A produção de physalis e de goji é relativamente recente em Portugal, mas apresenta um potencial de crescimento significativo, uma vez que Portugal tem boas condições para o cultivo destes frutos. Os entraves, dizem os produtores com quem falámos, são a dificuldade de criar dimensão, seja pela falta de apoios, informação e, principalmente, de Organizações de Produtores (OPs), mas também os custos de mão de obra.
A colheita da physalis é semanal, desde o primeiro dia, e tem um crescimento exponencial.
Luís Manso, da Physalusa, foi dos primeiros produtores de physalis no País em 2009 e, principalmente, “fui o primeiro a querer aglomerar produtores: sempre fomos ensinando aos outros aquilo que fomos aprendendo e depois aglutinávamos também a sua produção”.
No entanto, por questões burocráticas e financeiras nunca criou uma Organização de Produtores e a inexistência de suficientes OPs que trabalhem com estes pequenos frutos com menos representatividade é precisamente o obstáculo principal à sua expansão, em quantidade e área geográfica, referem tanto Luís Manso como Ricardo Pires, produtor de goji, da Agriforos, com quem também falámos.
A União Europeia, bem como as autoridades nacionais, pretendem incrementar a organização da produção, para ajudar a construir fileiras e cadeias de abastecimento mais fortes. Por isso, o facto de um produtor pertencer a uma OP aumenta a percentagem de apoio que pode receber ao submeter um projeto a candidatura. No entanto, esse critério acaba por ser um desincentivo a novas culturas porque seria então necessário que “se abrissem algumas exceções para culturas em fase inicial de implementação, se dessem incentivos às OPs ou à criação de novas para abranger estas culturas”, defende Luís Manso.
Claro que não pode haver uma OP para todo o tipo de culturas em cada ‘esquina’ mas a distribuição geográfica é, obviamente, limitadora, porque um produtor de physalis de Leiria (onde se situa a Physalusa) não pode ir entregar a sua fruta a uma OP de Vila do Conde (exemplo aleatório) e o facto é que existem poucas.
Luís Manso quis testar e aprender antes de avançar com projetos, começou com 2.500m², num terreno que era dos pais, e hoje tem 9.000 m², “sendo que as estufas que estão dedicadas à physalis ocupam 2.000m², como somos nós que fazemos a comercialização, nossa e de vários produtores associados, não dá para crescer muito”, diz-nos o produtor.
Mas salienta que “é uma área que já permite ter rentabilidade, desde que tenha uma boa produtividade, e essa é uma parte que temos tentado aprimorar”. A empresa apostou muito no melhoramento genético da variedade, que tinha um índice de rachamento de 30% e, “neste momento temos cerca de 2-3% de rachamento, para além do calibre ter aumentado imenso, com uma média de 8 a 12gr”.
A Physalusa já produz também as plantas necessárias à produção anual, para si e vários outros produtores e “este ano a entrega de plantas aumentou muito porque houve muito mais pessoas a apostar na cultura, uma vez que ficaram sem os seus rendimentos normais”.
Cada planta tem um custo entre 0,125 euros a 0,25 euros, consoante a quantidade encomendada e a empresa tinha, em maço quando conversámos, cerca de 200 mil plantas a germinar.
A Physalusa agrupa, nesta altura, a produção de 10/15 produtores, conta-nos Luís Manso, “que nos entregam entre 500kg a 1ton por semana, o que nos cerca de cinco meses de campanha dá cerca de 20 a 30ton, entre ar livre e estufa”.
Para a colheita, a mão de obra é um problema recorrente e, com a pandemia agravou-se, mas como a exploração tem uma produção de bacelo perto, onde trabalham essencialmente indianos, como não é o ano todo, “e termina precisamente quando nós precisamos, por isso, temos conseguimos”.
Para a physalis de ar livre, Luís Manso conta à Agriterra, que iniciam os trabalhos de viveiro em novembro/dezembro, com a sementeira, “depois ela fica a crescer, vai para o campo no fim de março/início de abril, já com 5-10cm, depois há adubações, podas, tutoragem, até junho-julho que é quando se inicia a produção” e o produtor frisa que “essa é uma das vantagens desta cultura: é extremamente rápida a produzir”
“Com as podas e uma adubação correta, também perde um pouco alguma da acidez e passa a ser mais doce”
Depois a colheita é semanal, desde o primeiro dia, e tem um crescimento exponencial, “depois temos a planta cheia de fruta e vem a geada e destrói-a… por isso é que começámos a experimentar em estufa e, neste momento, já temos produção o ano inteiro”, assegura Luís Manso.
Mas quando há geadas negras, como foi este ano, associadas a muito frio, as plantas em estufa também são afetadas. No entanto, o produtor frisa que a physalis é uma planta muito resiliente que recupera com facilidade.
“Com as podas e uma adubação correta, também perde um pouco alguma da acidez e passa a ser mais doce”, assegura Luís Manso, salientando que a planta gosta de terrenos franco arenosos com alguma profundidade e matéria-orgânica, não apreciando solos barrentos fortes. “A physalis gosta de um ph na ordem dos 6/7, a fertilização é feita de acordo com o solo, mesmo os períodos de rega têm de ser adaptados ao solo, estágio da planta e condições do clima, claro: agora rego uma vez por semana e no verão posso ter de regar duas vezes por dia”.
A adubação também depende muito do estágio da planta, numa fase inicial mais azotado e com fósforos, para o arranque, e numa fase final mais ricos em cálcios e potássio, salienta o produtor.
Ao nível da sanidade, “grande doença da cultura, na minha zona, ou seja centro, é o oídio e que apenas conseguimos controlar, neste momento, com enxofre”, explica.
Ricardo Pires trabalha com a Frutalmente, uma OP bem perto da sua quinta, que aceitou o desafio de comercializar as bagas de goji.
Ricardo Pires, o irmão e um amigo, decidiram criar a Agriforos e apostar na produção de bagas de goji em 2015 “porque há muito que queria fazer algo na área da agricultura, seguindo as raízes porque o meu avô era produtor de fruta e também para aproveitar o terreno da família em Vila Franca de Xira. Assim, dois enfermeiros e um camera man decidimos apostar no goji, depois de termos estudado várias opções”.
Plantaram 3,2ha e, na altura, “devíamos ter sido o segundo maior produtor, sendo que havia apenas quatro ou cinco, que tenha conhecimento”. Outra dificuldade foi encontrar informação disponível fidedigna, além do atraso na aprovação do projeto de jovem agricultor “que era para ser de 60 dias e demorou um ano”.
Mas, entretanto tiveram sorte porque conseguiram encontrar uma OP bem perto que aceitou apostar na cultura – a Frutalmente, dedica-se principalmente à uva de mesa, mas tem fruta tão variada como ameixa, alperce, pêssego, figo, romã, morangos, pera, maçã, dióspiro, limão e as bagas de goji, comercializadas com a marca Adoora. No caso do goji é vendido em fresco ou desidratado.
A internet foi a principal fonte de informação até para a escolha da espécie desta planta da família do tomate, “só se falava em duas: Lycium Barbarum e Lycium Chinense, que são as espécies mãe a nível mundial e nós escolhemos a primeira. Mas hoje já há várias derivadas, com sabor mais doce, maior grau brix, resistentes ao oídio, etc.”
Ricardo Pires ressalva que “basicamente, só existem duas doenças/pragas no goji – o oídio e os pássaros –, aparece, por vezes, algum piolho sazonal mas que não tem grande repercussão”. Como estão em Modo de Produção Biológico só podem usar enxofre, mas “temos conseguido controlar o oídio, atuando muito de forma preventiva”.
Quanto aos pássaros, o agricultor reconhece que tem sido mais difícil afugentá-los, tendo os melhores resultados sido “com a máquina de sons, que simula aves em sofrimento ou aves de rapina, e a máquinas de tiros”.
O produtor alerta potenciais interessado na cultura para que verifiquem bem as informações porque “em 2017 perdemos a produção praticamente toda porque seguimos indicações de que não era preciso dar muito água nem alimento”.
A Agriforos mantém os arbustos a 1,60mt, fazendo duas podas por ano e têm rega gota-a-gota com uma dotação que pode ir até aos 4lt/dia por planta, que estão num compasso de 3mt/1mt.
A partir daí decidiram, assessorados pela engenheira agrónoma da empresa, foram fazendo apostas cautelosas e testando resultados e a produção tem vindo sempre a crescer “sendo que em 2020 tivemos tanta, tanta baga… nunca pensei que pudéssemos ter tanta produção”.
O produtor frisa também que a época de produção é muito influenciada pelo clima “já tive baga em julho e, o ano passado, por exemplo só tive em setembro, mas veio em força”. Apostam assim em colocar o fruto no mercado em setembro, que é quando têm a certeza de o ter, e, se conseguirem, antecipam.
Sobre a dificuldade de mão de obra, Ricardo Pires reconhece que ela existe, mais ainda porque é uma cultura pouco conhecida, “pelo que é difícil contratar mão-de-obra em grande escala, mas vamos conseguindo ter pessoas para a colheita, para as necessidades de escoamento que temos. Infelizmente nunca apanhámos a baga toda que produzimos e este ano temos a expetativa de termos também uma boa produção”.
A mão de obra representa precisamente o maior custo e, como a baga de goji “aguenta, no máximo um mês em frio, sem quebras da cadeia, temos de planear sempre tudo muito bem, de acordo com a comercialização”. Quanto à venda do produto desidratado, a competição com om mercado asiático causa muitos entraves.
As empresas nacionais de venda de goji desidratado com que falaram, referem preços da ordem dos 13€/kg (bio), “o que é impensável para a produção nacional porque: preciso de 5kg de baga fresca para fazer 1kg de desidratado, um bom trabalhador apanha 1kg/h e não há ninguém a ganhar 1€/h em Portugal, nem é humano, obviamente. Os preços andam em torno dos 5,5-6€/h, se cada trabalhador apanhar 1kg é fácil de ver o que custam os 5kg necessários”, fora todos os outros custos.
O goji desidratado tem uma validade de um ano, mas “na teoria aguenta dois anos, sem humidade e sem sol”. Ricardo Pires diz-nos que estão a também a tentar entrar na distribuição, com a marca Adoora, da Frutalmente, e no mercado da transformação (licores, doces, chocolates, etc.).