Chaparro Agrícola e Industrial, S.L.
Informação profissional para a agricultura portuguesa

“Cada vez mais, é difícil fazer sequeiro”

Emília Freire01/10/2021

Portugal é um dos países da União Europeia (UE) com menor grau de aprovisionamento de cereais e a área de cultivo no País diminui há vários anos consecutivos. A grande maioria eram terrenos muito pobres, de sequeiro, que progressivamente ficaram para pastagens ou foram abandonados. Por isso, quisemos saber se ainda vale a pena apostar na produção de cereais de sequeiro.

“No caso dos cereais praganosos, nem sequer se pode falar de regadio, é mais um sequeiro assistido porque com muito pouca dotação, 1...

“No caso dos cereais praganosos, nem sequer se pode falar de regadio, é mais um sequeiro assistido porque com muito pouca dotação, 1.500 m³/ha, no máximo, podemos conseguir duplicar a produção".

Em 2018 foi aprovada pelo Governo a Estratégia Nacional para a Promoção da Produção de Cereais (ENPPC) que incluía um conjunto de medidas visando atingir, até 2023, um grau de autoaprovisionamento em cereais de 38% (80% de arroz, 50% de milho e 20% de cereais praganosos), mas pouco tem sido feito.

Por isso, a Associação Nacional de Produtores de Proteaginosas, Oleaginosas e Cereais (ANPOC) e a Associação Nacional de Produtores de Milho e Sorgo (Anpromis) têm vindo a apelar “à implementação imediata da ENPPC”.

E a área semeada de cereais praganosos (trigo, centeio, aveia, cevada e triticale) de outono/inverno continua a descer, tendo sido menos de 120 mil hectares na campanha de 2019/2020, o que representa uma produção na ordem das 230 mil toneladas.

Desta área, apenas uma ínfima parte tem acesso a água para rega, pelo que perguntámos ao presidente da ANPOC se a produção de cereais de sequeiro tem futuro. “A conta de cultura não permite grandes riscos e o sequeiro é um risco cada vez maior. Irá sempre continuar a fazer-se, mas cereais de qualidade é difícil. A opção é fazer cereais para alimentação animal, como aveias e triticais, ou trigos especiais, como o baby food”, considera José Palha.

“É arriscado, porque os impactos podem ser devastadores, mais ainda com os crescentes efeitos das alterações climáticas, que a região sul do País sente cada vez mais”.

A água pode fazer a diferença entre a rentabilidade e o prejuízo ou mesmo perder-se a cultura

Num clima mediterrânico como o nosso, a água pode fazer a diferença entre a rentabilidade e o prejuízo ou mesmo perder-se a cultura, daí que o presidente da ANPOC sublinhe que “a importância do regadio é inegável”.

Mas José Palha realça que “no caso dos cereais praganosos, nem sequer se pode falar de regadio, é mais um sequeiro assistido porque com muito pouca dotação, 1.500 m³/ha, no máximo, podemos conseguir duplicar a produção: passando de 1.500kgs para 3.000kgs, sem grande dificuldade. Por isso, é fundamental que tenhamos água”.

O responsável afirma que “as barragens são fundamentais e é determinante que o regadio seja gerido de forma integrada”, referindo-se às ligações do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva (EFMA) aos perímetros confinantes e lembra ainda a importância das barragens privadas, “que no caso dos cereais podiam fazer toda a diferença”.

Nos anos 80 e 90, foram construídas muitas barragens privadas pelos agricultores, mas, mais recentemente, todos os pedidos obrigam a Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) e têm sido reprovados pelo Ministério do Ambiente. Uma situação que o presidente da ANPOC diz não entender, como é que pequenos espelhos de água podem impactar negativamente o ecossistema.

Voltando ao risco de produzir cereais em sequeiro, José Palha especifica que “podemos perder 50% da produção numa primavera seca ou quente, uma vez que estamos muito sujeitos às condições climáticas e os custos de produção são praticamente os mesmos, regando ou não”.

Com a estratégia que temos seguido, apostando na qualidade e na marca ‘Cereais do Alentejo’, conseguimos uma valorização da produção

Produtor de cereais no Alentejo e no Ribatejo, defende que “a única maneira de continuar a fazer cereais de sequeiro será apostar em cereais forrageiros, mais rústicos, como aveias ou triticais. Ou então para se fazer trigos de qualidade tem de ser com preços de nicho, como o baby food, que é muito difícil de fazer em regadio, devido às inúmeras exigências e restrições”.

A aposta na qualidade é o caminho

E adianta: “Em parcelas que são regadas, normalmente, faz-se rotação com culturas de primavera e há uma infestante, a figueira-do-inferno, que aparece sempre no milho, no girassol etc., e se aparece alguma semente no baby food todo o lote fica comprometido”.

A aposta na qualidade é o caminho que a ANPOC tem traçado nos últimos anos para valorizar os cereais nacionais. “Com a estratégia que temos seguido, apostando na qualidade e na marca ‘Cereais do Alentejo’, conseguimos uma valorização da produção – embora este ano não seja muita porque as commodities estão todas com preço alto no mercado –, mas o contrato que temos com a Sonae, por exemplo, é plurianual e tem um preço muito interessante para o agricultor, pelo que compensa fazer trigos para estes contratos”.

José Palha salienta que a produção nacional de cereais tem grandes vantagens em relação aos trigos importados, “porque não temos qualquer tipo de contaminação com micotoxinas, o clima mediterrânico tem desvantagens, mas também tem vantagens”. Ao comprar cereais nacionais, a cadeia é muito mais curta, pelo que a pegada é muito menor, “e o consumidor está cada vez mais atento a estas questões”

Além disso, frisa o responsável, “os nossos cereais têm sempre muito mais qualidade, como produzimos pouco nunca fica cereal de uma campanha para a outra, e como a grande maioria dos agricultores está no sistema de produção integrada, têm um baixo nível de resíduos”.

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