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De acordo com as Nações Unidas, perdem-se, anualmente, 24 mil milhões de toneladas de solo fértil

Agricultura de Conservação: uma prática para prevenir a perda e degradação do solo

Redação Agriterra10/12/2020
Está demonstrado que a Agricultura de Conservação é um sistema de gestão que protege o solo, melhorando a sua qualidade, sem prejudicar a rentabilidade das explorações agrícolas.
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Desde 2013, as Nações Unidas celebram a 5 de dezembro o Dia Mundial do Solo.
O objetivo da data passa por sensibilizar a opinião pública mundial para a importância de manter a qualidade dos solos do planeta para a segurança alimentar, mas também para manter um bom estado dos ecossistemas e o bem-estar da Humanidade. O solo fértil do planeta é a base da vida vegetal e fornece 95% dos alimentos que consumimos. Contudo, a degradação do solo é constante e as perdas não são recuperáveis à escala humana, pelo que se trata de um recurso não renovável.
Em Espanha, 74% do território está em risco de desertificação e 20% está em muito elevado risco de se tornar irreversivelmente deserto, pelo que estamos a falar do principal problema ambiental que o país vizinho enfrenta.

Em Portugal o cenário não é melhor, sendo que a desertificação “tem vindo a aumentar” em Portugal, afetando 58% do território nacional, “sobretudo nas áreas do sul e do interior centro e norte”, segundo um relatório do Tribunal de Contas (TdC), datado de setembro de 2019.

No documento, os juízes do Tribunal de Contas davam contam de que as previsões sobre as alterações climáticas “tornam expectável o acentuar dos riscos de desertificação” no país, acabando por potenciar um “maior risco de incêndios” que resultam “na redução da capacidade produtiva dos solos e na escassez de recursos hídricos”.

Neste quadro, o setor agrícola enfrenta o desafio de cuidar e proteger o solo através de práticas agrícolas benéficas para o ambiente e que também cumprem a função social de fornecer alimentos à população, e tudo isto sem comprometer a rentabilidade das explorações agrícolas.

Além disso, as administrações públicas devem contribuir promovendo este tipo de práticas porque o solo é um recurso natural que é património de todos, no qual se desenvolve uma atividade tão essencial como a agricultura, que tem respondido eficazmente nos tempos de pandemia que vivemos.

A nova PAC: uma oportunidade para a Agricultura de Conservação

A Agricultura de Conservação é a resposta a esta situação. Os três princípios em que este sistema de gestão se baseia - a supressão da lavoura, a presença de cobertura vegetal e a rotação de culturas - oferecem uma resposta abrangente aos problemas ambientais nos ecossistemas agrícolas e, em particular, à erosão e degradação dos solos.

Foi demonstrado que as práticas da Agricultura de Conservação reduzem a erosão em 90% e que aumentam o conteúdo de matéria orgânica no solo, atingindo em alguns casos, após vários anos, até 40% mais deste elemento do que os solos geridos através de práticas convencionais, de acordo com as experiências realizadas no âmbito do projeto europeu LIFE Agromitiga.

Assim, a nova PAC e os regimes ecológicos representam uma oportunidade para incluir este tipo de prática e para abordar definitivamente os problemas ambientais que afetam o solo.

A Agricultura de Conservação tem a experiência de milhares de agricultores, o apoio e o aval técnico suficiente para fazer destas medidas um sucesso, contribuindo sem dúvida, para o cumprimento dos objetivos ambientais que são fixados na regulamentação europeia, espanhola e regiões autónomas, e também em Portugal.

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Portugal

De acordo com o relatório do TdC de 2019, Portugal é um dos países europeus com maior risco de desertificação. Os dados mais recentes – que foram recolhidos para preparar o programa de desertificação – apontam para que nos entre 1980 e 2010 (em 30 anos) a desertificação tenha afetado mais de metade do território nacional, ascendendo a 58%, a que acrescem ainda as áreas áridas do sudeste da Madeira e as ilhas de Porto Santo, Desertas e Selvagens.

São mais 22 pontos percentuais face aos 36% de área sinalizada como desertificada nos anteriores 30 anos, entre 1960 e 1990.

Além disso, na série climática do decénio 2000-2010, “cerca de 63% do território foi classificado como área suscetível à desertificação”, alerta a auditoria do TdC.
E esta crescente diversificação pode vir a resultar num “aumento significativo da temperatura média em todas as regiões” do país, estando prevista uma subida de 3OC da temperatura máxima na zona costeira e de 7OC no interior, durante o verão. Com este aumento de temperatura, as previsões apontam para máximas superiores a 35OC que serão acompanhadas por noites tropicais, com a temperatura mínima nos 20OC.
Além disso haverá um aumento “da frequência e intensidade de ondas de calor”, alertam os juízes do TdC tendo como base estudos e simulações de diferentes modelos climáticos que apontam que estas alterações deverão fazer-se sentir entre 2080 e 2100. Nessa altura, em Portugal, haverá também “uma redução da precipitação”.
O relatório do TdC refere ainda o último relatório da Comissão Europeia, de 2018, o 'Atlas Mundial da Desertificação', que traça um cenário global dos países europeus e onde são apontadas as razões que podem conduzir à desertificação. A Comissão Europeia alerta para a “erosão dos solos, salinização, urbanização e migração”, lê-se no documento.
Em traços gerais, como resultado das alterações climáticas, a Comissão Europeia prevê que até 2100 os países do sul da Europa, onde estão incluídos Portugal, Espanha, Itália, Grécia e Bulgária deverão sofrer potenciais perdas no PIB entre 1,8% e 3%.
E alerta que em 2050, em todos os países europeus, 90% da superfície terrestre já estará degradada, o que levará a cerca de 700 milhões de pessoas deslocadas por causa da falta de terrenos férteis e sustentáveis.

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