De acordo com dados da Consejería de Agricultura, Pesca, Água e Desenvolvimento Rural da Junta da Andaluzia, em 2023 foram cultivados 8.495 hectares de batata na região, atingindo uma produção total de 244.637 toneladas com um rendimento médio de 28.798 kg/ha. Esta cultura é também um motor do emprego rural: cada hectare produz, em média, 40 dias de trabalho por ano, o que equivale a 340.000 dias de trabalho por ano na Andaluzia, ou seja, 1.415 empregos diretos.
Para além da sua importância local, a batata desempenha um papel estratégico na balança comercial andaluza devido à sua forte orientação para a exportação. Cerca de 60% da produção destina-se aos mercados internacionais, principalmente nos países da UE. Em 2023, as exportações de batata geraram 42.528 milhões de euros para a região, representando 21% do total nacional, de acordo com dados da Direção-Geral das Alfândegas e Intrastat. Este valor evidencia a importância económica desta cultura, especialmente nas zonas rurais onde é necessário um maior dinamismo empresarial e a criação de emprego.
Os fatores responsáveis por esta tendência são a concorrência da batata importada armazenada em câmaras frigoríficas e as políticas de liberalização do mercado internacional. No entanto, existem também desafios técnicos no próprio sector, em relação aos quais podem ser tomadas medidas corretivas. Um dos mais prementes é a necessidade de uma gestão fitossanitária sustentável para combater pragas e doenças como o míldio, sem comprometer o ambiente ou a competitividade do produto.
O ciclo de cultivo da batata na região, com sementeiras entre dezembro e janeiro e colheitas entre abril e junho, coincide com o início das temperaturas primaveris e com o aumento da precipitação em meses como fevereiro e março. Estas condições são ideais para o míldio, pois o fungo desenvolve-se quando as temperaturas são superiores a 10 °C e a humidade relativa é superior a 75% durante dois dias consecutivos. Os esporos podem ser espalhados pelo vento durante quilómetros e, quando chove, são arrastados para o solo, infetando os tubérculos jovens.
Atualmente, os efeitos das alterações climáticas fizeram com que o míldio, que anteriormente era um problema quinquenal, se tornasse uma ameaça recorrente, afetando cada duas estações. Esta mudança conduziu a um aumento das perdas e a maiores desafios na gestão das culturas.
Estas dificuldades evidenciam a necessidade de soluções tecnológicas inovadoras que permitam um tratamento mais localizado, controlado e respeitador do ambiente.
Em resposta a este problema, a Asociafruit, como representante do setor, lançou um projeto inovador destinado a melhorar a deteção e o tratamento do míldio nas culturas de batata. Este projeto responde de forma abrangente às necessidades do setor, apoiando-se na tecnologia de deteção remota e na utilização de veículos aéreos não tripulados (drones) para realizar tratamentos fitossanitários de uma forma mais sustentável, precisa e eficaz.
O projeto tem um Grupo Operacional composto por:
O principal objetivo deste projeto é desenvolver um sistema avançado para a deteção precoce do míldio e melhorar os tratamentos fitossanitários de uma forma localizada e sustentável. Os objetivos específicos incluem:
Esta iniciativa responde à necessidade de proteger uma cultura estratégica para a região, promovendo a adoção de práticas mais eficientes e sustentáveis que beneficiem tanto os produtores como o ambiente.
1. Técnicas de deteção remota para a deteção precoce do míldio.
Foram utilizadas imagens de satélite e drones equipados com sensores multiespectrais para monitorizar e detetar precocemente a presença da doença. As imagens de satélite utilizadas provêm de duas fontes principais:
No entanto, ambas as plataformas espaciais enfrentaram dificuldades significativas na deteção do míldio devido às condições meteorológicas caraterísticas associadas à presença da doença na cultura, tais como a presença frequente de nuvens durante os eventos de precipitação. Estas limitações reduziram a disponibilidade de dados de qualidade, limitando o potencial das imagens de satélite em cenários agrícolas com estas caraterísticas.
2. Utilização de drones para mapear a cultura.
Em alternativa, os drones revelaram-se uma ferramenta fundamental para ultrapassar os desafios associados à teledeteção espacial. Ao voarem abaixo das nuvens, permitiram a captação de dados precisos utilizando câmaras multiespectrais. A partir destas imagens, foram gerados mapas de vigor das culturas, refletindo variações no estado das plantas associadas à presença de míldio.
Estes mapas permitiram delimitar as zonas afetadas com uma precisão centimétrica, permitindo um tratamento fitossanitário localizado e eficaz. Graças a esta tecnologia, foi possível atuar apenas nas zonas afetadas, minimizando os danos na cultura e reduzindo o impacto ambiental.
Este projeto demonstrou o grande potencial das ferramentas tecnológicas na agricultura de precisão, destacando os benefícios da deteção precoce do míldio e do tratamento localizado com drones. Os resultados foram muito satisfatórios, abrindo caminho a futuras campanhas para otimizar ainda mais estas práticas.
Além disso, a utilização destas tecnologias não só melhora a rentabilidade da cultura, reduzindo as perdas económicas associadas ao míldio, mas também:
Colaboração e financiamento
O projeto Mildron foi possível graças ao esforço conjunto das empresas e instituições que compõem o Grupo Operacional Mildron. Todas as fases do projeto foram cofinanciadas pelo Fundo Europeu Agrícola de Desenvolvimento Rural, com o apoio da Consejería de Agricultura, Pesca, Água e Desenvolvimento Rural da Junta da Andaluzia.
A combinação de inovação, sustentabilidade e colaboração intersectorial posiciona este projeto como uma referência na modernização do sector agrícola na Andaluzia, marcando um passo em direção a uma agricultura mais eficiente, sustentável e amiga do ambiente.