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Informação profissional para a agricultura portuguesa

“A agricultura de precisão fará cada vez mais parte do dia-a-dia das explorações agrícolas”

Ana Clara02/11/2022

A agricultura portuguesa está cada vez mais inteligente e utiliza, nos últimos anos, soluções e equipamentos eficientes cujo objetivo final é sempre o aumento da produtividade, a simplificação de processos, a otimização de uso de recursos e a eficiência das culturas. Ricardo Braga, um dos especialistas portugueses na área da Agricultura de Precisão, traça à Agriterra uma radiografia do setor e antecipa cenários, num tempo marcado pelas famigeradas alterações climáticas.

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Nesta conversa sobre o tema, começamos pelo percurso da Agricultura de Precisão no País que, de acordo com Ricardo Braga, “tem sido longo”.

“Estamos longe de uma utilização prática generalizada, mas depois de bastante tempo em que se falava do conceito e das diversas vantagens da sua aplicação, passámos nos últimos cinco, seis anos, para uma fase de maior utilização de dados, sobretudo na caraterização e monitorização de processos. As cartas de condutividade elétrica do solo e de NDVI são bons exemplos disso. Sobretudo estas últimas têm uma utilização regular num número considerável de explorações do nosso País. Isto tem permitido a otimização de uso de recursos e fatores na gestão agronómica das culturas e, por consequência, dado um contributo para a tão necessária sustentabilidade da atividade agrícola”.

E como se têm as empresas adaptado a esta evolução? À questão, o professor no Instituto Superior de Agronomia (ISA), da Universidade de Lisboa, salienta que a adoção por parte das empresas “tem seguido o padrão conhecido para a disseminação de inovações”. “Alguns primeiros adotantes com menor aversão ao risco, seguido de um número cada vez maior de empresas com maior ou menor grau de ceticismo, que necessitam de verificar os benefícios de forma um pouco mais pragmática. Uma coisa parece certa: muito poucos duvidam que a digitalização e, em concreto, a Agricultura de Precisão fará cada vez mais parte do dia-a-dia das explorações agrícolas”, frisa, acrescentando que “não se trata de uma moda passageira. É uma ferramenta que veio para ficar e que se tornará cada vez mais fácil e barata de usar para otimizar processos, aumentar a produtividade e reduzir os custos de produção”.

Culturas

Sobre as culturas onde a aplicação da Agricultura de Precisão está mais avançada, Ricardo Braga recorda que, no passado recente, havia uma dominância clara de algumas culturas como o milho e a vinha. Neste momento, “é difícil ter essa perceção porque as aplicações são bastantes diversas e o número de empresas e de técnicos também aumentou bastante. É necessário também ter em conta o que se entende por ‘implementação da agricultura de precisão’. Certamente que nas primeiras fases do processo (caraterização e monitorização) haverá muitas centenas de hectares (vinha, milho, cereais de inverno, olival, amendoal, etc.) que beneficiam de uma forma ou de outra da Agricultura de Precisão. Quando falamos de usos mais avançados, como por exemplo, a aplicação diferenciada de fatores (água ou fertilizantes) os casos reduzem-se substancialmente”, explica.
Sobre os desafios, o académico considera que há vários e a diversos níveis. “Alguns têm sido ultrapassados de uma forma ou de outra, outros persistem, e alguns até parecem ser de difícil resolução. Mencionando apenas alguns que me parecem críticos: falta de conectividade existente em grande parte do País (a internet/comunicação é um ingrediente essencial para o funcionamento da Agricultura de Precisão); falta de formação dos técnicos das empresas para o uso das diversas tecnologias e dados disponíveis; falta de soluções tecnológicas integradas e acessíveis à maioria das explorações”, adianta.

Tecnologias

“As tecnologias disponíveis, não devendo ser confundidas com a aplicação da Agricultura de Precisão, são uma peça importante a toda a implementação da Agricultura de Precisão no terreno. São elas que nos permitem a caraterização do solo, do terreno, da cultura e das condições ambientais de forma mais rigorosa e exaustiva (satélites, GPS, sensores, etc.)”, refere Ricardo Braga.

E vinca que também são as tecnologias “que nos permitem gerir e analisar todos os dados resultantes da caraterização e monitorização (GPS, SIG). Finalmente, também são as tecnologias que nos permitem implementar decisões variáveis no espaço das parcelas adequando os inputs a cada condicionalismo encontrado (VRT, Robots, Drones). A evolução das tecnologias tem sido bastante rápida quer em termos de funcionalidades quer no seu custo, que nalguns casos se reduziu para metade em pouco mais que oito anos. São tendências que continuarão a verificar-se nos próximos anos. É um pouco imprevisível o que teremos disponível num prazo de cinco ou 10 anos”, afiança o especialista.
No que respeita à eficiência, Ricardo Braga afirma que é um ponto importante. “Os recursos são escassos e, por isso, temos que tirar o melhor partido da sua utilização. Estejamos a falar de água, azoto, terra ou até de fundos públicos, tirar o melhor benefício de cada unidade utilizada torna-se fundamental. No caso concreto da Agricultura de Precisão, a materialização da eficiência é bastante fácil de ver. Basta pensarmos numa parcela com a sua natural variabilidade de nutrientes disponíveis. A fertilização à taxa constante conduz necessariamente a perdas quer de adubo quer de produtividade e, logo, a uma menor eficiência da sua utilização”.
Por outro lado, sustenta, “se ajustarmos espacialmente as quantidades aplicadas às necessidades de cada local da parcela, estaremos a aumentar a eficiência de utilização dos nutrientes (maior produção da parcela por cada unidade fertilizante aplicada), quer porque teremos menores perdas quer porque localmente a produtividade será potenciada. O mesmo raciocínio se poderá aplicar à água ou à resolução local de fatores limitantes da produtividade como o pH ou a falta de drenagem que se verifica nalgumas zonas das parcelas”.

“As tecnologias disponíveis, não devendo ser confundidas com a aplicação da Agricultura de Precisão, são uma peça importante a toda a implementação da Agricultura de Precisão no terreno. São elas que nos permitem a caraterização do solo, do terreno, da cultura e das condições ambientais de forma mais rigorosa e exaustiva (satélites, GPS, sensores, etc.)”

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Formação

Quanto à formação, um tema que é sempre colocado no centro do debate, Ricardo Braga refere que os agricultores “vão estando preparados, uns mais que outros naturalmente, e seguindo estratégias diferentes (contratando técnicos, recurso a consultoras, recurso a organizações, etc.)”.
“A formação é, de facto, fundamental para tudo, e a Agricultura de Precisão não é obviamente exceção. Penso que teremos de ser mais eficazes (e também eficientes) a transmitir o conhecimento técnico existente do que temos sido até aqui. É algo que não é responsabilidade apenas da academia. É bastante mais abrangente passando também pelas diversas organizações do setor assim como pelas empresas. A nível da academia penso que todos os cursos na área agronómica abordam o tema. E vão-se também multiplicando cursos livres dedicados ao tema”, sublinha o professor universitário.
E, antecipando o futuro, que corre célere, lado a lado com a tecnologia, quisemos saber como olha Ricardo Braga para o País agrícola, no que toca à Agricultura de Precisão, dentro de uma década. “10 anos é uma eternidade. É mais fácil pensar em como gostaria que estivéssemos daqui a 10 anos… Um País agrícola com um ecossistema de inovação mais dinâmico e mais focado em soluções para o mundo real, a praticar uma agronomia mais baseada em evidências, mais virada para o mercado, com técnicos com uma visão integrada do processo produtivo e mais aptos para o digital, produtores com maior sentido crítico e políticas de promoção da agricultura de precisão mais audaciosas”, conclui.

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