O arroz é a terceira maior cultura cerealífera do mundo, apenas ultrapassada pelo trigo e pelo milho. Em Portugal, produz-se nas bacias dos rios Mondego, Tejo e Sado, com o total nacional cultivado a rondar os 29 mil hectares. A Agriterra foi perceber a importância estratégica da cultura e falou com Lourenço Palha, Secretário-Geral do Centro de Competências do Arroz (COTArroz-CC), entidade que pretende contribuir para o desenvolvimento da fileira através do desenvolvimento de projetos de inovação e tecnologia.
Atualmente, refere, são cultivados cerca de 29 mil hectares de arroz em Portugal. Como produtores de arroz, o nosso País ocupa a quarta posição da União Europeia, depois de Itália, Espanha e Grécia, e “somos aqueles que mais consumimos arroz no continente europeu, cerca de 16 kg/per capita/ano”.
Em Portugal produzem-se anualmente cerca de 160.000 toneladas de arroz em casca, o que equivale a cerca de 110.000 toneladas (e trincas) de arroz em branco.
De acordo com o COTArroz, em 2021, cerca de 75% da área foi semeada com variedades de arroz carolino, 13% com variedades de arroz agulha, 10% com variedades do tipo médio e 1% da área com variedades do tipo redondo. "Relativamente ao consumo, “as quotas de cada tipo de arroz mostram-nos que o arroz carolino ronda os 22%, o arroz agulha cerca de 46%, o arroz vaporizado os 11%, o arroz basmati cerca de 14% (representando o maior aumento de quota) e os restantes 7% distribuem-se pelos outros tipos de arroz”, adianta Lourenço Palha.
Do ponto de vista da produção, “os constrangimentos são muito grandes”, afirma o responsável do COTArroz. “A cultura tem vindo a apresentar uma redução na sua viabilidade económica, uma vez que os sucessivos aumentos dos custos de produção têm vindo progressivamente a dificultar a rentabilidade e produção desta cultura. Já em 2021, antes do aumento exponencial dos fatores de produção devido à guerra na Ucrânia, os custos para produzir 1 hectare de arroz, em certos casos, poderiam atingir valores de 2.500€. Tendo em conta que a produtividade média nacional de arroz ronda as 6 toneladas por hectare e a cotação de venda de arroz mais frequente foi de 340€, facilmente se verifica que a margem obtida apresenta valores negativos, demonstrando que a cultura não teria interesse sem subsídios. Permitindo estes, não uma compensação ao agricultor, mas antes garantindo que o preço do arroz nas prateleiras de supermercado se mantenha baixo”, explica Lourenço Palha.
Por tudo isto, e conhecendo as dificuldades da fileira, no processo de construção da Agenda de Investigação e Inovação do Arroz, dinamizada pelo Centro de Competências do Arroz – COTARROZ, e que contou com a participação das várias entidades do setor orizícola nacional, desde a produção ao consumidor, passando por instituições ligadas à investigação e ao ensino, com um forte envolvimento da indústria, “foi possível fazer um diagnóstico das principais necessidades deste setor, para as quais a investigação e inovação poderão trazer um contributo”.
Também a adaptação às alterações climáticas, através do desenvolvimento de variedades mais adaptadas às condições extremas e mais resistentes a doenças e pragas, bem como a redução do consumo de água, “são desafios bem presentes”, sublinha Lourenço Palha.
A modernização do setor através da incorporação de tecnologia e novos conhecimentos é também um dos grandes desafios identificados na Agenda de Inovação. A eficiência do uso da água e nutrientes, assim como do uso de energia e a adequação de itinerário técnico a cada exploração e às especificidades de cada ano são cada vez mais fundamentais para a competitividade da cultura.
As alterações climáticas são, como já se referiu, outro enorme desafio, e já se fazem sentir, principalmente, devido à escassez de água. “Nas zonas produtivas do Estuário do Sado, houve agricultores que em plena campanha agrícola de 2021 tiveram que abandonar os seus campos porque não existia água suficiente. No ano corrente, em certas zonas do estuário do Tejo e do Sado, há um grande risco de não haver água suficiente para que a cultura possa ser desenvolvida. Estima-se que cerca de 2.000 hectares de arroz (1000 ha no Tejo e 1000 ha no Sado) não possam vir a ser produzidos esta campanha de 2022”, refere.
Uma das missões do COTArroz-CC passa por ajudar no melhoramento das variedades de arroz em Portugal. Lourenço Palha explica que o Programa de Melhoramento Genético do Arroz, desenvolvido desde 2003 até aos dias de hoje, pelo INIAV e pelo COTARROZ, e que conta também com a valiosa colaboração da DRAP Centro, “é a atividade mais importante levada a cabo no Centro de Competências do Arroz”. “Este trabalho tem vindo a atingir resultados bastante importantes neste segmento das variedades. Começou a dar frutos em 2018 (uma variedade de arroz leva cerca de 14/15 anos a ser desenvolvida) com a inscrição das duas primeiras variedades de arroz portuguesas (Ceres – Carolino e Maçarico - Agulha), à quais se seguiram a variedade Diana (Carolino) e Caravela (Carolino), sendo esta última a mais recente variedade portuguesa inscrita no Catálogo Nacional de Variedades (2021), apresentando um superior destaque e na qual depositamos grandes esperanças”, informa.
O trabalho do COTArroz-CC
O COTArroz-CC pretende contribuir para o desenvolvimento da fileira através de projetos de inovação e tecnologia. Todo o conhecimento que é adquirido através desses projetos é depois difundido e transferido através dos Dias de Campo, Grupos Focais e participação em Feiras e Colóquios.
Uma das bases da investigação levada a cabo no COTArroz é a parceria que tem com o INIAV para o desenvolvimento de variedades de arroz nacionais, onde o grande objetivo é a criação e inscrição de novas variedades no Catálogo Nacional de Variedades.
No ano de 2021, os direitos para produção, venda e multiplicação, da mais recente variedade portuguesa – Caravela - foram vendidos à empresa Lusosem, comprovando o sucesso do trabalho desenvolvido.
O mais recente trabalho, realizado em conjunto entre os diferentes agentes que compõem o Centro de Competências, foi a realização da Agenda de Inovação e Investigação do Arroz. Este documento foi apresentado no Dia de Campo de 2021, e tem o objetivo de identificar as necessidades do setor que possam vir a ser satisfeitas com a transferência de boas práticas e conhecimentos de caráter inovador que possam qualificar e valorizar as competências das entidades das fileiras abrangidas.
“A Agenda reflete as principais preocupações dos vários agentes da fileira englobando a capacitação de produzir arroz de forma competitiva, contrariando o aumento dos custos para a sua produção, fixando-se na sistematização e disponibilização de informação de forma normalizada e em linguagem acessível, bem como na transferência de conhecimento atualizado das necessidades de inovação do setor agrícola e zonas rurais. Dá-nos também respostas fundamentadas e inovadoras de forma colaborativa, identificando grandes áreas de desenvolvimento futuro e principais questões de investigação e de inovação até 2030”, conclui Lourenço Palha.
Saiba mais aqui: https://www.cotarroz.pt