Talleres Filsa, S.A.U.
Informação profissional para a agricultura portuguesa

A tecnologia ao serviço da gestão (eficiente) da água

Alexandra Costa21/10/2022
Sensores, drones, recolha e análise de dados. As ferramentas já existem e, quando utilizadas, permitem fazer uma gestão eficaz da distribuição de água e evitar o seu desperdício. Mas todo o investimento dos produtores será desperdiçado se não houver uma modernização das infraestruturas de distribuição, algumas delas com mais de 50 anos.
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Nenhum ser vivo sobrevive sem água. E numa altura em que o País atravessa uma seca severa – inclusive considerada como a mais severa da década – a gestão da água adquire uma importância ainda mais primordial. E é aqui que entra todo um conjunto de técnicas de regadio que ajudam os agricultores a aproveitarem, ao máximo, os benefícios deste bem que é escasso e finito.

Hoje, a utilização de equipamentos como sensores, ou o uso de drones, quando em conjunto com técnicas analíticas dão informações essenciais aos agricultores, que lhes permitem colocar a quantidade certa de água, no momento ideal e na cultura correta.

Veja-se o caso da Lusomorango. Como explica Luís Pinheiro, presidente da Lusomorango, a organização tem recorrido a sistemas de gestão eficiente da água utilizando sensores que permitem medir indicadores como humidade, pH, eletrocondutividade, que são depois analisados por software que consolidam estes dados com os dados meteorológicos e que permitem adequar a quantidade de água necessária evitando perdas ou excessos indesejáveis para as plantas. Qual a vantagem? “Estes dados, esta informação, é fundamental para o uso mais sustentável do recurso água, uma vez que permite uma rega precisa e eficiente dando às plantas o que elas precisam naquele exato momento, nem mais, nem menos”, afirma.

O certo é que hoje todos os produtores da Lusomorango utilizam o sistema de rega gota-a-gota na produção dos pequenos frutos e estão também a recolher e a reutilizar a água resultante da drenagem e água não consumida pelas plantas, reintroduzindo-a no sistema de rega conseguindo uma maior otimização deste recurso.

Já a Veracruz aliou-se aos laboratórios AGQ para trazer para Portugal a sua tecnologia. O projeto-piloto - o AQUA4D - termina no final deste ano e Gustavo Ramos, diretor de operações agrícolas da Veracruz, afirma estar muito satisfeito com os resultados obtidos até agora. De tal forma que a empresa pretende expandir a solução para as suas outras culturas, presentes e futuras. Isto porque a tecnologia, pela reorganização das moléculas de água, permite utilizar até 20% a menos de água numa plantação. “O objetivo é que a água se infiltre melhor no solo e fique na região das raízes”, ou seja, os 20% a menos não é menos água dada à planta, mas sim menos 20% de perdas, seja por infiltração, por escorrimento ou uma outra razão.

A parceria tenta perceber como é possível diminuir a utilização de adubos e utilizá-los de forma mais eficaz e eficiente. Os dados são recolhidos por sensores instalados no solo e que, de 'x em x tempo', são manualmente recolhidos.

“A ideia é que só reguemos aquilo que a planta precisa. Nem mais nem menos”, afirma Gustavo Ramos. E com isso a empresa consegue assegurar a sustentabilidade não só ambiental como também do negócio.

Tendo em conta a importância da água para uma saudável agricultura, há que “controlar a quantidade de água que colocamos nas plantas”. Como é que se consegue isso? Segundo o diretor de operações agrícolas da Veracruz, tudo começa por ter um sistema de rega bem desenhado e implementado, onde se saiba exatamente a quantidade de água que entra e que sai. “Com isso, conseguimos saber não só o que entra no que diz respeito a água, mas também aos fertilizantes que vão nessa água”, refere Gustavo Ramos, acrescentando que o sistema também permite identificar grandes fugas. Ou seja, não só conseguem evitar o desperdício ao identificar as fugas, como têm um maior controlo da quantidade de água que é colocada nas culturas.

A par disto, a Veracruz utiliza um conjunto de sondas que dão dados sobre o nível de humidade, o que permite identificar o quão saturado está o solo de água (ou não). Por outras palavras, estas informações permitem saber qual o momento adequado para a rega. Se o solo está húmido não faz qualquer sentido estar a acrescentar água. Pode até ser contraproducente. Porque se a seca é prejudicial às plantas o mesmo acontece com o excesso de água.

A par disto a empresa também realiza, de 15 em 15 dias, voos com drones. Durante esses voos é possível identificar pequenas fugas de água. “Isso significa que enquanto grandes fugas de água, nas tubulações maiores, a casa de rega consegue identificar as pequenas fugas pelo voo de drone”. A par do stress das plantas. Que também são um bom indício de que algo não está bem. Sendo que um dos stress's possível é precisamente o excesso ou a falta de água. E a identificação é possível porque todas as árvores estão georeferenciadas. Só no Fundão são mais de 500 mil árvores.

Sempre que o drone deteta um nível de stress, “os nossos especialistas vão para o campo” para tentar descobrir a origem do problema. Porque pode ser stress por falta de água, por mancha de solo, praga, fungo... “Se não fosse o drone, numa área de 1.300 hectares, são várias as áreas nas quais eu não passo diariamente”, afirma o responsável.

Às vezes acontece duas fileiras mostrarem stress quando à sua volta nada se passa. E, ao ir ao terreno, verifica-se um estrangulamento do tubo gotejador que impedia a passagem da água.

Esta preocupação com a água ocorre em todas as culturas, emboras algumas, é claro, sejam mais exigentes que outras. Como lembra Luís Pinheiro, é importante que estejamos atentos à cada vez maior necessidade de produzir mais com menos recursos, garantindo sempre a qualidade dos alimentos produzidos, otimizar o rácio de água por kg produzido, apostando na sustentabilidade ambiental e económica e adequando a preparando a produção para responder às alterações climáticas.

No caso específico dos pequenos frutos produzidos pelos agricultores da Lusomorango, acrescenta, para que se consiga garantir a elevada qualidade que os carateriza, temos de disponibilizar às plantas as dotações corretas e precisas que elas necessitam. Falta e excesso de água prejudicam a qualidade e durabilidade da fruta. A informação em tempo real e as previsões das dotações necessárias, estimadas com as previsões meteorológicas, são ferramentas cruciais para o sucesso da produção.

No caso específico da organização a técnica mais utilizada é a rega gota-a-gota. Afinal, a “gestão eficiente da água tem, também, um impacto económico muito positivo”, refere Luís Pinheiro, acrescentando que utilizar a quantidade de água certa, no momento certo e sem desperdícios permite produzir mais e com melhor qualidade. “As ferramentas de gestão inteligente de rega, que começámos a utilizar em 2009, vieram disponibilizar dados em tempo real e mais fidedignos, que nos permitem continuar a evoluir para uma rega ainda mais precisa, eficiente e sustentável, melhorando a qualidade dos frutos produzidos e permitindo que os mesmos permaneçam em excelentes condições de consumo durante mais tempo”, constata.

Mas só isso não chega. Há que estar constantemente a inovar. E é por isso mesmo que a Lusomorango tenciona, ao abrigo do Programa Operacional, reforçar o investimento I&D para introduzir novas tecnologias, e para aperfeiçoar métricas de medição de consumos.

“O passado recente mostra-nos que a ciência e a tecnologia podem ter um contributo determinante para uma evolução e um uso mais eficiente deste recurso essencial para a produção de alimentos. Esta é uma convicção da Lusomorango e uma das razões que nos levou a investir cada vez mais na pesquisa, investigação e desenvolvimento nesta área e em parceria com universidades e centros de conhecimento”, afirma o presidente da Lusomorango.

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O futuro do regadio

Com a gestão da água a ser cada vez mais determinante, espera-se que haja cada vez mais produtores a adotarem tecnologia de ponta. Seja através de sensores, drones... o importante é ter dados suficientes sobre as condições do solo e da nutrição da cultura por forma a proporcionar a quantidade certa de água no momento adequado.

Mas só isto não chega. Não basta as iniciativas dos produtores. Porque, como lembra Luís Pinheiro, o maior desafio da água em Portugal são as perdas que acontecem dentro dos próprios sistemas de distribuição e, sem agir efetivamente e com soluções estruturais neste sistema, será muito difícil, se não impossível, garantir a água que todos – não só a agricultura – precisamos.

A questão da gestão eficiente da água – e no caso da agricultura, o regadio – tem de ser encarada como um fator estratégico para o País. Portugal “tem condições climatéricas singulares que, se conjugadas com uma política de água assente numa gestão eficiente e em novas fontes de água – que permitam criar previsibilidade as empresas –, podem criar condições para que os agricultores possam continuar a investir para transformar o setor num dos mais modernos e resilientes e continuar a contribuir decisivamente para o desenvolvimento do país”, aponta o representante máximo da Lusomorango, que acrescenta que a maioria dos seus associados “exercem a sua atividade no Aproveitamento Hidroagrícola do Mira (AHM), onde as infraestruturas de distribuição necessitam de ser modernizadas a fim de evitarmos as perdas de água na ordem dos 30 a 40% que existem neste momento”.

Este é um problema geral, mas que, no caso da agricultura, tem um efeito ainda mais visível. “Estas infraestruturas têm mais de 50 anos e necessitam de uma intervenção estrutural que, não só as modernize como também adeque à realidade para que a rega seja, de facto, cada vez mais eficiente”. E quais são as consequências? Luís Pinheiro dá uma resposta imediata: os produtores podem ter sistemas de rega 100% eficientes, mas se a infraestrutura de distribuição não for, ela própria, eficiente então haverá sempre uma perda que deve ser anulada.

Uma situação que, infelizmente, não é exclusiva de uma ou outra região. “Portugal precisa de modernizar os perímetros de rega existentes e ligar o Norte ao Sul através da água. Barragens, charcas, reutilização e novas fontes de água, como a dessalinização, são fundamentais. O setor agroalimentar só é competitivo se tiver acesso ao regadio e é importante que tenhamos presente o impacto que o setor tem para a economia nacional, não só para responder ao consumo interno como para as exportações. Novas reservas de água ajudam na coesão do território, no combate ao despovoamento, na ocupação e desenvolvimento de territórios de baixa densidade, no combate à desertificação e às alterações climáticas, na renovação geracional e no desenvolvimento económico para múltiplos fins que floresce com a atividade agrícola”, constata Luís Pinheiro.

"Os agricultores portugueses têm vindo a fazer um forte investimento em tecnologia de rega"

Eduardo Oliveira e Sousa, Presidente da CAP, considera que os agricultores portugueses "têm vindo a fazer um forte investimento em tecnologia de rega, em prol de uma agricultura moderna, de precisão, mais sustentável, que procura responder aos desafios globais que se impõem, com destaque, naturalmente, para a gestão dos recursos hídricos".

"É a tecnologia que, com base em informação em tempo real, diz aos produtores quais as necessidades das plantas em termos de água, a partir de sistemas de rega programados e integrados com programas de previsão meteorológica e inteligência artificial. Hoje, em Portugal, já temos muitas dezenas de milhar de hectares regados com recurso a este tipo de tecnologias. Por exemplo, e falando de uma cultura que necessita de muita água, a média de volume necessário para produzir arroz em Portugal no fim do século XX era de 15 mil a 20 mil m3 por hectare. Hoje, a maioria está abaixo ou próximo dos 10 mil m3. Porquê? Porque os terrenos passaram a ser nivelados através de controle com raio laser, entre outras evoluções. No tomate de indústria, já não se pratica rega por sulcos", refere.

"Hoje é totalmente regada com gota-a-gota, tendo o volume médio de utilização passado de 8 mil ou 9 mil m3 por hectare para cerca de 4 mil (50% de "poupança"). E muitos outros exemplos poderia dar, como nos pomares, com mantas protetoras no solo para evitar perdas por evaporação e controlo de infestantes (que também "bebem" água), etc. A ciência não para e a agricultura e os agricultores acompanham. Mas é preciso garantir mais apoio específico para este tipo de investimento, assegurando processos mais ágeis e simples, assim como a formação necessária para os agricultores os conseguirem aplicar no terreno", conclui o responsável da CAP.

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