Perímetro, bem como a essencial ligação Alqueva – Santa Clara. Saudou, por fim, as medidas tomadas pelo Governo, visando a regulação e o equilíbrio dos processos de imigração.
Francisco Gomes da Silva, diretor geral da AGROGES, apresentou um estudo sobre a relação entre regadio e desenvolvimento rural, com foco nos concelhos do litoral alentejano e algarvio. A conclusão foi clara: existe uma correlação direta entre regadio e melhores indicadores de desenvolvimento, sendo o investimento neste domínio uma decisão estratégica e política de primeira ordem.
Já Mário Sanchéz, gerente da residência espanhola Tariquejo, trouxe o exemplo prático de um modelo de alojamento coletivo ético para trabalhadores sazonais, em funcionamento desde 2010. Com apoio municipal no processo de licenciamento, a estrutura assenta na responsabilidade direta de investimento dos empresários, defendendo ainda o recrutamento organizado desde os países de origem como fundamental para uma integração sustentável dos trabalhadores.
Aquando da mesa-redonda Carlos Chibeles, diretor executivo da Associação de Beneficiários do Mira, chamou a atenção para a crescente escassez de água e o risco de inviabilização de novas culturas, sublinhando a urgência de garantir 40 milhões de m³/ano provenientes do Alqueva para Santa Clara. Já José Pedro Salema, presidente da EDIA, destacou a relevância do projeto “Água que Une”. Ao quantificar o volume de água com que Alqueva pode vir a ajudar o Sudoeste Alentejano, advertiu, no entanto, para a importância de reduzir drasticamente as perdas de cerca de 35% nos canais atuais.
Por seu lado, Teresa de Melo, investigadora do Instituto Superior Técnico (IST), salientou a importância das águas subterrâneas, informando que o IST se candidatou com êxito a uma candidatura da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, visando o conhecimento detalhado deste recurso ainda subexplorado.
Por sua vez, Eduardo Bremm, operations manager Iberia da Driscoll’s, enalteceu o contributo das empresas agrícolas para a inovação e tecnologia adaptada à realidade regional, sublinhando que Odemira é hoje estratégica para a empresa, graças aos resultados de uma produção cada vez menos sazonal.
Hélder Guerreiro, presidente da Câmara Municipal de Odemira, reconheceu o valor económico da agricultura para o país, que não reverte para a região, e não deixou de apontar desafios persistentes, como a falta de financiamento público para habitação, os entraves urbanísticos criados por algumas entidades públicas e a desregulação do processo de imigração. Apelou ainda ao reforço dos serviços públicos, de forma a dar resposta adequada ao aumento da população. Por outro lado, teceu comentários positivos sobre o contributo dos empresários na preservação dos valores naturais e melhoria na gestão da água, os resultados das IATAs na gestão urbana e a capacidade de diálogo e envolvimento no projeto “Água que Une”.
No encerramento do evento Álvaro Mendonça e Moura, presidente da CAP – Confederação dos Agricultores de Portugal, identificou como grandes desafios futuros a reforma da PAC e a execução do plano “Água que Une”. Destacou ainda a importância de um modelo de desenvolvimento que integre imigração, inovação e compromisso público-privado: “Sem pessoas, a água não servirá de muito”, frisou. Terminou com a mensagem de que o desenvolvimento do país é determinante e que só um país economicamente forte pode reter os jovens no mercado de trabalho nacional.