“A cada dia que passa estamos à nossa mercê, sem que o Ministério nos defenda devidamente, junto do Governo de Portugal, nem junto da União Europeia”.
A Associação dos Jovens Agricultores de Portugal (AJAP) está 100% solidária com os diferentes movimentos de agricultores portugueses que decidiram manifestar-se em marchas lentas, bloqueando estradas no país num protesto que tem como objetivo denunciar os grandes problemas que afetam as suas vidas e as suas explorações.
De ano para ano, os agricultores portugueses veem os seus rendimentos a diminuir, os custos dos fatores de produção continuam permanentemente a subir, os apoios nacionais e da União Europeia vão diminuindo e os preços a que vendemos as nossas produções também não são os melhores, com os compradores sempre a tentar esmagar os preços, e pasme-se, nas prateleiras dos supermercados assistimos, por vezes, a margens entre 100% e 200%, penalizando a produção e os consumidores.
Estas são razões mais do que suficientes para o descontentamento que se vem alargando ao longo dos últimos anos, e esta é uma revolta que faz todo o sentido por parte dos agricultores. Para a AJAP, para além da solidariedade já manifestada, lamentamos que num país que não tem tantos recursos como isso, a agricultura não tenha uma atenção especial por parte dos governantes e partidos políticos.
A comunicação do IFAP sobre os atrasos nos pagamentos, e nomeadamente na redução do valor a pagar para a agricultura biológica e produção integrada, foi a pedra de toque para esta enorme revolta.
Ontem, o Governo veio dizer, em conferência de imprensa, que está ao lado dos agricultores e aparentemente resolveu parte do problema. Acreditamos na palavra dos governantes, mesmo com um Governo em gestão, e em pré-campanha eleitoral.
A AJAP exige, por isso, aos partidos políticos que se candidatam às próximas legislativas, que digam o que querem para a agricultura nacional, que representa mais de 80% do território. Falamos de um setor que aumentou a sua autossuficiência alimentar, que exporta e produz alimentos de excelente qualidade, elogiado em inúmeros mercados internacionais, e em Portugal não somos valorizados pelo Governo nem defendidos pelas oposições.
É lamentável que assim seja, e os agricultores estão extremamente revoltados, e com razão. Os territórios rurais têm sido constantemente marginalizados pelos últimos Governos de Portugal, cada vez mais desertificados e abandonados.
Os diferentes partidos políticos têm de ser claros em relação às áreas subdivididas do presente Ministério da Agricultura, quer no Ambiente quer na Coesão Territorial. A juntar a isto, temos de saber se concordam com o desmantelamento das Direções Regionais de Agricultura e Pescas (DRAP’s), agora incorporadas nas Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR).
Queremos saber o que pensam os partidos sobre o regadio em Portugal, pois são lamentáveis estas restrições tomadas em janeiro, no consumo de água à população e no regadio agrícola em toda a região do Algarve. Onde está o planeamento, a estratégia, a coerência e onde estão as verdadeiras políticas para o setor agrícola nacional?
Esperemos que estes protestos que hoje estão a acontecer no País tenham o efeito desejado, mas, caso não seja suficiente, a AJAP está disponível, existindo um consenso alargado com os agricultores, as suas associações locais e regionais e até outras confederações, para ir mais longe, nomeadamente, a Lisboa.
A nossa proposta, aos agricultores e às entidades referidas, passa por fazer um protesto em marcha lenta nas principais artérias da capital, apresentar o nosso caderno reivindicativo junto da Assembleia da República e, depois, de forma conjunta ou isolada, queremos ser ouvidos por representantes do Governo e pelos diferentes partidos políticos, de forma a perceber qual o compromisso de todos com os agricultores, com a agricultura nacional e com os territórios rurais.