Jorge Neves, presidente da ANPROMIS, e José Luis Romeo, presidente da AGPME, acompanhados pelo presidente da CAP, Álvaro Mendonça e Moura, e outros participantes.
O milho é uma das principais culturas de regadio na Península Ibérica, ocupando uma área que ronda os 650 mil hectares. Durante o evento, organizado pela Associação Nacional dos Produtores de Milho e Sorgo de Portugal (ANPROMIS) e pela Associação Geral dos Produtores de Milho de Espanha (AGPME), os especialistas defenderam que esta cultura contribui para criar emprego, gerar desenvolvimento socioeconómico e fixar a população no território, reafirmando a sua importância na agricultura de regadio do Sul da Europa.
Integrando dois dias de conferências dedicadas aos desafios e oportunidades do milho, com destaque para a questão da água, o 3.°Congresso Ibérico do Milho “constituiu mais um passo muito relevante para a criação de uma plataforma de diálogo, partilha de conhecimento e defesa conjunta dos interesses dos produtores de milho portugueses e espanhóis, tanto nas instâncias nacionais como nas europeias”, conclui a organização.
À margem do congresso, o presidente da ANPROMIS sublinhou que "numa altura em que a contestação dos agricultores a nível europeu é cada vez mais audível, importa a Comissão Europeia repensar rapidamente a sua Política Agrícola Comum, ajustando-a à realidade dos nossos agricultores, sob pena de a nossa competitividade ficar, irremediavelmente, colocada em causa”. Na opinião de Jorge Neves, “de entre os diversos temas abordados não podemos deixar de destacar a problemática da água. Portugal e Espanha têm a obrigação de fazer um lobby ibérico na defesa do aumento do armazenamento deste recurso, sem dogmas nem fundamentalismos”.
Já José Luis Romeo, presidente da AGPME, corrobora, em declarações à Agriterra, que “a organização conjunta deste congresso é muito relevante, porque Portugal e Espanha têm um conjunto de problemas em comum. A nossa latitude exige que as nossas sementes sejam diferentes das usadas no norte da Europa, mas também temos os mesmos problemas de infestantes, de insetos e os problemas derivados da climatologia especial da região, como a seca, o que faz da água um dos temas principais que une estes dois países”. Para o presidente da associação espanhola, “estas manifestações dos agricultores são um grito que esperamos que seja ouvido em Bruxelas para uma revisão da PAC”.
Clara Aguilera, eurodeputada da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas Europeus (Espanha), afirmou que “a política da água é essencial na próxima legislatura. As infraestruturas hídricas estão a tornar-se importantes”. Sublinhando que “iniciámos uma agenda verde inexplicável”, a responsável apelou ao histórico de sucesso entre Portugal e Espanha na defesa dos seus interesses, sugerindo que o exemplo da eletricidade é um modelo passível de transpor para a gestão da água.
Os eurodeputados Clara Aguilera, Juan Ignacio Zoido, Nuno Melo e Sandra Pereira (ao centro).
Segundo Juan Ignacio Zoido, eurodeputado do Partido Popular Europeu (Espanha), “é preciso desenvolver uma infraestrutura hídrica moderna que permita travar o impacto das alterações climáticas”. Na sua perspetiva, é urgente aproveitar métodos como “a dessalinização e a reutilização de água”.
Nuno Melo, eurodeputado do Partido Popular Europeu (Portugal), defendeu, por sua vez, que “os agricultores são ambientalistas racionais” e que Bruxelas tem uma posição muito dogmática face às medidas ambientais. Lamentando o “empobrecimento paulatino da agricultura [nacional] nos últimos anos”, Nuno Melo acredita que deve existir “uma discriminação positiva para o sul da Europa e, em Portugal, deve, por fim, existir uma política de transvases”. Como conclui, “a água deve ser uma prioridade para qualquer governo”.
A eurodeputada da Esquerda Europeia (Portugal) Sandra Pereira concorda com esta prioridade, salientando que “há infraestruturas que são estratégicas e não se percebe porque não saem do papel”. A responsável refere-se “a obras de apoio ao regadio e à criação de estruturas que permitam a reutilização de água”.
No rescaldo do evento, o presidente da ANPROMIS congratulou-se com a reunião, em Lisboa, de 700 participantes, entre os quais uma delegação espanhola, num total de 100 participantes, que debateram a cultura ibérica do milho. Jorge Neves destacou, ainda, a presença de 150 alunos e docentes de instituições de ensino superior agrícola, “num claro sinal do forte empenho que a ANPROMIS tem tido em aproximar o mundo académico e os seus estudantes, os futuros agricultores e técnicos, da dinâmica empresarial que representamos".
O 3°Congresso Ibérico do Milho reuniu 700 participantes em Lisboa.
Conclusões do 3° Congresso Ibérico do Milho
Fonte: 3°Congresso Ibérico do Milho