Os controladores de nivel
Informação profissional para a agricultura portuguesa

"Os fabricantes têm uma grande responsabilidade não só de pôr à disposição dos agricultores ferramentas de otimização, mas também de os ajudar a adotá-las"

Entrevista a Clara Campuzano, Incubation Market Lead da Yara para o sul da Europa

Alejandro de Vega27/02/2023

A inovação associada à nutrição vegetal e às ferramentas da agricultura digital que ajudam a alcançar uma maior eficiência nesta tarefa é o núcleo do trabalho que Clara Campuzano desenvolve na empresa norueguesa e que detalha em entrevista concedida em exclusivo à Interempresas Media.

Clara Campuzano
Clara Campuzano

Para si, o que significa o conceito de “agricultura digital”?

O conceito de "agricultura digital" deve ser entendido como uma ferramenta para transformar a agricultura tradicional num setor mais eficiente, sustentável e rentável.

As capacidades que desenvolvemos no nosso portefólio de agricultura digital ajudam os agricultores durante toda a campanha. Os agricultores tomam permanentemente decisões sobre a nutrição das suas culturas e as ferramentas que colocamos à disposição dos mesmos ajudam a que cada uma dessas decisões seja mais consciente, rigorosa e eficiente.

Acredita que a expansão deste novo modelo de produção, baseado nos dados e na tecnologia, depende, em grande medida, dos esforços efetuados pelas empresas fabricantes de fatores de produção que fazem parte do ecossistema agrícola?

Os fabricantes têm uma grande responsabilidade não só de pôr à disposição dos agricultores ferramentas de otimização, mas também de os ajudar a adotá-las. A adoção de tecnologia e ferramentas digitais representa um desafio para os agricultores. Habitualmente, sentem desconfiança no momento de implementar ferramentas digitais no seu dia a dia e este ceticismo é lógico, tendo em conta todos os fatores imprevisíveis e incontroláveis que os afetam.

É por isso que as soluções que desenvolvemos, baseadas em dados, devem ter em conta o contexto: conhecimento sobre o rendimento das culturas, as melhores práticas agronómicas, flutuações no mercado... A combinação dos dados com a interpretação do que realmente acontece no campo faz com que possamos proporcionar aos agricultores conhecimento para tomarem decisões rigorosas e eficazes, nas quais confiem, ao longo da campanha.

Como é que a Yara pode contribuir para o desenvolvimento e aplicação de tecnologia entre os agricultores?

Desenvolvemos tecnologia para que seja utilizada, razão pela qual, na Yara dedicamos muito esforço a criar soluções adaptadas ao utilizador e que os incentive a utilizá-las, tratando de não os afastar ainda mais da tecnologia. Criamos ferramentas acessíveis e com esta premissa ajudamos a democratizar a utilização de soluções de agricultura digital, fazendo com que qualquer agricultor possa beneficiar disso, independentemente da dimensão da sua exploração. Esta acessibilidade também propicia a otimização dos seus fluxos de trabalho, a redução de custos, melhoria da colheita... Mediante uma experiência personalizada com recomendações feitas à medida.

Desenvolver ferramentas que os agricultores utilizem no seu dia a dia exige que se dedique muito esforço a ouvi-los. Recolher a opinião dos mesmos, compreendê-la e implementar alterações adaptadas a essas situações e problemas que nos transmitem é o que, em última análise, faz com que as soluções digitais se tornem numa parte essencial do seu dia a dia.

Que tipo de aplicações a empresa disponibiliza para aproveitar a informação e os dados gerados no terreno? O que é a ferramenta Atfarm, da Yara, e o que permite fazer?

Acabámos de lançar, no mercado espanhol, grande parte das funcionalidades que fazem parte da nossa proposta de valor com a Atfarm, que nasceu com a vocação de ajudar os agricultores nos seus grandes desafios e preocupações diárias. A Atfarm proporciona soluções para esses grandes desafios e podemos resumir as suas funções em 4 categorias:

Planificação: para os ajudar a planificar, de forma antecipada, e a preparar o respetivo plano de nutrição com recomendações totalmente adaptadas às necessidades dos seus campos, que têm em conta, inclusivamente, a análise do solo.

Ajustar: de forma a que possam adaptar esses planos às necessidades reais das culturas durante a campanha. Graças às nossas funcionalidades de fotoanálise, N-tester e N-uptake, asseguramos que a aplicação de azoto é eficiente e ajustada às necessidades reais.

Aplicar: A forma mais direta de ajudar os agricultores com os seus objetivos de sustentabilidade é ajudá-los a utilizar os recursos da forma mais eficiente possível. Com a Atfarm, os agricultores são capazes de criar mapas de aplicação variável para conseguir culturas mais homogéneas, melhorar a qualidade das colheitas por cada quilo de azoto e evitar a aplicação excessiva de azoto.

Controlar: A tecnologia de satélite permite aos utilizadores da Atfarm observar e monitorizar o estado das suas culturas e o desenvolvimento da biomassa, a partir de qualquer local, em poucos segundos. Além disso, as recomendações meteorológicas ajudam os utilizadores a planificar as tarefas de fertilização e pulverização com base nos momentos ideais do dia, em função de todas as variáveis climatéricas. Contamos com tecnologia única no mercado, em particular o nosso índice N-sensor, que mostra o desenvolvimento, inclusivamente em fases muito avançadas de crescimento.

Neste sentido, em que fases concretas da campanha considera que a digitalização pode fazer a maior diferença em relação à não utilização da tecnologia?

A Atfarm ajuda a que cada uma dessas etapas seja mais eficiente. Como vimos, as diferentes funcionalidades da Atfarm acompanham o agricultor durante toda a campanha, com planos de nutrição personalizados, recomendações concretas sobre quando fertilizar, pulverizar, como o fazer, em que quantidade e que zonas necessitam de maior atenção.

"A tendência dos últimos anos indica que estamos a aproximar-nos de um modelo de agricultura em que é necessário fazer uma utilização mais...

"A tendência dos últimos anos indica que estamos a aproximar-nos de um modelo de agricultura em que é necessário fazer uma utilização mais sustentável de todos os recursos utilizados, quer em termos de fertilização, produtos fitossanitários ou utilização da água".

Será que já atingimos um ponto de não retorno na agricultura no que diz respeito à dependência da tecnologia e dos sistemas de informação para sermos competitivos num contexto como o atual?

Talvez falar de um ponto de não retorno seja um pouco drástico. Mas é certo que, se queremos continuar a melhorar as nossas explorações e a aumentar a produção de alimentos para conseguir alimentar toda a população mundial, é necessário otimizar certos processos e a tecnologia ajuda-nos imenso.

Apesar dos rápidos avanços tecnológicos e do bom trabalho dos profissionais do campo, será possível cumprir os objetivos estabelecidos pela CE para os próximos anos, especialmente os relacionados com a redução drástica da adição de fertilizantes e fitossanitários na agricultura?

O cumprimento da nova legislação, em paralelo com uma maior exigência por parte do consumidor para saber como são produzidos os seus alimentos, vão servir de catalisadores para que a modernização do setor acelere comparativamente ao que aconteceria se a mudança ocorresse de forma orgânica.

A chave para enfrentar esta transformação será fornecer ao agricultor as ferramentas necessárias e acompanhá-lo nessa viagem, para que não se comprometam os rendimentos das colheitas e a rentabilidade da sua atividade.

Qual é a aposta da Yara na área dos bioestimulantes? Podem chegar a tornar-se uma solução alternativa à fertilização mineral em culturas extensivas, como os cereais de inverno ou o milho?

Os bioestimulantes não podem, de forma alguma, substituir um plano de fertilização convencional, de base mineral ou orgânica, devido às elevadas exigências nutricionais das culturas para atingir as elevadas produções a que estamos habituados.

No entanto, os bioestimulantes são o complemento ideal para um plano nutricional, visto que nos permitem melhorar o aproveitamento do mesmo e também aumentar o rendimento líquido das colheitas. Por outras palavras, com os bioestimulantes da Yara ajudamos a reduzir a diferença existente entre o rendimento potencial genético de uma cultura e o rendimento real, dando mais um passo em frente na nutrição das culturas. Especialmente em momentos de elevada necessidade metabólica da planta ou condições externas adversas, tais como frio ou seca, podem ser um grande aliado para todo o tipo de culturas, incluindo cereais e milho.

Que tipo de projetos relacionados com a fertilização de culturas e a digitalização está a Yara a desenvolver neste momento?

São muitas as iniciativas em que estamos envolvidos neste momento, mas já que falávamos de sustentabilidade, gostaria de destacar uma linha de trabalho estreitamente relacionada com a estratégia "Farm to Fork", que permitirá ajudar tanto o agricultor, como a indústria agroalimentar a descarbonizar a cadeia, melhorando a sustentabilidade das culturas. Para o conseguir, temos um ambicioso leque de soluções, desde aplicações digitais e bioestimulantes para que se faça uma utilização mais eficiente da fertilização, até ferramentas para uma melhor rastreabilidade e inovação no desenvolvimento de novos produtos, como podem ser os fertilizantes verdes.

Na área digital, o horizonte é trabalhar para conseguir uma maior conetividade com os agricultores e, em suma, dotá-los de ferramentas que lhes permitam uma maior otimização dos recursos, facilidade na gestão das suas explorações e uma maior rentabilidade dos seus negócios.

No entanto, todos estes projetos verão a luz a curto prazo e as novidades irão chegando em breve, pelo que vos convidamos a ficar atentos ao nosso website e às nossas redes sociais.

Quais podem ser as mudanças mais substanciais expetáveis no futuro da fertilização das culturas na Europa?

A tendência dos últimos anos indica que estamos a aproximar-nos de um modelo de agricultura em que é necessário fazer uma utilização mais sustentável de todos os recursos utilizados, quer em termos de fertilização, produtos fitossanitários ou utilização da água. Além disso, não só teremos de o realizar, como também teremos de ser capazes de proporcionar rastreabilidade ao longo do processo. Conceitos como pegada de carbono, pegada hídrica ou pegada ambiental serão cada vez mais relevantes.

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