Essencial para “facilitar uma agricultura mais biológica e com menor uso de químicos” o resultado final “são melhores vinhos e a proteção da natureza”, evidencia Rui Lourenço, investigador do LabOr-MED e primeiro autor do artigo publicado na revista Ecological Indicators.
O investigador recorda que estas aves alimentam-se de lagartas, traças, escaravelhos, cigarrinhas e outros invertebrados, combatendo de forma natural as pragas nas vinhas e os resultados agora divulgados “permitem aos vitivinicultores definir boas práticas, beneficiando os produtores mas também a biodiversidade”, destacam.
“As aves têm um grande potencial no controlo de pragas porque muitas espécies são insetívoras, têm várias funções (por ex. variedade de habitats de alimentação e comportamentos), e são comuns na maioria dos habitats”, destaca Rui Lourenço.
"Existem provas que as aves desempenham o serviço de biocontrolo em vinhas e noutras culturas”, acrescenta o doutorado em Biologia pela Universidade de Évora que se têm dedicado há mais de 20 anos à investigação na área da ecologia e conservação de aves.
Desta forma, as vinhas formam paisagens com gestão intensiva, sendo suscetíveis a diversas doenças e pragas causadoras de prejuízos consideráveis verificando-se aqui várias espécies de insetos que podem tornar-se pragas, afetando principalmente as folhas e as uvas, exemplo disso, a traça da uva ou a cigarrinha-verde.
As comunidades de aves foram amostradas neste estudo utilizando pontos de escuta em 31 parcelas de vinha localizadas no distrito de Évora que representavam diferentes práticas de gestão e contextos de paisagem. Nestes pontos de escuta os investigadores detetaram a aves por audição e observação, “um método que permitiu contabilizar sobretudo as aves que estavam nas vinhas e com maior potencial de prestar serviços de controlo biológico, descartando as que estavam em habitats mais afastados”, elucida Rui Lourenço.
O Investigador MED da academia eborense destaca que “a diversidade funcional de aves foi mais elevada em vinhas pequenas rodeadas por paisagem mais diversificada com árvores”, quando comparadas com vinhas de média dimensão rodeadas sobretudo por parcelas agrícolas, ou ainda em vinhas de maior dimensão e frequentemente rodeadas por outras vinhas.
Desta forma sublinha-se o facto das vinhas de menor dimensão situadas em paisagens mais heterogéneas que incluam zonas arborizadas parecem ter uma maior biodiversidade funcional de aves, “facto que deverá estar associado a um maior potencial do serviço de biocontrolo fornecido pelas aves insetívoras”, realça ainda a este respeito o investigador.
É inequívoco o valor que o vinho e a vinha têm para o nosso país, “e são muito relevantes para a economia regional em muitos países e as aves podem ser importantes aliadas da chamada “vinecologia”, afirma o investigador da UÉ, integrando as práticas ecológicas na viticultura “que vão de encontro à procura crescente por parte de consumidores de vinhos de qualidade e promotores da sustentabilidade ambiental” conclui Rui Lourenço.
O estudo foi desenvolvido no âmbito do projeto 'Novas ferramentas para a monitorização e avaliação de serviços de ecossistemas em sistemas de produção tradicionais do Alentejo sujeitos a intensificação', financiado pelo programa Alentejo 2020.