A 11.ª edição das OLIVUM Talks decorreu na cidade de Beja, e reuniu mais de 300 profissionais e especialistas para discutir temas da atualidade, o futuro e os desafios do setor.
O encontro organizado pela Associação de Olivicultores e Lagares de Portugal contou com dois painéis de discussão centrados nas tendências de preço e consumo, e na valorização de subprodutos.
Francisco Gomes da Silva, diretor-geral da Agroges, foi o responsável pelo arranque do primeiro painel, no qual destacou a redução do consumo de azeite na União Europeia - na ordem dos 22% - na campanha 2023/24 quando comparado com o período homólogo.
Apesar dessa realidade, Mariana Matos, secretária-geral da Casa do Azeite, garantiu que o consumidor não abandonou a categoria, mas que é fundamental desenvolver estratégias que assegurem a diferenciação do setor, não só a nível nacional como internacional. “O setor tem um acordo firmado entre todas as estruturas, mas quer no caso de Portugal, quer no caso de Espanha, ainda não conseguimos envolver o Estado na sua missão que passa por operacionalizar essa estrutura. Assim, é necessária uma colaboração estreita com o Estado, criar as melhores condições de produção e potenciar a imagem do azeite português no mercado externo”, referiu Mariana Matos.
“Espanha prevê aumentar a produção de forma significativa, ao contrário de Itália, que apresenta uma quebra na produção. Em Portugal, as estimativas de produção para a campanha que arrancou revelam não compensar a queda de stock nestes dois anos. Arrisco-me a dizer que não estão criadas as condições para um ajustamento do mercado em baixa”, comentou Francisco Gomes da Silva, em relação às previsões da atual campanha, que acaba de se iniciar.
No que respeita ao segundo painel, Juan António Palomino, chefe de departamento de tecnologia do azeite e meio-ambiente do Conselho Oleícola Internacional, dirigiu uma apresentação onde destacou a importância do aproveitamento do bagaço de azeitona e valorização do caroço de azeitona, cuja realidade em Espanha é contrária à de Portugal.
Quando questionada sobre o facto de, em Portugal, o caroço de azeitona ser considerado um resíduo, Sílvia Ricardo, da Agência Portuguesa do Ambiente, esclareceu que, apesar de em Espanha ser considerada uma biomassa, Portugal tem uma visão mais restritiva sobre o tema. “Recordamos que há sinergias que podem ser feitas como, por exemplo, com a indústria de agropecuária, para a produção de gases renováveis e fertilizante”, destacou a responsável.
No entanto, o setor continua em desacordo com esta visão, tal como foi explicado pelos especialistas que participaram nesta mesa-redonda, Juan António Palomino e José La Cal Herrera, uma vez que a classificação do caroço de azeitona como resíduo não permite trazer valor acrescentado a este produto. Pela sua grande capacidade calorífica, deveria ser valorizado como subproduto para fonte energética alternativa, uma vez que apresenta uma grande procura no mercado nacional e internacional, o que contribuiria para as exportações Portuguesas.
O encontro contou ainda com uma intervenção de Salvador Malheiro, presidente da Comissão de Ambiente e Energia, que sublinhou a importância do reaproveitamento de subprodutos, para dar resposta à economia circular, e falou da aposta nas energias renováveis e nos bicombustíveis, bem como na criação de políticas públicas assentes em investigação.
Neste encontro, a OLIVUM assinalou ainda a parceria com o Instituto Politécnico de Beja, na criação da Pós-Graduação em Gestão Sustentável do Setor Olivícola, com a plantação de uma oliveira no Instituto.