10ª Conferência Nacional de Jovens Agricultores
Da esquerda para a direita: Nuno Russo, vereador da Câmara de Santarém; Pedro do Carmo, deputado e presidente da Comissão de Agricultura da Assembleia da República; Luís Mira, secretário geral da CAP; Nuno Melo, presidente do CDS-PP; Pedro Santos, diretor geral da Consulai; José Diogo Albuquerque, CEO do Agroportal e, de pé, Álvaro Mendonça e Moura, presidente da CAP
Com o habitual destaque entre um programa repleto de eventos dedicado aos grandes desafios e oportunidades do setor agrícola nacional, a Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) dinamizou inúmeras conferências e iniciativas ao longo dos nove dias em que decorreu a FNA 23 – Feira Nacional de Agricultura/Feira do Ribatejo.
Uma delas foi a 10ª Conferência Nacional de Jovens Agricultores, que reuniu em Santarém, a 5 de junho, um conjunto de personalidades e especialistas do setor num debate sobre o futuro dos jovens agricultores, integrado no ciclo “Conversas de Agricultura”. O evento foi palco do lançamento do 10°Concurso Nacional de Jovens Agricultores, que já tem candidaturas abertas.
A competição, organizada pela CAP, decorrerá até ao dia 1 de setembro, e o vencedor será anunciado a 5 de setembro na Agroglobal, a maior feira agrícola ibérica dedicada aos profissionais, que terá lugar também no CNEMA. Referência para os jovens que querem seguir a via empresarial, o Concurso Nacional de Jovens Agricultores reconhece e dá visibilidade aos melhores projetos, visando ainda divulgar a partilha de boas práticas associadas a projetos de investimento e envolver entidades públicas e privadas na promoção da importância dos jovens agricultores.
O vencedor conquista um passe direto para representar Portugal no Congresso e apresentar o seu projeto no Concurso Europeu de Jovens, que se realiza anualmente sob o patrocínio do Parlamento Europeu. De sublinhar que Portugal venceu três vezes esta competição, revelando a nível europeu “o dinamismo, inovação e qualidade” da sua agricultura.
Os bloqueios à transformação geracional
Num dia que, segundo o CNEMA, “registou uma grande moldura humana”, pela presença de vários líderes políticos e pelo lançamento do concurso da CAP dirigido aos jovens, Nuno Melo participou na 10ª Conferência de Jovens Agricultores. À margem do evento, o eurodeputado e presidente do CDS-PP defendeu, em entrevista exclusiva à Agriterra, que “o que falha no PEPAC - Plano Estratégico da PAC 2023-2027, “são medidas em concreto que sejam percetíveis” e também “direcionadas aos jovens agricultores”.
Já no âmbito da mesa redonda “Os desafios para os jovens agricultores no novo PEPAC”, Nuno Melo sublinhou o imperativo de “resolver o problema estrutural da agricultura em Portugal”, criticando a “ausência de regulamentação que permita que os agricultores se candidatem a projetos”, bem como a “situação das Direções Regionais de Agricultura”.
A autonomia alimentar “é um dos melhores projetos europeus”, defende, mas “o seu sucesso não é garantido se não houverem estímulos à renovação geracional do setor”, alerta o eurodeputado, que dinamiza diversas iniciativas de divulgação dos produtos agrícolas nacionais em Bruxelas.
Integrado na 10ª Conferência dos Jovens Agricultores, este debate contou ainda, entre outros oradores, com a presença de Luís Mira, secretário-geral da CAP. Na sua intervenção, o responsável criticou o PEPAC, afirmando que o documento “não tem só uns erros”, mas antes, “é um erro”.
A taxa de execução do PDR [Programa de Desenvolvimento Rural] é uma das mais baixas e o PEPAC não tem em conta as necessidades dos jovens, porque, como a CAP vem pedindo ao Ministério da Agricultura, “é preciso ouvir os jovens”. Luís Mira concluiu que “os jovens agricultores deveriam ter apoio técnico e económico por parte do Ministério”, lamentando que mesmo quando há verbas “não haja vontade”.
Numa mesa-redonda que analisou os constrangimentos que estes jovens enfrentam relativamente ao acesso à terra (seja para compra ou arrendamento); acesso ao crédito; falta de projetos de apoio ao investimento; aos desequilíbrios entre produção e distribuição; e à premência de adotar o setor como estratégico na centralidade política, as ideias de que a conservação da biodiversidade é o único garante da resiliência financeira, e os créditos de carbono são um ativo que valoriza e “que as pessoas querem perto de casa e longe do greenwashing” foram igualmente abordadas pelo painel constituído por Nuno Melo, Luís Mira, Pedro do Carmo, presidente da Comissão de Agricultura da Assembleia da República, Nuno Russo, vereador da Câmara Municipal de Santarém e Pedro Santos, da Consulai.
Este último recordou que, num setor que representa apenas 1,2% do PIB e onde o emprego diminuiu de 11,5%, em 2010, para 5,3%, em 2020, “há cada vez menos jovens: apenas 1,9% dos agricultores têm menos de 35 anos”.
Como comenta Nuno Melo à Agriterra, sem “mecanismos políticos que ajudem a fixar os jovens no interior”, é difícil “criar estímulos para que a agricultura seja uma opção de vida”. Ao problema geracional acresce o problema político, que se prende “com a assunção pelos governos de que a agricultura é, por si mesma, estrategicamente uma prioridade”. Falta reconhecer “a capacidade decisória do setor”, conclui o líder centrista.