A luta não química, nomeadamente a captura massiva, é hoje a arma mais usada contra a principal praga da oliveira – a mosca-da-azeitona, depois da proibição do uso do Dimetoato. Fernando Rei, professor e investigador da UÉ, dedicou-se ao tema e criou três novos dispositivos.
Quando a Agriterra combinou falar com o professor Fernando Rei, investigador no MED - Instituto Mediterrâneo para Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento, e também professor do Departamento de Fitotecnia da Universidade de Évora (UÉ) para este artigo sobre as pragas e doenças da oliveira, não sabíamos da novidade: que o investigador tinha criado três novos dispositivos de captura em massa de insetos voadores para serem usados, nomeadamente, para a principal praga da cultura, a mosca-da-azeitona.
O professor já explicará melhor como são estes dispositivos, mas primeiro falamos das principais pragas e doenças da oliveira. A oliveira é vítima de diversas pragas e doenças que podem danificar gravemente as suas folhas, frutos e a árvore em geral e causar grandes prejuízos ao agricultor. (Ver Caixa)
Mosca-da-azeitona - Danos no fruto
Há fitofármacos para a maioria destes inimigos da cultura mas, com as exigências de uma agricultura mais sustentável e com a proibição de, cada vez, mais substâncias (como o dimetoato), por um lado as empresas de proteção das plantas apostam de forma crescente em disponibilizar biopesticidas, luta biológica e, por outro, em armadilhas, em conjunto com feromonas, confusão sexual e métodos afins.
José Salsinha, do departamento técnico da Cooperativa Agrícola de Moura e Barrancos, frisa que “os anos são todos diferentes”, refere que “a mosca-da-azeitona tem tido menos incidência, mas a traça tem sido mais significativa, embora não seja difícil de combater”.
Destaca também a margarónia (ou traça verde), “que é a grande praga dos olivais jovens, até três anos”, acrescentando: “Esta praga alimenta-se dos ramos jovens da oliveira, cortando o ciclo de crescimento”. Todavia, o técnico diz, que “há tratamentos e os agricultores já sabem o que podem aplicar”.
José Salsinha conta que “a área de olival em sebe está a crescer”, entre os associados da cooperativa, e em toda a região, salientando que “as variedades utilizadas neste sistema, como a Arbequina, são mais resistentes a pragas e doenças, e estão melhor adaptadas às alterações climáticas do que as nossas tradicionais”. O técnico lembra que “este ano foi péssimo para a Galega por causa da gafa”.
Azeitonas atacadas por gafa. Foto: OpenPD.eu
Precisamente sobre a Galega, Fernando Rei afirma que “é mais sensível à mosca, à gafa e a fungos”, juntando-se a outras vozes de investigadores (como José Gouveia) e agricultores que há muito alertam para a necessidade de uma investigação mais intensiva das variedades cultivares autóctones, em todos os seus aspetos – para a criação de clones melhorados.
Não sendo a sua ‘especialidade’ apostou em encontrar novas formas de luta porque os olivais mais recentes do Alentejo, principalmente em sebe, podem usar variedades mais resistentes mas “ao optar-se por grandes áreas de uma só cultura, reduzimos a presença de voláteis e aromas de outras plantas auxiliares”.
Fernando Rei refere ainda que “as podas mecânicas, muito usadas nos olivais em sebe, provocam feridas na árvore, que fica assim mais sujeita à tuberculose”, outra das doenças da oliveira. “Não mata a oliveira, mas os ramos secam em resposta à presença da bactéria e uma das formas de a eliminar é retirar todos esses galhos e queimá-los”.
Vamos então perceber como surgiram os novos três dispositivos para captura em massa de insetos voadores, em particular, para limitação da mosca-da-azeitona, que podem ser usados em todos os regimes de plantação de olival (tradicional, intensivo e em sebe), criados por Fernando Rei.
O professor explica-nos que “são duas estações de captura e uma armadilha tubular, para captura em massa da mosca-da-azeitona. Nas estações de captura pretenderam-se, essencialmente, três objetivos: reduzir o trabalho na manutenção das armadilhas, aumentar a sua área de atração para os insetos e, consequentemente, reduzir o número de armadilhas por hectare”.
Por esse motivo, adianta o investigador da UÉ, “têm um desenho exclusivo, em forma de tubo, com uma grande abertura superior para mais fácil libertação e disseminação dos voláteis atrativos, e consequente para a orientação dos insetos para o seu interior, onde ficarão retidos. A sua grande dimensão permite uma manutenção mais reduzida ao longo do período de utilização no olival”.
Estação de captura, com eletrocutor
“A armadilha tubular pretende substituir o modelo de armadilha Olipe, de referência, através da sua forma tubular e flexível, que permite colocar a armadilha, num comprimento de seis metros ou mais, à volta de toda a copa de uma oliveira, ou ao longo de uma linha de olival em sebe”, especifica.
Fernando Rei adianta que “também permite reduzir a manutenção das armadilhas, embora em menor escala do que sucede nas estações de captura. Todavia, o seu custo é muito mais reduzido”.
Armadilha tubular: 1 - Corpo da armadilha; 2 - espiral interna em arame; 3 - orifícios para sair o volátil e entrarem as moscas; 4 - arame de fixação à árvore
Todos os dispositivos, para atrair as moscas, têm lá dentro uma solução a 4% de dihidrogénio fosfato de amónio, que atrai sobretudo fêmeas. Assim, nas estações de captura juntaram-se difusores de feromonas sexuais (para atrair também os machos). Para reter os insetos dentro dos dispositivos, a armadilha tubular tem um inseticida e as estações têm lá dentro um eletrocutor ou armadilhas amarelas com cola.
Em todos os modelos “pretende-se reduzir as populações de mosca no olival, através da sua captura em grande escala/em massa. Este método pode ser complementado pela aplicação de biopesticidas, ou com a aplicação nas copas, de substâncias repulsivas para a mosca-da-azeitona, como o caulino”, afirma o professor, concluindo que “o objetivo final é a limitação dessa praga-chave do olival, sem recurso à utilização de pesticidas orgânicos, usualmente de largo espectro de ação, com impactos negativos no ecossistema e meio ambiente”.
As armadilhas (Estação de captura – modelo eletrocutor e modelo adesivo, e a armadilha tubular) foram concebidas no âmbito do projeto ‘A Proteção Integrada do olival alentejano. Contributos para a sua inovação e melhoria contra os seus inimigos-chave’, cofinanciado através dos Programas Alentejo 2020, Portugal 2020 e pelo FEDER, estando atualmente pendentes três pedidos de patente europeia.
As mais significativas:
Doenças/fungos:
Pragas e doenças com ressurgimento em olivais em sebe: