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Ervas aromáticas: um setor em crescimento e com potencial para explorar

Ana Clara30/11/2021

Nos últimos anos tem-se registado em Portugal o aumento de número de explorações dedicadas à produção de plantas aromáticas, medicinais e condimentares (na sua designação PAMs). Embora com um peso menor comparado com outros setores agrícolas, a verdade é que muitos agricultores têm apostado nele com projetos inovadores e que contribuem para o crescimento deste segmento no País. Apesar de serem escassos os dados estatísticos, está em curso um novo estudo, baseado num inquérito à produção e liderado pelo CCPAM – Centro de Competências das Plantas Aromáticas, Medicinais e Condimentares, que será apresentado em breve.

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Desde o manjericão ao funcho, passando pelo cebolinho, coentros, salsa, hortelã, lúcia-lima, rosmaninho, salva ou tomilho, são inúmeras as ervas aromáticas que têm sido alvo de aposta económica no País.

Uma das razões para o interesse (apesar de existirem estatisticamente poucos dados que permitam ter uma dimensão alargada do mercado) prende-se com as condições edafoclimáticas de cariz mediterrânico verificadas em Portugal, muito favoráveis a este tipo de culturas. A produção de PAMs em Portugal tem como principal destino a exportação, especialmente para países como o Reino Unido, Espanha, França e Alemanha.

Já o mercado internacional de PAMs é dominado pela China, Japão, Europa e Estados Unidos da América e apesar de ter sofrido algumas flutuações, a procura de plantas tem vindo a aumentar, principalmente por parte da indústria farmacêutica.

Para perceber melhor o que se tem feito, Maria Clara Lourenço, economista e Diretora Técnica e Gestora de Projetos na ADCMoura - Associação para o Desenvolvimento do Concelho de Moura, falou à Agriterra do projeto EPAM - Empreender na Fileira das Plantas Aromáticas e Medicinais em Portugal.

O EPAM nasceu como projeto financiado pelo Programa para a Rede Rural Nacional, em 2011, na sequência de um outro, neste caso internacional, o MEDISS – Mediterranée Innovation Senteurs Saveurs (MED), "durante o qual nos apercebemos da necessidade de apoiar o desenvolvimento do setor das PAM em Portugal, na época a dar os primeiros passos. Quando aquele financiamento acabou, o mesmo não aconteceu com o EPAM, que ainda hoje se mantém em funcionamento", contextualiza.

E tal acabaria por se consolidar como uma proposta metodológica e um conjunto de ferramentas visando promover um ambiente geral de colaboração estratégica, entre produtores e entre estes e outros agentes relevantes para o setor, como os da área da investigação, como suporte da criação de um ambiente favorável à geração e difusão da inovação. "São eixos-chave desta intervenção, que haveria de se ter como interessante para a animação de (também outros) setores emergentes: conhecer, (in)formar, ligar, potenciar", explica Maria Clara Lourenço.

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Tendo sido reconhecida como boa prática de inovação social ao serviço do desenvolvimento rural, o EPAM continua a evoluir e a projetar-se noutros setores e territórios.

O próximo passo "é construir um modelo para a sua sustentabilidade", uma vez que as atividades têm sido mantidas através de programas de financiamento muito diversos (umas financiadas por um, outras por outro…) e descontínuos e, em particular, com trabalho voluntário. "Uma coisa é certa: o futuro será certamente desenhado em conjunto com os produtores de PAM", assegura.

Sobre a radiografia do setor, a Gestora de Projetos da ADCMoura é clara: "não há informação estatística recolhida regularmente. E, para dificultar, estamos a falar de um setor muito heterogéneo, onde cabem plantas aromáticas, medicinais, condimentares, de perfume, secas ou frescas, óleos essenciais e outros extratos… destinados aos mais diversos setores de transformação (agroalimentar, cosmética, saúde, higiene e limpeza, entre outros), o que torna ainda mais difícil traçar uma caraterização geral".

“Não há informação estatística recolhida regularmente. E, para dificultar, estamos a falar de um setor muito heterogéneo, onde cabem plantas aromáticas, medicinais, condimentares, de perfume, secas ou frescas, óleos essenciais e outros extractos…”

Olhando para os números de produtores inscritos em MPB nas PAM "(a imensa maioria produz em modo biológico… certamente uma muito maior proporção do total que nos restantes países concorrentes), regista-se algum crescimento".

Refere que está em curso um novo estudo, baseado num inquérito à produção e liderado pelo CCPAM – Centro de Competências das Plantas Aromáticas, Medicinais e Condimentares (https://ccpam.pt), a ser publicado brevemente.

"A minha perceção é a de que, embora muitas empresas tenham nascido e morrido nesta década, algumas têm crescido e se consolidado, melhorando os métodos de produção e desenvolvendo estratégias de negócio mais sustentáveis", afiança.

E como se tem inovado? À pergunta, Clara Lourenço responde: "quando o EPAM surgiu, o setor estava numa fase ainda muito incipiente. Claro que já havia empresas a operar, algumas até há já alguns anos, mas penso que se pode dizer que foi no arranque dos anos 2010 que se notou a necessidade de afirmar Portugal como um país produtor de PAM. Por se tratar de uma área de atividade nova e muito particular (o MPB sendo a regra aqui e não noutros países; as explorações sendo muito pequenas), foi generalizadamente reconhecida a relevância de se partilharem experiências e saberes e de se desenvolverem formas de colaboração em diversas áreas (embora não tanto nos formatos cooperativo ou associativo). Creio que posso afirmar que o EPAM foi (e é) simultaneamente beneficiário e impulsionador daquela dinâmica", frisa.

Uma energia (com diversas outras fontes) que também viria a dar origem ao CCPAM, com o qual se pretende dinamizar um planeamento estratégico para o setor a nível nacional, amplamente participado e envolvendo todos os agentes ao longo da cadeia produtiva.

"Creio que o setor tem tudo para se desenvolver e afirmar: a produção baseia-se em níveis de qualidade para os quais a procura mundial cresce, os agricultores são qualificados e disponíveis para a colaboração, há muita investigação e cada vez mais articulada com o setor económico, novos projetos estão na forja para a criação de cadeias produtivas dentro do País (retendo valor acrescentado), há projetos de apoio à internacionalização em curso e outros de investigação com plantas autóctones visando as oportunidades para novos mercados…", sublinha a responsável, acrescentando que "tem havido inovação nos equipamentos e nos processos e diversificação nas explorações, num quadro organizacional de âmbito nacional que procura também tornar-se mais forte".

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A nível geográfico, Clara Lourenço assume que não é possível falar em regiões mais relevantes. Encontramos explorações de PAM em todo o País, garante, salientando que "as diferentes condições edafo-climáticas terão alguma interferência em termos de algumas das espécies exploradas, mas não parecem inviabilizar aquelas mais importantes atualmente, como é o caso da lúcia-lima, do tomilho-limão ou da hortelã-pimenta, por exemplo".

Já no subsetor dos óleos essenciais, há uma maior ligação às plantas mais presentes em cada território, afiança. .

Desafios

No que respeita aos desafios futuros, a responsável diz que nas explorações, "os custos de produção são geralmente elevados face ao modelo de negócio mais comum (a venda a granel com destino à exportação), muitas estando a apostar na ampliação e na diversificação".

"Melhores soluções de organização coletiva, que ampliem as competências para a abordagem de alguns mercados, são necessárias. Muito do valor acrescentado – nomeadamente o que resulta do produto transformado – não fica no País, no que constitui um dos âmbitos de intervenção estratégica que mais nos norteia para próximos projetos", refere.

Por esta razão, a Gestora de Projetos na ADCMouraMais considera que "apoios e especialmente os direcionados aos desafios referidos são sempre bem-vindos. Mas penso que tem havido uma crescente atenção ao setor, refletida, por exemplo, na valorização do CCPAM e de projetos (de investigação e inovação, de internacionalização, de investimento económico) destinados ao desenvolvimento".

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Guia para a produção de plantas aromáticas e medicinais

O Guia para a produção de plantas aromáticas e medicinais, do EPAM, é um documento construído por um conjunto de pessoas ligadas ao estudo e à produção de plantas aromáticas e medicinais em Portugal e tem como objetivo sistematizar os principais aspetos a considerar no planeamento da produção, secagem e processamento.

É apresentado sob a forma de coleção de fichas temáticas que podem ser consultadas ou descarregadas a partir das ligações em baixo, onde se espera que, com os seus comentários e partilha de experiências, se possa ir permanentemente aprofundando os temas e completando a informação inicialmente apresentada.

Saiba mais aqui: https://epam.pt/guia/

O Guia foi elaborado no âmbito do projeto 'Formar para a Produção de Plantas Aromáticas e Medicinais em Portugal', com financiamento do Programa da Rede rural Nacional/ FEADER.

Dados e curiosidades

De acordo com o INIAV, nomeadamente uma ficha publicada pela Unidade de Investigação e Serviços Florestais de Sistemas Agrários e Florestais e Sanidade Vegetal, a Península Ibérica é um dos maiores centros de diversidade de plantas aromáticas e medicinais do Mundo, devido à influência continental, mediterrânica e atlântica.

Das 3800 espécies identificadas na flora do Continente, Açores e Madeira, cerca de 500 são aromáticas e medicinais (Figueiredo et al., 2007).

É importante ter atenção à sustentabilidade ambiental. De acordo com o INIAV, que cita a organização Fair Wild, esta definiu um ‘código de ética para a colheita sustentável de plantas aromáticas e medicinais’ que foi adaptado em Portugal por organizações ambientais (https://habitatsconservation.files.wordpress.c om/2011/11/cocc81digo-de-ecc81tica-nacolheita-de-plantas-aromacc81ticas2.pdf), do qual se destacam alguns procedimentos que visam a sustentabilidade destes recursos naturais.

Saiba mais sobre a temática das ervas aromáticas, sustentabilidade, colheita e dados culturais de algumas espécies aqui: https://www.iniav.pt/images/INIAV/organica/Unidades_Investigacao_Servicos/Sistemas_Agrarios_Florestais_Sanidade_Vegetal/Sabia_que/sabia_que1_plantas_aromaticas_medicinais.pdf

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