A utilização de biomassa florestal residual para produção de energia é tida como um recurso sustentável que apoia a transição energética e as metas climáticas, reduzindo o uso de combustíveis fósseis. Para perceber a importância desta renovável, falamos com Luís Gil, Vice-Presidente do Conselho de Administração do Centro da Biomassa para a Energia (CBE), que nos explica os desafios e nos ajuda a perceber que oportunidades tem Portugal pela frente.
A biomassa, no que se refere à sua valorização essencialmente para fins energéticos, que é o objetivo do Centro da Biomassa para a Energia (CBE), “é um pilar muito importante do mix energético nacional, quer pela sua produção endógena quer pela estabilidade que confere a esse sistema, contribuindo para a independência energética nacional e para a segurança do abastecimento de energia”, começa por dizer Luís Gil.
Segundo os últimos dados das Estatísticas Rápidas das Renováveis divulgados pela DGEG, em termos da produção de energia elétrica o contributo da biomassa foi de 11,4% do total das renováveis. “Mas a biomassa é também importante no domínio dos biocombustíveis, apontando os últimos dados para a produção de mais de 325 mil toneladas/ano de biodiesel no nosso País, a partir de óleos virgens e de matéria residual. A potência instalada dos centros electroprodutores a biomassa florestal em Portugal (sobretudo situados na zona Centro) é atualmente de 679 MW (452 MW em cogeração e 227 MW dedicada), com uma produção anual de energia elétrica nos últimos anos superior a 3200 GWh e uma produção mensal na gama 246-281 GWh (segundo estatísticas da DGEG), expressando assim a sua constância e estabilidade sazonal”, contextualiza o responsável.
Neste caminho de sensibilização e trabalho, o CBE tem já um longo currículo. “O CBE é uma associação técnica e científica sem fins lucrativos, vocacionada para a promoção da valorização da biomassa essencialmente para fins energéticos, através do desenvolvimento e transferência tecnológica abrangendo toda a fileira da biomassa, da recolha e tratamento aos sistemas de conversão e produção de energia ou combustíveis, sendo constituído por associados públicos e privados representativos da área”, explica.
Para além da atividade de apoio ao setor no domínio da biomassa/energia, o CBE tem também protocolos de colaboração com importantes stakeholders e está em fase de crescimento e diversificação da atividade, tendo recentemente aumentando o número de colaboradores e estando a diversificar os serviços que presta, ao mesmo tempo que está a aprofundar a internacionalização da sua atividade. “Isto é importante nomeadamente por se tratar de uma instituição que está sedeada no centro/interior do país. As suas iniciativas e atividades podem ser consultadas na sua página da internet e na newsletter periódica que divulga, para além de outros canais”, sublinha o Vice-Presidente da associação.
“São necessárias políticas que permitam retirar, com conta, peso e medida a matéria residual das florestas e apostar num sistema logístico para a sua recolha local e eventual primeira preparação, ao mesmo tempo que, numa perspetiva de circularidade possam promover a reintrodução adequada nas zonas de origem dessa biomassa de resíduos do seu aproveitamento energético, melhorando a produção da biomassa”
“É também necessário promover a utilização dessa biomassa, próximo do local de recolha, promovendo sistemas da sua utilização regional. A nova estratégia nacional para a biomassa florestal passa por abandonar os apoios públicos à produção dedicada de eletricidade e apoiar apenas projetos que envolvam também energia térmica, situados em zonas com risco elevado de incêndio. O PNEC 2030 destaca a valorização energética da biomassa florestal como um elemento-chave na criação de valor no setor florestal. Verifica-se também que no que se refere a novas centrais a biomassa, a produção exclusiva de eletricidade será tendencialmente abandonada (reduzida eficiência e baixa rentabilidade). Atualmente é promovida a instalação de pequenas centrais térmicas descentralizadas a biomassa que colocam menos pressão em termos de disponibilidade de biomassa e no sistema energético. A dinamização do aproveitamento da biomassa residual florestal deve considerar os principais intervenientes ao longo da cadeia de abastecimento, sendo ainda necessário a dinamização e a flexibilização de modelos de gestão agrupada, e uma maior articulação entre todos os intervenientes", conclui.