As estimativas da AlgarOrange apontam para que, da totalidade de citrinos produzidos, cerca de 84% tenham sido laranjas, 8% tangerinas e clementinas e 7% limões. Foto: Taryn Elliott/Pexels
O setor enfrenta dificuldades, mas a campanha de citrinos 2023/24 correu bem. A produção aumentou 30% em relação à campanha anterior e cerca de 10% quando comparada com a média dos últimos anos, disse José Martins de Oliveira, presidente da direção da AlgarOrange, maior associação portuguesa de operadores de citrinos, que representa cerca de 40% da produção de citrinos no Algarve e 30% da produção nacional.
O Algarve combina condições de clima, relevo, temperatura, solo, vento, humidade do ar de excelência para a produção de frutos de qualidade e em quantidade.
Segundo informação disponibilizada pela AlgarOrange, 70% da área de plantação de citrinos encontra-se no Algarve, o que corresponde a 88% da produção de laranjas, tangerinas, limões, tangeras e toranjas, entre outras variedades de Portugal.
As estimativas da associação apontam para que, da totalidade de citrinos produzidos, cerca de 84% tenham sido laranjas, 8% tangerinas e clementinas e 7% limões.
Apesar do crescimento, a produção enfrentou dificuldades, à semelhança de anos anteriores. Por um lado, a escassez de água, por outro as pragas e doenças que foi necessário combater. Ainda assim, “em termos de qualidade, a campanha pode considerar-se razoável a boa”, embora “as pragas e doenças, a falta de meios de controlo, a falta de água e as condições climáticas fora dos padrões” tenham condicionado os calibres produzidos, lamenta José de Oliveira.
Quadro 1 – Exportações de laranjas. Fonte: Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral .
Os principais destinos de exportação das laranjas portuguesas são Espanha, França e Alemanha, no entanto, o ranking é ligeiramente diferente quando se fala da produção da região do Algarve. A maioria da produção tem como destino o mercado nacional, sendo que 30% se destinam à exportação principalmente para França, Alemanha e Espanha, seguidos de destinos como Suíça, Dinamarca e Países Baixos, disse José de Oliveira.
Segundo a AlgarOrange, os citrinos algarvios são dos frutos mais exportados por Portugal. Em 2023, as exportações ultrapassaram os 197 milhões de euros, mais 10,4 milhões do que no ano anterior, disse a associação.
Quadro 2 – Exportações de limões. Fonte: Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral.
Olhando para a campanha em curso, José de Oliveira apontou os principais desafios e oportunidades da produção e comercialização de citrinos.
“A água continuará a ser o grande desafio do setor, pois condicionará o investimento em novos pomares”, explica, acrescentando que “as alterações climáticas e as mudanças nas temperaturas afetarão a qualidade” da produção.
Outros grandes problemas do setor são a falta de mão de obra e as pragas que “continuarão a ser um grande desafio devido às continuas dificuldades na disponibilidade de produtos a utilizar”.
Além disso, a conjuntura económica europeia “poderá condicionar fortemente a comercialização” dos citrinos.
A concentração será certamente outro grande desafio, mas será igualmente “uma grande oportunidade como fator de capacidade de comercialização para mercados internacionais”, assinala o responsável.
Entretanto, a escassez de água tornou legalmente impeditiva a criação de novas áreas de regadio na região do Algarve. O presidente da AlgarOrange assegura que “existe a vontade” de aumentar a área de produção, mas neste momento os associados “estão completamente condicionados” e, “lamentavelmente, estas restrições apenas se aplicam ao setor agrícola. Os outros setores de atividade da economia do Algarve podem continuar a aumentar as suas atividades e por consequência o consumo de água”, salienta José de Oliveira. O responsável lança o alerta: “Para nós não é aceitável esta forma discricionária de tratar aqueles que fazem da agricultura o seu modo de vida”. Com a impossibilidade de aumentar a área de cultivo, o setor deverá continuar a centrar o investimento em tecnologia quer na produção quer nas centrais de operação.
“Continuamos a promover a necessidade de produzir e comercializar com o rótulo IGP – Citrinos do Algarve”, José de Oliveira. Foto: Suzy Hazelwood/Pexels
A AlgarOrange defende a necessidade de união da produção para obtenção de maior poder comercial e divulga a certificação Indicação Geográfica Protegida dos citrinos da região (IGP – Citrinos do Algarve).
A associação tem procurado fazer do conhecimento uma forma fundamental de apoio aos produtores, através da formação e divulgação de dados de produção, preços e necessidades de certificações. “O conhecimento do mercado é, do nosso ponto de vista, de grande importância para a produção. Através de ações de formação fazemos chegar aos técnicos toda a inovação e novas tecnologias”, explica José de Oliveira.
A divulgação da certificação IGP – Citrinos do Algarve é de “extrema importância para se consolidar a exportação, pelo que continuamos a promover junto dos produtores e operadores a necessidade de produzirem e comercializarem com este rótulo que deverá ser a marca dos citrinos do Algarve”.
Os IGP – Citrinos do Algarve são produzidos numa área geográfica específica e possuem características que os distinguem de outros: casca fina, colorida e brilhante e um elevado teor de sumo, doce e de sabor inconfundível. A produção está limitada aos concelhos de Albufeira, Castro Marim, Faro, Lagoa, Lagos, Monchique, Olhão, Portimão, S. Brás de Alportel, Silves, Vila Real de Santo António, Loulé (exceto a freguesia de Ameixial) e Tavira, (com exceção da freguesia de Cachopo).
Finalmente, a AlgarOrange tem uma candidatura de um Projeto de Internacionalização que tem como objetivo a comunicação e marketing, o aumento do interesse pelos citrinos produzidos no Algarve visando os mercados de França, Alemanha e Canadá.
Gráfico 1 - Produção nacional de laranjas nos últimos cinco anos. Fonte: Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral .
A AlgarOrange lidera a Plataforma de Inovação Recursos Endógenos Terrestres – Agroalimentar, da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) Algarve, na qual se vai apresentar a proposta de realização do Cadastro da Agricultura do Algarve.
José de Oliveira lamenta que a região continue sem cadastro “apesar de todos reconhecerem a sua importância”. E detalha: “a existência de um Cadastro Regional é essencial para que possamos produzir de uma forma mais inovadora e sustentável. Necessitamos de conhecer o que produzimos, onde produzimos e como produzimos. Necessitamos de conhecer áreas de produção por variedade, idades das plantações, compassos e os porta-enxertos”.
O cadastro permite ter um conhecimento fidedigno do território, criar mapas para avaliação de risco e impacto de pragas e doenças e respetivas estratégias de controlo. Permite ainda o desenvolvimento de um sistema de avisos para passar indicações de onde e quando fazer o controlo de pragas e doenças, bem como para desenvolver estratégias integradas que permitiriam produzir de forma mais sustentável.
Gráfico 2 - Produção nacional de limões nos últimos cinco anos. Fonte: Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral.
Produção local em Valência prejudicada por chuvas torrenciais
Valência, em Espanha, é uma das grandes regiões de produção de citrinos na Europa. No final de outubro, no dia 30, em apenas oito horas caiu o equivalente a um ano de chuva em algumas partes daquela que é a terceira maior cidade do país vizinho. Esta situação levará a “produções locais mais reduzidas com as normais consequências comerciais”, explica José de Oliveira. No entanto, ainda é cedo para ter “uma perceção clara relativamente à quantificação das consequências”, esclarece o responsável da AlgarOrange.