Envita
Informação profissional para a agricultura portuguesa

Luta não química é grande aposta para travar ameaças à oliveira

Emília Freire29/03/2021

A luta não química, nomeadamente a captura massiva, é hoje a arma mais usada contra a principal praga da oliveira – a mosca-da-azeitona, depois da proibição do uso do Dimetoato. Fernando Rei, professor e investigador da UÉ, dedicou-se ao tema e criou três novos dispositivos.

Quando a Agriterra combinou falar com o professor Fernando Rei, investigador no MED - Instituto Mediterrâneo para Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento, e também professor do Departamento de Fitotecnia da Universidade de Évora (UÉ) para este artigo sobre as pragas e doenças da oliveira, não sabíamos da novidade: que o investigador tinha criado três novos dispositivos de captura em massa de insetos voadores para serem usados, nomeadamente, para a principal praga da cultura, a mosca-da-azeitona.

O professor já explicará melhor como são estes dispositivos, mas primeiro falamos das principais pragas e doenças da oliveira. A oliveira é vítima de diversas pragas e doenças que podem danificar gravemente as suas folhas, frutos e a árvore em geral e causar grandes prejuízos ao agricultor. (Ver Caixa)

Mosca-da-azeitona - Danos no fruto

Mosca-da-azeitona - Danos no fruto

Há fitofármacos para a maioria destes inimigos da cultura mas, com as exigências de uma agricultura mais sustentável e com a proibição de, cada vez, mais substâncias (como o dimetoato), por um lado as empresas de proteção das plantas apostam de forma crescente em disponibilizar biopesticidas, luta biológica e, por outro, em armadilhas, em conjunto com feromonas, confusão sexual e métodos afins.

José Salsinha, do departamento técnico da Cooperativa Agrícola de Moura e Barrancos, frisa que “os anos são todos diferentes”, refere que “a mosca-da-azeitona tem tido menos incidência, mas a traça tem sido mais significativa, embora não seja difícil de combater”.

Destaca também a margarónia (ou traça verde), “que é a grande praga dos olivais jovens, até três anos”, acrescentando: “Esta praga alimenta-se dos ramos jovens da oliveira, cortando o ciclo de crescimento”. Todavia, o técnico diz, que “há tratamentos e os agricultores já sabem o que podem aplicar”.

José Salsinha conta que “a área de olival em sebe está a crescer”, entre os associados da cooperativa, e em toda a região, salientando que “as variedades utilizadas neste sistema, como a Arbequina, são mais resistentes a pragas e doenças, e estão melhor adaptadas às alterações climáticas do que as nossas tradicionais”. O técnico lembra que “este ano foi péssimo para a Galega por causa da gafa”.

Azeitonas atacadas por gafa. Foto: OpenPD.eu

Azeitonas atacadas por gafa. Foto: OpenPD.eu

É fundamental o melhoramento de variedades autóctones

Precisamente sobre a Galega, Fernando Rei afirma que “é mais sensível à mosca, à gafa e a fungos”, juntando-se a outras vozes de investigadores (como José Gouveia) e agricultores que há muito alertam para a necessidade de uma investigação mais intensiva das variedades cultivares autóctones, em todos os seus aspetos – para a criação de clones melhorados.

Não sendo a sua ‘especialidade’ apostou em encontrar novas formas de luta porque os olivais mais recentes do Alentejo, principalmente em sebe, podem usar variedades mais resistentes mas “ao optar-se por grandes áreas de uma só cultura, reduzimos a presença de voláteis e aromas de outras plantas auxiliares”.

Fernando Rei refere ainda que “as podas mecânicas, muito usadas nos olivais em sebe, provocam feridas na árvore, que fica assim mais sujeita à tuberculose”, outra das doenças da oliveira. “Não mata a oliveira, mas os ramos secam em resposta à presença da bactéria e uma das formas de a eliminar é retirar todos esses galhos e queimá-los”.

Dispositivos para captura massiva da mosca

Vamos então perceber como surgiram os novos três dispositivos para captura em massa de insetos voadores, em particular, para limitação da mosca-da-azeitona, que podem ser usados em todos os regimes de plantação de olival (tradicional, intensivo e em sebe), criados por Fernando Rei.

O professor explica-nos que “são duas estações de captura e uma armadilha tubular, para captura em massa da mosca-da-azeitona. Nas estações de captura pretenderam-se, essencialmente, três objetivos: reduzir o trabalho na manutenção das armadilhas, aumentar a sua área de atração para os insetos e, consequentemente, reduzir o número de armadilhas por hectare”.

Por esse motivo, adianta o investigador da UÉ, “têm um desenho exclusivo, em forma de tubo, com uma grande abertura superior para mais fácil libertação e disseminação dos voláteis atrativos, e consequente para a orientação dos insetos para o seu interior, onde ficarão retidos. A sua grande dimensão permite uma manutenção mais reduzida ao longo do período de utilização no olival”.

Estação de captura, com eletrocutor

Estação de captura, com eletrocutor

“A armadilha tubular pretende substituir o modelo de armadilha Olipe, de referência, através da sua forma tubular e flexível, que permite colocar a armadilha, num comprimento de seis metros ou mais, à volta de toda a copa de uma oliveira, ou ao longo de uma linha de olival em sebe”, especifica.

Fernando Rei adianta que “também permite reduzir a manutenção das armadilhas, embora em menor escala do que sucede nas estações de captura. Todavia, o seu custo é muito mais reduzido”.

Armadilha tubular...

Armadilha tubular: 1 - Corpo da armadilha; 2 - espiral interna em arame; 3 - orifícios para sair o volátil e entrarem as moscas; 4 - arame de fixação à árvore

Todos os dispositivos, para atrair as moscas, têm lá dentro uma solução a 4% de dihidrogénio fosfato de amónio, que atrai sobretudo fêmeas. Assim, nas estações de captura juntaram-se difusores de feromonas sexuais (para atrair também os machos). Para reter os insetos dentro dos dispositivos, a armadilha tubular tem um inseticida e as estações têm lá dentro um eletrocutor ou armadilhas amarelas com cola.

Em todos os modelos “pretende-se reduzir as populações de mosca no olival, através da sua captura em grande escala/em massa. Este método pode ser complementado pela aplicação de biopesticidas, ou com a aplicação nas copas, de substâncias repulsivas para a mosca-da-azeitona, como o caulino”, afirma o professor, concluindo que “o objetivo final é a limitação dessa praga-chave do olival, sem recurso à utilização de pesticidas orgânicos, usualmente de largo espectro de ação, com impactos negativos no ecossistema e meio ambiente”.

As armadilhas (Estação de captura – modelo eletrocutor e modelo adesivo, e a armadilha tubular) foram concebidas no âmbito do projeto ‘A Proteção Integrada do olival alentejano. Contributos para a sua inovação e melhoria contra os seus inimigos-chave’, cofinanciado através dos Programas Alentejo 2020, Portugal 2020 e pelo FEDER, estando atualmente pendentes três pedidos de patente europeia.

Principais pragas e doenças da oliveira

As mais significativas:

  • Mosca-da-azeitona – Bactrocera oleae (danos nas azeitonas e qualidade do azeite extraído);
  • Traça-da-oliveira – Prays oleae (danos em azeitonas, flores e folhas);

Doenças/fungos:

  • Olho de pavão – Spilocaea oleagina (impacto sobretudo nas folhas);
  • Gafa - Colletotrichum acutatum e C. gloeosporioides (impacto sobretudo nas azeitonas);

Pragas e doenças com ressurgimento em olivais em sebe:

  • Tuberculose-da-oliveira (bactéria) – Pseudomonas savastanoi (provoca galhas nos ramos);
  • Euzofera (insecto lepidóptero) - Euzophera pinguis (larvas fazem galerias na periferia dos trocos, afetando a circulação da seiva).

REVISTAS

FNA24Olival 2024Evolya

NEWSLETTERS

  • Newsletter Agriterra

    17/04/2024

  • Newsletter Agriterra

    10/04/2024

Subscrever gratuitamente a Newsletter semanal - Ver exemplo

Password

Marcar todos

Autorizo o envio de newsletters e informações de interempresas.net

Autorizo o envio de comunicações de terceiros via interempresas.net

Li e aceito as condições do Aviso legal e da Política de Proteção de Dados

Responsable: Interempresas Media, S.L.U. Finalidades: Assinatura da(s) nossa(s) newsletter(s). Gerenciamento de contas de usuários. Envio de e-mails relacionados a ele ou relacionados a interesses semelhantes ou associados.Conservação: durante o relacionamento com você, ou enquanto for necessário para realizar os propósitos especificados. Atribuição: Os dados podem ser transferidos para outras empresas do grupo por motivos de gestão interna. Derechos: Acceso, rectificación, oposición, supresión, portabilidad, limitación del tratatamiento y decisiones automatizadas: entre em contato com nosso DPO. Si considera que el tratamiento no se ajusta a la normativa vigente, puede presentar reclamación ante la AEPD. Mais informação: Política de Proteção de Dados

agriterra.pt

Agriterra - Informação profissional para a agricultura portuguesa

Estatuto Editorial