Chaparro Agrícola e Industrial, S.L.
Informação profissional para a agricultura portuguesa
“A disponibilidade de água é um fator crítico”

Entrevista a Joel Vasconcelos, diretor-geral da Lusomorango

Gabriela Costa21/10/2024

O setor dos pequenos frutos está a crescer, tanto em produção como em volume de negócios. Como sublinha, em entrevista, o diretor-geral da Lusomorango, apesar de adversidades como a escassez de água, o mercado das framboesas, amoras, mirtilos e morangos revela um potencial de crescimento sustentável com “condições ímpares” que tornam o setor numa “referência da produção agrícola nacional”.

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Que balanço faz do setor dos pequenos frutos em 2024, ao nível da produção, volume de negócios e exportação?

O setor dos pequenos frutos tem sido, como muitas outras culturas em Portugal, um exemplo de como é possível modernizar a agricultura e apresentar ao mercado produtos de excelência que distinguem o país nas mais diversas geografias.

Apesar das várias adversidades enfrentadas nos últimos anos, desde a pandemia até ao impacto das alterações climáticas, onde a disponibilidade de água é um fator crítico, o setor dos pequenos frutos tem sido capaz de manter e melhorar o seu desempenho, produzindo mais e melhor com menos recursos e de forma cada vez mais sustentável.

Prova disto mesmo são os resultados que tem conquistado e que evidenciam um crescimento contínuo, quer em quantidade produzida, quer em volume de negócios realizados. Iniciámos 2024 impulsionados por um recorde de vendas verificado em 2023, mas temos a noção de que há um conjunto de adversidades que restringe o nosso potencial de crescimento. O setor dos pequenos frutos exportou 294 milhões de euros em 2023, o que representa um crescimento de 15,6% face a 2022, e 5,7% do total nacional realizado pela fileira Frutas, Legumes e Flores.

É, sem dúvida, um setor referência na produção agrícola nacional, onde existe um grande potencial de crescimento, assim estejam reunidas as condições necessárias para que tal aconteça.

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Quais são as premissas para uma produção cada vez mais eficiente e sustentável de frutos como a framboesa, amora, mirtilo e morango?

A disponibilidade de água será a premissa vital, não só para os pequenos frutos mas para toda a produção agrícola. As alterações climáticas são uma realidade inquestionável, da mesma forma que o é a necessidade de continuar a produzir alimentos para a população mundial, que continuará a aumentar. Sem água não há alimentos, pelo que é fundamental encontrar processos produtivos que façam um uso cada vez mais eficiente deste recurso.

É nisso que, na Lusomorango, temos empenhado os nossos esforços. O Centro de Investigação para a Sustentabilidade, uma iniciativa que a Lusomorango concretizou a par com o INIAV - Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária e com as empresas Driscoll’s e Maravilha Farms, estuda, com base em processos científicos, a capacidade produtiva das plantas em cenários exigentes de disponibilidade de água. Este é um conhecimento que servirá, além dos produtores da Lusomorango, todos os produtores, de pequenos frutos e de outras culturas, sempre com o propósito para que foi criado: produzir alimentos de qualidade, da forma mais eficiente e sustentável possível.

Que balanço faz do Colóquio Hortofrutícola dedicado à gestão sustentável da água, e o que pode antecipar sobre a temática do evento do próximo ano?

O Colóquio Hortofrutícola, uma iniciativa que a Lusomorango promove em parceria com a Universidade Católica, tem tido uma evolução muito positiva ao longo das suas já seis edições. Tem sido nosso princípio, e é nosso compromisso, promover o debate público sobre os temas que são vitais em Odemira e ao setor agrícola, nomeadamente, a água, as pessoas e o território.

Na sexta edição dedicámo-nos ao tema ‘Novas Fontes de Água: Soluções estruturais para um futuro sustentável’ e, conforme o próprio título indica, apresentámos e debatemos propostas concretas e construídas com base na investigação e no conhecimento científico, para resolver, de forma estrutural, os desafios da água na região. Contámos com um painel de oradores de valor significativo – como o secretário de Estado da Agricultura, o presidente do Grupo Águas de Portugal, o ex-presidente do IPMA, o chefe de missão da Organização Internacional para as Migrações (OIM) Portugal, além do presidente da Câmara Municipal de Odemira, o presidente da EDIA, o presidente da APA e outras autoridades regionais – e, acreditamos, contribuímos para esclarecer todos os presentes, na sala e remotamente, sobre as soluções que Odemira precisa.

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Como pode Portugal “implementar uma estratégia nacional que resolva as condicionantes hídricas”, como afirmou João Moura, secretário de Estado da Agricultura?

A concretização do projeto ‘Água que Une’, cuja apresentação está prometida pelo Governo para o final de 2024, deve ser uma prioridade na implementação da estratégia necessária. Uma estratégia que garanta, por um lado, a modernização dos perímetros de rega antigos e que registam perdas de água na distribuição, como é o caso do PRM. Esta modernização é fundamental para o aumento da eficiência das infraestruturas de distribuição existentes, seja para a atividade agrícola ou para os sistemas urbanos, onde continuam a registar-se níveis de perda inaceitáveis.

Por outro lado, e muito importante, são necessárias novas fontes de água, em especial para as zonas mais afetadas pela seca nos últimos anos - o Litoral Alentejano e o Algarve -, nomeadamente com a interligação entre perímetros de rega e albufeiras, trazendo a água de onde ela abunda para onde ela escasseia.

E concretamente na região de Odemira, que projetos estão por concretizar, segundo os estudos apresentados sobre as ‘Novas fontes de água para o território’?

É urgente concretizar. Concretizar o que já está aprovado e que ainda não avançou. Concretizar os projetos de modernização previstos e com financiamento aprovado pelo PDR2020, concretizar a construção da nova Estação Elevatória na Barragem de Santa Clara, investimento também com financiamento do PDR2020 aprovado, mas que aguarda aprovação da Declaração de Relevante Interesse Público pela Assembleia Municipal de Odemira. Estas são verbas aprovadas que, se não forem aplicadas, se perderão, como continua a perder-se mais de 40% da água que sai da barragem de Santa Clara. Mas também é necessário avançar para a total pressurização do Perímetro de Rega, em especial do Bloco Norte.

Por outro lado, o território necessita de uma nova fonte de água complementar à Barragem de Santa Clara. No nosso entendimento, esta nova fonte de água deve ser definida no estudo ‘Interligação Alqueva – Mira: Reforço do abastecimento dos Perímetros de Rega do Mira com base em caudais derivados do sistema do Alqueva’. A interligação entre Alqueva e a barragem de Santa Clara, via Monte da Rocha, é a solução que, estruturalmente, melhor permite garantir a disponibilidade de água que o sudoeste alentejano necessita, e da forma mais eficiente, para todos setores: indústria, turismo, agricultura e, também, o setor doméstico.

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Apesar desses apoios que ainda não chegaram, os produtores da Lusomorango utilizam hoje cerca de 25% da água que usavam há apenas sete anos. Como?

Fruto dos investimentos consideráveis que têm realizado ao longo do tempo e que lhes têm permitido fazer uma gestão cada vez mais eficiente do uso da água. Os produtores não têm qualquer interesse em gastar água, pelo contrário. A água é também, além de um recurso vital à produção agrícola, um recurso financeiro.

A produção agrícola evoluiu imenso nos últimos dez anos e a tecnologia é hoje um motor da transformação do setor. Os produtores da Lusomorango não estão alheios a isto e as poupanças de água que têm conseguido são fruto desta consciência e do investimento em sistemas de rega inteligente e eficiente, assim como de sistemas de reaproveitamento e recirculação de águas, entre outros.

Quais devem ser as prioridades na atual visão estratégica para a indústria agroalimentar, e concretamente para o setor hortofrutícola?

A visão estratégica que defendemos para o setor visa eliminar as principais barreiras que limitam o crescimento e o desenvolvimento desta indústria. A água é um recurso fundamental que, atualmente, representa uma das barreiras mais significativas a este desenvolvimento, se não a mais importante de todas. Por outro lado, a redução da burocracia e de entropias entre os diferentes organismos do Estado e destes com os produtores e empresários são igualmente travões à prosperidade do setor. Ainda, temos a questão da mão-de-obra, como a da comunidade migrante, que é essencial à economia nacional. Não podemos correr o risco de perder esta capacidade produtiva, da qual dependem muitos setores de atividade em Portugal.

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Face ao atual contexto socioeconómico nacional e europeu, como projeta o potencial do setor de frutos vermelhos em 2025?

O consumidor é o motor de todos os mercados. Com os estilos de vida cada vez mais exigentes e com o cuidado cada vez maior com a saúde e o bem-estar, existe um crescente interesse pelos pequenos frutos devido às suas caraterísticas nutritivas. Esta é uma realidade em todo o mundo. O contexto socioeconómico, nacional e europeu, só vem reforçar a exigência dos consumidores que, reconhecendo valor ao produto, procuram mais e melhor qualidade. E é aqui que nos distinguimos: em Portugal, dispomos de condições ímpares para a produção de pequenos frutos, conferindo-lhes um sabor, qualidade e frescura inigualáveis e que são muito apreciados pelos mercados das mais variadas geografias.

A disponibilidade de água será a premissa vital, não só para os pequenos frutos, mas para toda a produção agrícola
As exportações no setor dos pequenos frutos cresceram 15,6% em 2023, o que representa 5,7% do total nacional realizado pela fileira Frutas, Legumes e Flores
A concretização do projeto ‘Água que Une’ deve ser uma prioridade na implementação da estratégia que garanta a modernização dos perímetros de rega antigos e novas fontes de água
A tecnologia é hoje um motor da transformação do setor
A burocracia entre os diferentes organismos do Estado e destes com os produtores e empresários é um travão à prosperidade do setor

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