Loic Oliveira, presidente da Lusomorango
25/07/2024Os produtores da Lusomorango utilizam hoje cerca de 25% da água que usavam há apenas sete anos. Esta redução impressionante foi conseguida graças ao esforço e investimento dos produtores em sistemas de rega e de produção cada vez mais eficientes e sustentáveis.
Com 86 milhões de euros de faturação em 2023 (e no bom caminho para chegar aos 90 milhões em 2024), a Lusomorango é a maior Organização de Produtores (OP) nacional do setor das frutas e legumes, em volume de negócios, e dedica-se à produção e comercialização de framboesa, amora, mirtilo e morango.
Agregando cerca de quarenta produtores, maioritariamente situados em Odemira, mas também presentes em Santarém e no Algarve, a Lusomorango ambiciona ser a organização de produtores de referência, quer do ponto de vista da sustentabilidade ambiental e social da sua produção, quer do trabalho que tem feito para remunerar melhor os associados e produtores.
Os resultados atingidos pela Lusomorango, que representam sensivelmente um terço de todo o mercado nacional de frutos vermelhos, têm sido possíveis porque, ao longo dos últimos anos, a sustentabilidade tem feito parte do negócio e sido encarada como uma oportunidade efetiva de melhoria de toda a operação ao longo de toda a sua cadeia de valor.
Produzir os melhores frutos, maximizando a competitividade dos nossos produtores e promovendo o bem-estar dos trabalhadores, através da agregação da oferta e da valorização justa da produção, é um caminho de melhoria contínua, que requer foco, determinação e apoio público, porque os desafios são vários e consideráveis.
O momento em que, há apenas meia dúzia de anos, estabelecemos uma parceria com o Centro de Estudos Aplicados da Universidade Católica Portuguesa representou um ponto importante de melhoria nesse caminho que está ainda a ser percorrido. Através da iniciativa ‘Visão Estratégica para o Agroalimentar – Conhecer para Decidir, Planear para Agir’, que tem como objetivo refletir e produzir conhecimento para um setor agroalimentar nacional mais sustentável, inovador e competitivo, foi dado um novo ímpeto à nossa missão. Esta aliança com a academia permitiu impulsionar um ciclo de mudança, em curso, e dar maior corpo e solidez à ação da Lusomorango num tempo de enormes e complexos desafios.
De entre esses desafios, ressaltam os temas da água e das pessoas, dois ingredientes essenciais na receita da sustentabilidade que estamos a seguir e que está já a produzir resultados, em relação aos quais nos move a ambição e vontade de fazer ainda mais e ainda melhor.
No desafio da água, que foi o tema central do nosso Colóquio anual, aplauso para a criação, por parte do Governo, do grupo de trabalho “Água que Une”, com o objetivo de desenvolver uma estratégia de planeamento da água que promova a sustentabilidade dos recursos hídricos, garantindo o abastecimento de água e a viabilidade dos setores económicos. Apesar de ser composto apenas por entidades públicas (incluir privados poderia ser uma oportunidade), este passo é importante para o futuro dos pequenos frutos, em especial na região de Odemira, que se debate com desafios quanto à disponibilidade, mas sobretudo, quanto à gestão do recurso água.
É na gestão dos recursos hídricos, e no conjunto de investimentos que têm que ser feitos, a curto e a longo-prazos, que reside nesta matéria o principal desafio que enfrentamos. Os produtores da Lusomorango utilizam hoje cerca de 25% da água que usavam há apenas sete anos. Esta redução impressionante foi conseguida graças ao esforço e investimento dos produtores em sistemas de rega e de produção cada vez mais eficientes e sustentáveis. Mas estamos apostados em fazer mais e melhor.
Criámos, com o INIAV - Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, a Driscoll's e a Maravilha Farms, o Centro de Investigação para a Sustentabilidade, dedicado à investigação e demonstração de práticas agrícolas inovadoras com vista à produção de conhecimento científico indispensável a uma agricultura mais sustentável.
As linhas de investigação e ensaios que estão em desenvolvimento no Centro visam estudar e compreender o uso mais eficiente da água nas produções agrícolas, bem como a produtividade das plantas e a sua capacidade de resistência a adversidades, como as decorrentes das alterações climáticas, além das naturais ancestralmente presentes na natureza (como as pragas).
Os trabalhadores migrantes são essenciais para o presente e futuro da região e do país e para vários setores de atividade, desde a construção, restauração, hotelaria, serviços, indústria e agricultura. É necessário que trabalhemos todos, empresas, autarquias, organismos da administração central e governo, para que se melhorem os processos e se criem as condições adequadas para que estas mulheres e homens continuem a dar o seu contributo à nossa economia como cidadãos realizados e plenamente integrados e respeitados.
Produzir alimentos de qualidade, no respeito pela natureza e pela biodiversidade, gerindo adequadamente a escassez de recursos existentes, e no respeito também pela dimensão humana, é um desafio que precisa de apoio e de maior acompanhamento público. Com uma visão integrada do território, a agricultura tem futuro. Uma agricultura geradora de riqueza, atrativa como negócio e como investimento, uma agricultura que fixa população no território, que é fator de desenvolvimento e de integração, uma agricultura que é tecnológica e que é motivo de orgulho e de exemplo. É isto que nos move. Com diálogo, com sentido de compromisso, com espírito de parceria. Com conhecimento, com ciência, com tecnologia. E, sobretudo, com um grande sentido de responsabilidade.