Assim, a equipa de investigadores da UÉ pretendem implementar esta ideia de negócio desenvolvida no decorrer do trabalho de investigação e projetos desenvolvidos no Laboratório de Botânica da Universidade de Évora (Departamento de Biologia/MED - Instituto Mediterrâneo para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento), desenvolvendo os investigadores protocolos de germinação e testes de eficácia das seedballs (bolas de sementes).
Uma das preocupações para esta equipa composta ainda por Cristina Baião, estudante de Doutoramento em Ciências Agrárias e Ambientais, e João Marques, estudante de Mestrado em Tecnologias em Agricultura de Precisão, da mesma Universidade, “é evitar a introdução de espécies provenientes de outros países e até de outras regiões ecológicas, que podem competir com as nossas espécies e tornarem-se invasoras”.
A ideia apresentada pela Universidade de Évora apresenta como objetivo principal “a produção de seedballs, ou bombas de sementes (esferas de argila e composto orgânico com sementes) para aplicação em diversos projetos e ações de conservação da natureza e restauro ecológico” importante também no que respeita ao processo de reflorestação.
Esta equipa da academia eborense chama a atenção para a utilização desta técnica “sobretudo em zonas onde o acesso de maquinaria é difícil ou mesmo impossível” indicando ainda a grande vantagem “por proteger as sementes de predadores como por exemplo as aves, ratos, formigas(…), e de condições desfavoráveis à germinação, sobretudo num cenário de aquecimento global e alteração dos padrões climáticos, como o aumento de temperatura ou a irregularidade da precipitação”.
A utilização de sementes de proveniência regional apresenta ainda outras vantagens como esclarece Erika Almeida, “pois, garante um maior sucesso das ações de conservação da natureza uma vez que estão mais bem-adaptadas ecologicamente às condições locais”.
A transformação desta ideia em projeto implica fazer o Scale-up de todo o processo que vai desde a produção e limpeza de sementes, otimização da composição das seedballs para um maior número de espécies, e transformação do processo de fabrico manual num processo de produção semi-industrializado.
“As sementes serão colhidas na natureza apenas inicialmente (a posteriori serão cultivadas para alimentar esta pequena indústria) e o Banco de Sementes da Universidade de Évora será a estrutura de apoio base em termos de triagem e conservação. O produto final serão seedballs de proveniência regional certificada, cuja composição específica será adequada a diferentes tipos de vegetação”, resume a ideia a mesma investigadora.
Uma das preocupações da equipa é também dinamizar o uso de subprodutos de origem industrial e doméstica (ex: argilas e cinzas), incorporando-os na composição da seedballs e contribuindo para a economia circular.
“A concretização desta ideia, que prevemos inicialmente ser instalada no Alentejo, irá contribuir para a economia do tecido produtivo regional. No entanto, este modelo de negócio poderá ser replicado em outras regiões e assim contribuir para a fixação populacional e criação de postos de trabalho, fora das grandes cidades”, avança Erika Almeida
Um dos grandes propósitos é colocar esta ideia no mercado, encontrando-se a equipa da UÉ a terminar o Plano de pré-viabilidade para aprovação da Fundação “la Caixa”. “No entanto, a materialização deste projeto está dependente da captação de financiamentos específicos ou investimento privado” sublinha Erika Almeida.
Porque esta área da conservação da natureza assume especial importância não apenas a nível nacional, mas em todo o planeta “acreditamos que este tipo de projetos, tal como a criação de viveiros de arbustos e árvores autóctones, que assegurem a proveniência regional dos propágulos vegetais é premente, e muito importante, para o sucesso das ações de recuperação de áreas florestais e restauro de habitats naturais”.
Uma das preocupações assumidas por estes investigadores é que, “num momento em que se prevê a expansão deste tipo de projetos se verifique uma grande escassez de oferta nacional, o que poderá levar à utilização de espécies, ainda que nativas, provenientes de regiões geográficas distantes, ou até mesmo à utilização de espécies exóticas, o que vai contra os princípios fundamentais da conservação e recuperação da natureza”.