Modernizar a cereja
Alexandra Costa31/08/2023
Em pouco mais de uma década o Fundão conseguiu aumentar a área de produção, a produtividade por hectare e criar uma marca. Com isto incrementou a margem para os produtores, que reinvestiram no negócio, nomeadamente na aquisição de tecnologia e na aposta em novas variedades.
Há muito tempo que o Fundão é conhecido por ser uma região agrícola, com enfoque nas conhecidas cerejas. Mas, nos últimos anos – há cerca de uma década – que o município trabalha não só para alavancar essa área dotando a região de tecnologia, como para, mais do que aumentar a produção, que também é importante, incrementar o valor pago aos produtores.
Como lembra Paulo Fernandes, presidente da Câmara Municipal do Fundão, todo o trabalho começou há cerca de 16 anos, quando a marca se começou a consolidar. Nessa altura a cereja era paga – aos produtores – a cerca de (valor médio) de 1,30 euros. No ano passado o valor rondou os 3,5 euros. Algo que o autarca considera ser uma mudança “brutal” do modelo de negócio da cereja. Principalmente porque hoje a aposta passa por consciencializar produtores e consumidores da importância da responsabilidade social, do comércio justo e da necessidade de apoiar a economia local. Resultado: hoje o agronegócio – diga-se o setor primário e de transformação – vale, no concelho, mais de 100 milhões de euros/ano, com a cereja a valer cerca de 20% deste valor.
Esta foi, aliás, uma mudança essencial para o Fundão. O alavancar o setor com a tecnologia. Para Paulo Fernandes foi extremamente importante a modernização dos pomares. Como lembra o autarca, a partir do momento em que se conseguiu aumentar as margens do produtor este pode reinvestir no seu negócio. reinvestimento que passou, entre outras medidas pela seleção de melhores variedades, pela reconversão de alguns pomares antigos para campos com maior ordenação, uma cultura de maior precisão. Esta foi, para o responsável, a primeira grande transformação da região. Medidas que permitiram que, com a mesma dimensão os produtores conseguissem não só ter mais produção como também de mais valor.
A prova é que há cerca de 15 anos a produção média por hectare rondava as 6/7 toneladas e agora superam as 10 toneladas. Mais do que a área – que também aumentou (cerca de 10%) – aumentou a produtividade.
Mas tão ou mais importante que estas duas variáveis é a qualidade do fruto. Sobre isto Paulo Fernandes lembra que há duas tendências: a das polpas mais moles e as mais rijas. O que o Fundão tem feito é apostar, cada vez mais, nas polpas mais rijas. Entre outros motivos por que são mais resistentes a potenciais “ameaças”, e “a sua textura é bastante mais agradável”.
A par de um maior investimento na produção, com novas variedades e uma agricultura de maior precisão houve também todo um cuidado ao criar uma marca que pudesse trazer mais valor para as cerejas do Fundão.
Hoje a capacidade potencial produtiva ronda as 7.000 toneladas, o que termos comerciais significa, segundo Paulo Fernandes, cerca de 4.500 a 5.000 toneladas de cereja disponíveis. “O que representa cerca de 60% da cereja nacional”, sendo que os dados indicam que a área está a crescer cerca de 10% ao ano.
Uma nova geração de agricultores
A esta mudança não será alheio o facto de a agricultura se estar a rejuvenescer. Se antes a idade média rondava os 60 anos, hoje já há muitas pessoas “na casa dos 40 e abaixo dessa idade” que está a apostar no setor. Muitos deles “filhos ou netos de agricultores” que estão a dar continuidade ao negócio, pegando nos terrenos e modernizando-os. A par disso há também que contar com as pessoas que não eram do setor, mas que decidiram fazer formação e investir na área.
