Evento reuniu meia centena de participantes
As temáticas do regadio, desenvolvimento do território, novas técnicas de produção, desafios geopolíticos e sustentabilidade na fileira do milho em Portugal marcaram o debate recente entre os maiores especialistas do setor. Em colaboração com a ANPROMIS apresentamos-lhe, neste Especial, as conclusões finais do 12.°Colóquio Nacional do Milho, realizado em fevereiro na Figueira da Foz.
O 12.°Colóquio Nacional do Milho reuniu no dia 11 de fevereiro, no Centro de Artes e Espetáculos da Figueira da Foz, cerca de 500 participantes de todo o país, entre académicos, agricultores, políticos e estudantes. Em debate estiveram os principais desafios da fileira do milho em Portugal.
Nas palavras do Presidente da ANPROMIS, Jorge Neves, o Vale do Mondego “é um claro exemplo onde a agricultura tem um papel fundamental para a coesão do território”, razão da escolha desta região para a realização do evento, que serviu também “para homenagear os agricultores locais pela sua resiliência”.
Analisando a dinâmica do milho em todo o país, Pedro Pimenta, presidente da Cooperativa Agrícola de Coimbra, sublinhou que no Mondego a cultura deste cereal se faz “de forma constante, sem abandonos de área”.
Como concluiu, já na sessão de encerramento, o ministro da Agricultura e Pescas, José Manuel Fernandes, é necessário reforçar o aprovisionamento de cereais numa área que é estratégica para o país, e trabalhar para uma autonomia estratégica da União Europeia (UE).
Jorge Neves, presidente da ANPROMIS, defendeu o papel da agricultura na coesão do território.
O primeiro painel do 12.°Colóquio Nacional do Milho colocou em destaque o regadio como elemento importante para a agricultura e, consequentemente, para a coesão do território. Francisco Gomes da Silva, apresentou um estudo da AgroGes no qual se conclui que o coeficiente de correlação entre a presença de regadio e o desenvolvimento do território é muito elevado. Nos territórios onde o regadio está presente, é possível verificar que a população cresceu, que o nível de qualificação profissional é superior ao de outras regiões do interior do país, e que o poder de compra é mais elevado. “A agricultura é um importante empregador”, conclui o diretor-geral da AgroGes.
Fermelinda Carvalho, presidente da Câmara Municipal de Portalegre, destacou a importância da agricultura em territórios do interior do país, apelando a uma estratégia de regadio para a região alentejana, e José Pedro Salema, presidente da EDIA, recordou que o investimento do Governo na barragem do Alqueva foi superior a mil milhões de euros e que atualmente as receitas fiscais adicionais introduzidas pelo projeto são já três vezes superiores, num projeto cuja atividade económica representa um valor anual de produção superior a 3.200 milhões de euros.
Eduardo Diniz, diretor-geral do GPP, e Isabel Damasceno, presidente da CCDR Centro, corroboraram a relevância da agricultura na coesão do território defendendo que a estratégia para a água recentemente apresentada pelo Governo trará mais desenvolvimento aos territórios do interior do país.
Face a desafios na produção como as alterações climáticas e a redução de substâncias ativas capazes de combater pragas e doenças, André Antunes, consultor em resiliência agropecuária, destacou a importância de conhecer os nutrientes do solo, nomeadamente azoto, potássio, zinco e fósforo, para, quando necessário, fazer o aporte nutricional à planta. Defendendo o papel fundamental da microbiologia na produção de milho, o especialista recomendou a escolha de sementes de qualidade e bem-adaptadas a cada região e a realização de análises de seiva e foliares para avaliar o estado de sanidade das plantas.
Stéphane Jezequel, diretor científico da Arvalis, apresentou algumas técnicas que permitem controlar a datura stramonium (figueira-do-inferno), uma infestante que afeta a cultura do milho por todo o país: escolher herbicidas que eliminem as plantas; fazer a remoção manual das plantas ou trituração após a colheita; higienizar a máquina de colheita, já que a seiva desta infestante é também muito tóxica. Já Luís Queirós, diretor global para a área de Aditivos para forragens da Lallemand Animal Nutrition, analisou a produção de uma boa silagem e a sua preservação para a obtenção de um leite de elevada qualidade.
Álvaro Mendonça e Moura, presidente da CAP, Carlos Coelho, presidente da Plataforma Nossa Europa, e Joana Fisher, encarregada de negócios da Missão Permanente de Portugal junto das Nações Unidas, partilharam as suas preocupações sobre a necessidade de a UE adaptar as suas políticas agrícolas e comerciais para enfrentar os crescentes desafios impostos pela nova conjuntura geopolítica, garantindo simultaneamente a sustentabilidade e a competitividade do setor agrícola europeu. É também fundamental garantir uma soberania alimentar na Europa. “A agricultura tem de ser considerada como um vetor estratégico para o papel da União europeia no mundo”, caso contrário “estaremos sempre dependentes de outros”, sublinhou o presidente da CAP.
O ministro da Agricultura e Pescas encerrou o evento nacional da ANPROMIS apelando ao reforço do aprovisionamento de cereais e à autonomia do setor.
A menos de um mês da apresentação pelo primeiro ministro, Luís Montenegro, da estratégia ‘Água que Une’ (a 9 de março), José Pimenta Machado, presidente da APA, perspetivou uma estratégia assente em vários eixos: apostar na eficiência, evitando perdas de água; encontrar novas fontes de água que contribuam para aumentar o armazenamento; interligar sistemas e utilizar águas residuais para fins agrícolas e a dessalinização.
Já Macário Correia, presidente da Associação de Regantes do Sotavento Algarvio, apelou à tomada de decisões que permitam empreender obras quer para a melhoria das infraestruturas existentes quer para soluções criadas de raiz com o objetivo de armazenar a água da chuva. Num painel onde António Guedes, administrador do grupo Aveleda, partilhou as estratégias do grupo para gerir a disponibilidade de água nas quatro regiões do país onde tem 450 hectares de vinha, Paulo Fernandes, presidente da Câmara Municipal do Fundão, defendeu a importância do regadio num concelho do interior.
No âmbito do seu Colóquio Nacional a ANPROMIS assinou um protocolo de colaboração com a APEPA - Associação Portuguesa de Escolas Profissionais Agrícolas para a realização de estágios em contexto de trabalho (tanto nas explorações agrícolas e agropecuárias dos produtores de milho para grão e para silagem como nas organizações de produtores de cereais associadas da ANPROMIS), com vista a contribuir para um maior envolvimento entre as escolas profissionais agrícolas e o mundo empresarial, que a associação representa.
Como sublinhou, na sessão de encerramento do evento, Emília Cerqueira, presidente da Comissão de Agricultura e Pescas, “estruturas como a ANPROMIS são fundamentais ao nível do desenvolvimento”. E são-no, na opinião do ministro da Agricultura, pelo seu “trabalho notável de investigação, formação e transferência do conhecimento”.
O 12°Colóquio Nacional do Milho reuniu uma audiência de centenas de agricultores, políticos, académicos e estudantes.
Conclusões do 12°Colóquio Nacional do Milho
1. A agricultura é fundamental para o país, como elemento de coesão territorial, com especial destaque para o regadio. Um estudo elaborado pela Agro.Ges permite averiguar que os territórios onde é possível praticar uma agricultura de regadio têm melhor taxa de empregabilidade, criam empregos mais qualificados e têm menor despovoamento e desertificação.
2. O solo é um fator essencial para um bom desenvolvimento da cultura do milho. É preciso conhecer as características do solo para saber quando se deve fazer o aporte de cada nutriente. Ao nível da biologia, devem ser escolhidas sementes de qualidade e com ciclos adaptados a cada região.
3. Uma silagem de elevada qualidade tem impacto no leite que será produzido. A obtenção de uma silagem de qualidade está relacionada com questões agronómicas e com a época de colheita. O processo fermentativo é também essencial para que não se perca a qualidade obtida no campo. Devem ser potenciados microrganismos que impedem aqueles que são indesejáveis.
4. A crescente saída de substâncias ativas está a criar um problema de competitividade técnica e económica aos produtores europeus de milho face, por exemplo, ao Mercosul. Não é compreensível que das 178 matérias ativas que são autorizadas no Brasil e na Argentina, para a proteção do milho, apenas 92 sejam permitidas na União Europeia (52%).
5. Os produtores europeus têm de ter as mesmas condições de produção dos seus colegas de outras latitudes, como são exemplo a utilização dos drones ou das novas técnicas genómicas (NTG).
6. Para termos autonomia estratégica, temos de ter soberania alimentar. Num contexto de crescente instabilidade e imprevisibilidade geopolítica, a soberania alimentar, a par da Defesa, constitui, para os países europeus, um desígnio estratégico. Cabe, a cada um dos estados-membros, tomar as devidas medidas para que este objetivo estratégico passe a constituir uma verdadeira prioridade.
7. Face à menor competitividade económica dos produtores europeus de milho a Comissão Europeia deve alterar o sistema de cálculo dos direitos de importação de milho de países terceiros, cujo método e valor foram definidos nos anos 2000.
8. A Estratégia +Cereais vai ser convertida em resolução de Conselho de Ministros. A nova Estratégia tem como objetivo melhorar o rendimento e a produtividade dos agricultores, por forma a diminuir as importações.
9. A estratégia ‘Água que Une’ constitui para os agricultores de regadio uma esperança, mas também a certeza de que não podemos desaproveitar esta ‘última’ oportunidade em que
temos um Governo alinhado com este desígnio.
10. O 12.°Colóquio Nacional do Milho, e a grande dinâmica criada em seu torno, reconhecem a importância que as associações e as organizações de produtores desempenham no modelo agrícola nacional pois, claramente, junto somos e seremos muito mais fortes.
Fonte: ANPROMIS