Olivais tradicionais, intensivos e em sebe
António Bento Dias, José Oliveira Peça, Anacleto Pinheiro
Departamento de Engenharia Rural, Escola de Ciências e Tecnologia; Instituto Mediterrânico para Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento (MED); Instituto de Investigação e Formação Avançada;
Universidade de Évora, Núcleo da Mitra, Apartado 94, 7002-554 Évora, Portugal; Email: adias@uevora.pt; jmop@uevora.pt; pinheiro@uevora.pt
17/06/2021Breves conceitos
Poda mecânica: intervenções de poda realizadas com uma máquina de podar montada em trator ou com máquina de podar automotriz. Existem máquinas de podar de serras circulares e máquinas de podar de barra de corte com movimento alternativo.
Poda manual assistida mecanicamente: intervenções de poda executadas por podadores com máquinas portáteis. Consideram-se máquinas portáteis as tesouras de poda elétricas e pneumáticas, os corta-sebes e as motosserras.
A crescente dificuldade em dispor de mão-de-obra para efetuar a poda levou a que, em 1997, o grupo de mecanização do Departamento de Engenharia Rural (DER), da Universidade de Évora, iniciasse a avaliação da utilização da máquina de podar de discos na poda dos olivais tradicionais (Fig. 1). Trata-se da utilização de uma máquina montada em trator que executa cortes não seletivos na copa das árvores. O tipo de corte depende do posicionamento da barra de corte, podendo efetuar-se corte horizontais (Topping), cortes verticais e cortes oblíquos.
Figura 1. Corte horizontal – Topping - da copa com máquina de podar de discos montada em trator.
Os resultados obtidos permitiram a definição de uma estratégia de poda que reduz os custos e mantém a capacidade de produção de azeitona (Dias, 2006).
Esta estratégia consiste numa sucessão de três intervenções de poda mecânica com periodicidade dependente das condições do meio onde o olival se encontra instalado, requerendo uma intervenção de poda manual complementar um a dois anos após a segunda intervenção mecânica (Fig. 2).
Figura 2. Estratégia de poda para olivais tradicionais.
Esta estratégia foi validada em ensaio com 15 anos de duração realizado na Herdade da Torre das Figueiras, em Monforte (Dias et al., 2014), num olival tradicional da variedade Blanqueta.
A maior densidade de plantação (200 a 400 árvores por hectare), as melhores práticas culturais, nomeadamente a disponibilidade de água para rega, leva a que as oliveiras adquiram grandes volumes de copa, as quais não podem crescer de forma ilimitada, obrigando a maior frequência nas intervenções de poda.
Tendo em conta a necessidade de reduzir custos de produção, bem como fazer face às dificuldades em dispor de mão-de-obra, a avaliação da poda mecânica em olivais intensivos mereceu, igualmente, a atenção do grupo de mecanização do DER.
Figura 3. Corte da face lateral da copa – hedging - em olival com 400 árvores por hectare.
Tal como se verificou nos olivais tradicionais, a utilização da máquina de podar de discos nos olivais intensivos permite reduzir os custos de poda, o tempo de execução e manter a capacidade produtiva (Dias et al.,2011; Dias et al.,2018), o que leva a que se possa inferir que a estratégia de poda definida para os olivais tradicionais tem aplicação nos olivais intensivos. Tratando-se de olivais regados, terá de se utilizar a menor periodicidade nas intervenções de poda mecânica indicada na figura 2, para manter controlado o volume de copa. Quando o volume de copa começar a ser limitante poderá ser necessário efetuar cortes nas faces lateral (Hedging) da copa (Fig. 3).
Neste tipo de olival, as intervenções de poda realizam-se anualmente de forma seletiva praticando-se a poda manual assistida mecanicamente (Fig. 4).
Figura 4. Utilização de motosserra, em altura, na poda de olival em sebe.
A necessidade de podar todos os anos, o elevado número de plantas por hectare e a área de olival existente, leva a que a necessidade de mão-de-obra para a realização desta tarefa seja elevada.
A grande capacidade de trabalho das máquinas de podar de discos terá contribuído para uma utilização crescente, tendo em vista o controlo da dimensão da sebe, principalmente em altura, com a realização de cortes horizontais na parte superior da copa (Fig. 5).
Figura 5. Topping em olival em sebe.
Dias et al., (2011) verificaram que a realização de topping permite que a capacidade de trabalho na execução de poda manual, na parte remanescente da copa (faces laterais), aumente em cerca de 50%, comparativamente à obtida em árvores podadas de forma estritamente manual.
A utilização da máquina de podar de discos permite ainda uniformizar a dimensão das copas e dimensioná-la de acordo com as características da máquina de colheita (Dias et al., 2011).
A realização de cortes nas faces laterais da sebe (Fig. 6), embora contribua para a redução de custos de poda e para a adequação da sebe às dimensões da máquina de colheita, requer a avaliação do seu efeito na produção de azeitona durante um maior período de tempo.
Figura 6. Hedging em olival em sebe; Figura 7. Topping de verão para controlo de ramos ladrões no olival em sebe.
Aspetos como a oportunidade de realização de intervenções de poda manual de complemento, bem como o 'topping' de verão (Fig. 7), estão a ser avaliados por esta equipa, em ensaios de médio-longo prazo, com vista à definição de uma estratégia de poda que tenha em consideração o balanço entre custos e receitas.
Em empresas com grandes áreas de olival, a utilização da poda mecânica é crescente, quer fazendo 'topping', quer fazendo hedging, existindo casos onde se aplica o esquema de podas (Tabela 1), proposto por Rius e Lacarte (2015).
Tabela 1 – Modelo de hedging – Poda em metade da área de olival, por ano
Faces laterais cortadas, Ano 1; Faces laterais cortadas, Ano 2. Adaptado por Dias, A. de Rius e Lacarte (2015).
É possível utilizar a poda mecânica para proceder à renovação de olivais em sebe. Este aspeto foi ensaiado num olival em sebe com diversas variedades (Dias et al., 2018), tendo-se verificado que, dois anos após uma poda severa que incluiu corte horizontal da copa a 2,5m de altura e cortes laterais junto ao tronco, complementados manualmente para remoção de madeira, permitiu restabelecer a capacidade produtiva do olival.
A execução da poda mecânica estendeu-se, igualmente, à fase de formação da sebe, levando ao aparecimento do conceito de smartree. Deixa de se privilegiar a formação do eixo central, para formar uma sebe desorganizada, mas bastante ramificada, procurando alcançar o volume de copa pretendido, com muitos lançamentos, o mais rapidamente possível. A formação da sebe inicia-se no viveiro com um corte horizontal na parte superior da planta. Após a plantação, à medida que as plantas alcançam uma determinada altura, realizam-se cortes da copa, quer no topo, quer lateralmente, de modo a controlar o crescimento em altura e fomentar as ramificações no interior da sebe (Fig. 8). Estas intervenções podem ser realizadas de forma manual com corta-sebes, na fase inicial do desenvolvimento, prosseguindo de forma totalmente mecanizada com máquina de podar montada em trator.
Figura 8. Condução smartree. À esquerda: fase inicial; à direita: sebe formada.
Ao longo dos anos têm sido realizadas demonstrações de poda mecânica, bem como dias abertos, destinados, quer a olivicultores, quer a alunos,
A intensificação dos olivais modernos (intensivos e em sebe) leva a que seja necessário manter uma distância entre a base da copa e o solo sem ramos para permitir a aplicação de herbicidas na linha de plantação, facilitar a distribuição de fertilizantes e não afetar o desempenho das máquinas de colheita. Acresce que este desafogo ao solo contribuirá para uma maior circulação de ar e exposição à luz, com reflexos positivos em termos sanitários.
A tarefa acima referida pode ser efetuada com máquinas de barra de corte de movimento alternativo (Fig. 9), ou de facas dotadas de movimento rotativo (Fig. 10), existindo modelos adequados à largura da entrelinha de cada olival.
Figura 9. Podadora de abas de movimento alternativo em olival intensivo.
Figura 10. Máquinas de serras circulares para controlo abas em olival em sebe.
A falta de mão-de-obra para a colheita de azeitona, associada à descontinuidade do processo de colheita por vibração ao tronco, tem levado muitos agricultores a proceder à renovação dos olivais, instalando olivais em sebe. Neste tipo de olivais recorre-se a um número limitado de variedades de origem estrangeira.
De modo a ultrapassar a limitação acima referida, o grupo de mecanização do DER da Universidade de Évora, em colaboração com a empresa CutPlant Solutions SA concebeu um protótipo (Fig. 11) de Máquina de Colheita Contínua de Azeitona (MCCA), o qual tem sido testado em colaboração com a Torre das Figueiras Sociedade Agrícola Lda.
Figura 11. MCCA em trabalho na colheita da sebe larga de Galega em 2019
Atualmente encontra-se a decorrer o Grupo Operacional OLIVEMEC – Poda mecanizada e colheita em contínuo de olivais de variedades portuguesas, financiado pelo Programa PDR2020, através da Operação 1.0.1 - Grupos Operacionais.
Pretende-se avaliar a adequação da copa das oliveiras, recorrendo a poda mecânica, à colheita contínua de azeitona de variedades portuguesas.
Os ensaios estabelecidos estão a decorrer nas variedades Galega e Cobrançosa, em olivais intensivos instalados a 7m × 5m, e em olivais de maior densidade com entrelinha de 6m e distância entre árvores compreendida entre 1,5 m e 3m.
Para os olivais de maior densidade definiram-se as seguintes tipologias de condução e colheita:
Pretende-se com este trabalho obter resultados que permitam:
Ao longo dos anos têm sido realizadas demonstrações de poda mecânica, bem como dias abertos destinados (Fig. 12), quer a olivicultores, quer a alunos, nomeadamente da Licenciatura em Agronomia, Mestrado em Olivicultura e Azeite e do Curso de Operadores de Máquinas Agrícolas que, desde 1982, se realiza na Universidade de Évora.
Figura 12. Dia Aberto realizado, em 2019, no âmbito do GO OLIVEMEC – Poda mecanizada e colheita em contínuo de olivais de variedades portuguesas.