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Informação profissional para a agricultura portuguesa

Fruticultura: doenças e pragas, uma ameaça constante

Ana Clara03/03/2022
A Fruticultura tem registado uma enorme evolução nas últimas décadas em Portugal. No vasto âmbito da agricultura nacional, o setor carateriza-se por uma enorme volatilidade, resultante da grande exposição a fatores de natureza climática e económica, “condição que deverá estar sempre presente na análise da sua evolução (GPP, 2011)”. Um desses fatores são as pragas e doenças que, associadas às alterações climáticas, impactam, e muito, o rendimento da atividade. Passamos em revista algumas das principais doenças e pragas que afetam a Fruticultura portuguesa e também a melhor forma de as tratar.
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Pomóideas

Comecemos pelas pomóideas (maçã, marmelo e pera), em que se consideram as seguintes espécies como as principais pragas a nível nacional:

  • Ácaros: aranhiço vermelho (Panonychus ulmi Koch)
  • Afídeos: afídeo ou piolho cinzento (Dysaphis plantagínea), afídeo ou piolho verde (Aphis pomi De Geer) e Pulgão lanígero (Eriosoma lanigerum Hausm).
  • Cochonilhas: cochonilha de São José (Quadraspidiotus perniciosus Comst)
  • Dípteros: mosca do mediterrâneo (Ceratitis capitata Wied) e cecidómia (Dasineura pyri Bouché)
  • Lepidópteros [bichado da fruta Cydia (=Laspeyresia) pomonella L e mineiras (Lythocollethis blancardella F., Lythocollethis coryfoliella Haw., Leucoptera scitella Zell. e Lyonetia clerkella L.)]
  • Homópteros: psila (Cacopsylla pyri L.).

A Estação Entre Douro e Minho emite regularmente Avisos Agrícolas sobre as doenças da fruta e ajuda-nos a perceber algumas medidas preventivas que devem ser aplicadas face às doenças existentes.

Pedrado da macieira e da pereira

No caso do Pedrado da macieira e da pereira (Venturia inaequalis/Venturia pyrina), de acordo com aquela Estação, “existe risco de contaminações primárias, durante a ocorrência de períodos de chuva, a partir do estado C-C3 (BBCH 53-54) nas macieiras e do estado C3-D (BBCH 53-54) nas pereiras”.

É recomendado o acompanhamento do desenvolvimento das árvores e deve ser aplicado um fungicida apenas se, localmente, estiverem reunidas as condições para as infeções (recetividade das árvores e previsão da ocorrência de chuva).

Devem ser feitos tratamentos preventivos, com produtos de contacto ou de superfície, antes da chuva, com tempo seco, aplicando caldas à base de captana, cobre, hidrogenocarbonato de potássio, mancozebe, metirame.

Nas 36 horas seguintes ao início de um período de chuva, podem ser aplicados produtos à base de ditianona, ditianona+fosfanato de potássio, dodina. Além de 36 horas após o início das chuvas, aplicar fungicidas penetrantes ou sistémicos: boscalide+piraclostrobina, ciprodinil, ciprodinil+fludioxonil, ciprodinil+ebuconazol, difenoconazol, ditianona+pirimetanil, fenbuconazol, fluopiram+tebuconazol, flutriafol, fluxapiroxad, cresoxime-metilo, cresoxime-metilo+difenoconazol, miclobutanil, tebuconazol, tetraconazol, trifloxistrobina.

Para evitar resistências, deve alternar famílias de produtos.

Para o combate ao pedrado em Modo de Produção Biológico, estão autorizados fungicidas à base de cobre, nas suas diversas formas, até à rebentação. Durante o período vegetativo, devem ser aplicados fungicidas à base de enxofre e de Bacillus subtilis (SERENADE MAX).

Moniliose no marmeleiro (Monilia linhartiana)

Deve proteger as variedades sensíveis, atacadas frequentemente pela moniliose, na fase de floração e formação dos frutos.

Fungicidas homologados: boscalide+piraclostrobina (SIGNUM), ciprodinil (CHORUS 50 WG), fludioxonil (GEOXE), tiofanato-metilo (TOCSIN WG).

Entomosporiose do marmeleiro (Entomosporium maculatum)

Correm maior risco as variedades sensíveis em pomares ou isoladas, onde se verificaram ataques desta doença no(s) ano(s) anterior(es) e os viveiros, que devem ser tratados preventivamente, mesmo que não apresentem sintomas.

Não estão homologados em Portugal fungicidas para a entomosporiose. No entanto, alguns fungicidas anti-pedrado têm ação simultânea contra aquela doença.

No Modo de Produção Biológico, pode utilizar produtos à base de cobre e de hidrogenocarbonato de potássio contra a entomosporiose: cobre (hidróxido) + cobre (oxicloreto) (AIRONE SC - BADGE WG); cobre (sulfato tribásico) (CUPROXAT, NOVICURE); hidrogenocarbonato de potássio (ARMICARB - ARMICARB JARDIM).

Prunóideas

No caso das prunóideas (ameixa, cereja, damasco, ginja e pêssego), são igualmente várias as doenças e pragas que afetam as culturas. Damos exemplos de algumas: pessegueiro, ameixeira e cerejeira.

Lepra do pessegueiro

No que respeita, por exemplo à lepra do pessegueiro (Taphrina deformans), o tratamento é mais eficaz se for feito precocemente, aos primeiros indícios do incremento dos gomos foliares.

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Moniliose da ameixeira

Na moniliose da ameixeira (Monilia laxa, Monilia fructigena), falamos da doença mais importante nas prunóideas, devido à destruição de ramos, flores e frutos, diminuindo, consideravelmente a quantidade e a qualidade da produção.

O período de floração é de risco de infeção pela Monilia também na ameixeira, sobretudo se decorrerem períodos de chuva e de humidade relativa do ar elevada (> 80%).

À queda das pétalas, deverá ser feito um tratamento com um fungicida homologado.

No Modo de Produção Biológico contra a moniliose na ameixeira, durante a vegetação, é autorizada a aplicação de caldas à base de enxofre.

Cancro bacteriano da cerejeira

O cancro bacteriano (Pseudomonas sp.) é provocado por bactérias do género Pseudomonas e pode causar elevados prejuízos na cultura da cerejeira, sobretudo, em árvores novas, nos primeiros seis anos de vida.

  • Os sintomas mais visíveis são os cancros nos ramos principais e secundários e nos ramalhetes de maio.

Outros sintomas, visíveis entre março e junho:

  • Os gomos e ramalhetes de maio não rebentam ou rebentam de forma irregular;
  • Os ramalhetes de maio por vezes abrem, mas as flores abortam;
  • As folhas ficam pequenas, amareladas, enroladas e secam;
  • Pequenas manchas nas folhas, castanhas, com um rebordo amarelado;
  • Os rebentos secam e dobram-se em forma de “báculo”;
  • Pequenos pontos encortiçados na casca dos frutos;
  • As árvores definham lentamente ou secam de repente (apoplexia);
  • As árvores doentes podem ter grandes cargas de frutos, mas de má qualidade e que não amadurecem completamente.

A bactéria tem uma “capacidade congelante”, que leva a que gomos, flores e folhas infetadas possam ser danificados por geadas fracas, que não ocorreriam se não estivessem infetadas pela bactéria.

Fatores que favorecem o cancro bacteriano:

  • Invernos muito frios e chuvas abundantes;
  • Chuvas mais abundantes em dezembro e janeiro;
  • O stress hídrico de verão, sobretudo depois da colheita, e o excesso de água no inverno tornam as árvores mais sensíveis ao cancro bacteriano;
  • Deficiência de cálcio no solo (maior sensibilidade de árvores plantadas em solos ácidos);
  • Variedades e porta-enxertos sensíveis;
  • Feridas de poda nos ramos, quebra de ramos, cortes de enxertia, feridas de granizo, etc, podem ser porta de entrada das bactérias;
  • Árvores enxertadas mais alto são menos atingidas;
  • Árvores até 6 anos são mais sensíveis.

Medidas preventivas:

  • Não plantar cerejeiras em zonas atreitas a geadas e a frio intenso;
  • Evitar solos pedregosos e muito ácidos;
  • Plantar plantas sãs, isentas de cancro bacteriano;
  • Utilizar variedades e porta-enxertos resistentes ou tolerantes;
  • Enxertar a meio metro de altura;
  • Evitar a formação de árvores com a rama muito chegada ao chão;
  • Estudar o perfil do solo e subsolo e melhorar a drenagem caso seja necessário;
  • Corrigir a acidez do solo;
  • Podar com tempo seco e desinfetar os instrumentos de poda;
  • Podas no verão, incluindo as de formação.

Tratamentos:

Na altura do início do inchamento dos gomos, antes da rebentação, pode ser aplicada uma calda à base de cobre nos pomares ou árvores afetadas pelo cancro bacteriano. Contudo, deve ser utilizada a dose mais baixa das indicadas no rótulo do produto comercial a aplicar. Este tratamento pode ter efeitos muito benéficos, sobretudo preventivos, nos pomares jovens. Os fungicidas à base de cobre têm efeito bacteriostático, ou seja, não matam as bactérias, mas reduzem a sua atividade e a reprodução.

No Modo de Produção Biológico é permitida a aplicação de caldas à base de cobre no controlo do cancro bacteriano da cerejeira.

As pragas e doenças, infelizmente, afetam igualmente frutos de casca rija (amêndoa, avelã, castanha e noz) e outros frutos, onde se incluem os citrinos, diospiros, figo, kiwi e romã.

Mais à frente, neste dossier, leia alguns artigos técnicos que detalham um pouco mais a situação da psila africana dos citrinos e os fungos de quarentena também em citrinos (riscos associados à importação de frutos).

Fruta Dragão - Pitaia vermelha

A pitaia, também conhecida como fruta dragão, é o fruto de várias espécies de cactos epífitos dos géneros Hylocereus e Selenicereus, nativas de regiões da América Central e México, também cultivadas em Israel, no Brasil e na China. O termo pitaia significa ”fruta escamosa”.

Em Portugal, é na região do Algarve que existem condições edafoclimáticas favoráveis ao cultivo de algumas espécies frutícolas exóticas, oriundas de climas tropicais ou subtropicais, como é o caso da pitaia.

De acordo com o GO Fruta Dragão, e citando dados de Pierangel, E. C. G. (2019 - 'Espécies de fungos e bactérias associados à cultura da pitaia e avaliação de estádios de maturação na qualidade do fruto (Tese de Doutorado). Lavras, Minas Gerais' - são consideradas como pragas e doenças desta fruta as que enumeramos de seguida.

Pitaia-branca (Hylocereus undatus), rosa por fora. Foto: Wikipédia
Pitaia-branca (Hylocereus undatus), rosa por fora. Foto: Wikipédia.

Principais pragas

As principais pragas identificadas para a pitaia podem causar danos nas plantas, flores e frutos. Os besouros, por exemplo, podem causar furos nos cladódios. Já as espécies de Percevejos Leptoglossus zonatus e Leptoglossus phyllosus sugam a seiva da planta.

Diferentes espécies de moscas como a Dasiops saltans e a mosca-das-frutas (Bactrocera spp.) atacam os botões florais e os frutos respetivamente. A localização destes ataques acaba por ter uma grande influência na produtividade da pitaia. Além disso, diferentes espécies de pulgões e cochonilhas também foram observadas em flores e frutos.

No que toca a pragas de maiores dimensões, ratos e aves são atraídos pelas flores e pelos frutos maduros, atacando-os. As feridas causadas por estes ataques podem ser uma abertura para ataques de fungos e bactérias.

Embora as pragas causem prejuízos, o maior problema para a pitaia são as doenças fúngicas.

Principais doenças

Uma das doenças fúngicas mais graves para a cultura da pitaia é a Antracnose (Gloeosporium sp ou Colletotrichum gloesporioides), que pode reduzir significativamente a produção devido ao ataque aos cladódios e frutos. No caso do C. gloesporioides, tanto pode atacar o fruto imaturo como o fruto maduro no pós-colheita.

Podridões por Fusarium causam a chamada “podridão apical do fruto”, começando como uma lesão na inserção do fruto com o cladódio, depois evoluindo.

Já a Alternaria alternata causa manchas nos frutos de pitaia nas fases de pré e pós-colheita, gerando graves perdas económicas. Esse fungo é também considerado como tóxico pois produz micotoxinas. Uma vez que podem não apresentar sintomas visíveis na polpa do fruto, pode levar a problemas graves para a saúde humana.

Kiwi: cancro bacteriano da actinídea (Psa)

A Psa, Pseudomonas syringae pv.actinidiae, é o agente causal do cancro bacteriano da actinídea, considerada a doença mais grave desta cultura. Pode, em casos mais virulentos, causar a morte das plantas, colocando em causa a sustentabilidade da fileira e provocando importantes prejuízos económicos nos principais países produtores de kiwi, incluindo Portugal (EPPO, 2011/054).

Esta doença, detetada em Portugal em 2010, manifesta elevada agressividade e uma dispersão muito rápida, tendo, nos dias de hoje, distribuição generalizada nas regiões produtoras. A nível mundial, a indústria ligada ao setor do kiwi está empenhada no desenvolvimento de estratégias de controlo da doença para conter a pandemia e minimizar as perdas económicas dos produtores, mas sem resultados positivos.

Para trabalhar a área do kiwi foi criado o Grupo Operacional i9kiwi, que visa o desenvolvimento de estratégias que visem a sustentabilidade da fileira do kiwi através da criação de um produto de valor acrescentado.

Visão geral do projeto

Segundo o i9kiwi, a produção de kiwi (Actinidia sp.) é uma importante atividade económica em diversos países, tendo apresentado uma expansão mundial nos últimos anos. Em Portugal, foi a partir da década de 1990 que a produção de kiwi se começou a desenvolver graças ao valor comercial da fruta associado ao baixo custo de produção. Os investimentos têm aumentado nos últimos anos, traduzindo-se num aumento notável da exportação, tendo sido atingido o valor máximo de 13 kton em 2013, equivalendo a 11 milhões de euros. Embora se continuem a verificar fortes investimentos, tendo a área de produção aumentado em 1/3 nos últimos anos, a produtividade tem diminuído, sendo a infeção pela bactéria Pseudomonas syringae pv. actinidiae (Psa) o principal responsável.

"O I9Kiwi pretende melhorar a competitividade do País incidindo exclusivamente em atividades de produção primária no setor do kiwi através de diversas tipologias de inovação, nomeadamente inovação de produtos e processos. O I9Kiwi reúne as competências necessárias para suprir lacunas evidentes no setor fitossanitário e na qualidade e diversidade de cultivares e do pólen, associadas a elevados custos de produção", salienta-se na página do projeto.

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