Informação profissional para a agricultura portuguesa

Novo Laboratório Colaborativo desenvolve novas soluções biológicas para tornar culturas mediterrânicas mais produtivas

Agriterra22/05/2020
A funcionar há duas semanas, o novo Laboratório Colaborativo InnovPlantProtect (InPP) permitirá aos agricultores a oportunidade de recorrerem a compostos não tóxicos de base biológica, mais sustentáveis dos pontos de vista ambiental, económico e social, mais eficientes e mais atempados no controlo de pragas e doenças que atacam sobretudo culturas mediterrânicas como a vinha, o olival, e o tomate, mas também culturas como o arroz, o milho, o trigo, e a pera. Utilizando novas tecnologias, o InPP pretende aumentar a sustentabilidade do sistema de produção de alimentos.

O InnovPlantProtect (InPP) é um novo Laboratório Colaborativo, com sede nas instalações do INIAV em Elvas, que tem uma missão muito importante para todos nós, que precisamos de comida para viver. É uma “verdade lapaliciana”, em especial para quem pensa que os alimentos são uma garantia. Mas, ao contrário do que acontece nos países desenvolvidos, onde não falta comida nos postos de venda, nos países em desenvolvimento milhares de pessoas estão desnutridas, passam fome ou não têm acesso a alimentos suficientes.

A alimentação é um direito, mas não é uma garantia. Porquê? Porque quer nos países em desenvolvimento, quer nos países desenvolvidos, como Portugal, existem pragas e doenças que podem destruir 40% a 60% da produção agrícola mundial. Além disso, os produtos químicos de síntese como os pesticidas e inseticidas, usados para as controlar, estão a ser retirados do mercado por imposições legislativas. E é aqui que está a importância das atividades do InPP.

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Produtos

Constituído por cinco departamentos com atividades distintas, este Laboratório Colaborativo desenvolve compostos não tóxicos de base biológica (também designados biopesticidas) para controlar pragas e doenças para as quais não existem soluções no mercado e que afetam sobretudo as culturas permanentes e anuais estabelecidas em Portugal e noutros países com clima mediterrânico, como o arroz, o milho, o trigo, o tomate, a vinha, o olival e a pera.

O InPP também utilizará a tecnologia da edição do genoma para desenvolver variedades de plantas resistentes ao ataque de doenças. E prestará serviços que permitirão seguir a progressão de novas pragas e doenças e criar modelos que ajudem a prever, a diagnosticar e a monitorizar a evolução dessas pragas e doenças.

Pragas e doenças alvo da atividade do InPP

Nesta fase de instalação, o InPP está a desenvolver soluções para o controlo de doenças com características distintas:

  • a Xyllela fastidiosa, uma bactéria que se instala nos vasos condutores das plantas lenhosas, atacando sobretudo o lenho das árvores de fruto;
  • a ferrugem amarela, que ataca o trigo e outros cereais
  • A piriculariose que ataca o arroz
  • E a estenfiliose que ataca a pera rocha.

Em breve, o InPP abordará também as seguintes pragas:

  • a Drosófila suzukii, que afeta vários frutos;
  • a Diabrótica, uma lagarta que ataca as raízes do milho;
  • a traça da Guatemala, cujas larvas constroem galerias nos tubérculos da batata;
  • o percevejo marmoreado ou percevejo asiático, uma praga instalada nos EUA e que na Europa, por exemplo em Itália, está a ser preocupante por já ter causado importantes estragos nas culturas - muitas pessoas consideram-na a praga do século XXI;

Todas estas pragas e doenças são motivo de grande preocupação porque não existe atualmente nenhuma planta resistente e os pesticidas que as poderiam controla estão a ser retirados do mercado. Devido aos seus níveis de toxicidade ou ao seu espectro de atuação muito amplo, que afetam insetos e outros organismos benéficos para o meio ambiente, a regulamentação está a retirar do mercado as formulações que poderiam controlar alguns desses fatores bióticos que afetam as culturas. Por outro lado, há novas pragas e doenças para as quais não existe atualmente nenhuma planta resistente e nenhum pesticida que as consiga controlar. A retirada de princípios ativos acontece com mais incidência na Europa, mas começa também a acontecer nos Estados Unidos e noutros países.

Serviços

Para além de produtos – biopesticidas e novas plantas resistentes a pragas e doenças -, o InPP desenvolve serviços que permitirão não apenas seguir a progressão de pragas como criar modelos que ajudem a prever a evolução dessas pragas (por exemplo, quando é que eclodem e quando é que afetam as plantas). Desenvolverá também métodos eficientes de diagnóstico de pragas que aparecem numa determinada exploração agrícola e para a quais ainda existem escassos serviços em Portugal.

Segundo o biólogo e CEO do InPP, Pedro Fevereiro, “é por essa por essa razão que o InnovPlantProtect vai ter dois departamentos de informática, onde se fará a utilização de vários tipos de dados – climáticos, de satélite, de solo e locais (dados colhidos pelos próprios agricultores para aferir a presença ou ausência de determinadas pragas). A ideia, explica Pedro Fevereiro, “é recolher e analisar todos estes dados e, posteriormente, modelizar a progressão das pragas e, com isso, prestar um serviço de aviso e de diagnóstico.” Este serviço permitirá, inclusive, aos agricultores escolherem a altura mais adequada para o tratamento e para a colheita (no caso de estar previsto o aparecimento de uma nova praga num período próximo).

Para Pedro Fevereiro, o novo Laboratório Colaborativo, único em Portugal a trabalhar nesta área, “vai ter impacto em três aspetos muito importantes para os agricultores (e, consequentemente, para todos nós), que terão a oportunidade de recorrer a soluções mais sustentáveis do ponto de vista ambiental, económico e social, mais eficientes e mais atempadas”. “A nossa perspetiva é aumentar a sustentabilidade do sistema de produção de alimentos, utilizando estas novas tecnologias”, acrescenta Pedro Fevereiro, para quem “o InnovPlantProtect não interessa só aos agricultores, é do interessa de todos nós”.

Parceiros

O InnovPlantProtect é uma iniciativa da Universidade Nova de Lisboa, liderada pela unidade de investigação GREEN-IT do Instituto de Tecnologia Química e Biológica da NOVA, em cooperação com outras unidades de investigação da NOVA (CTS FCT NOVA, NOVA LINCS, FCT NOVA e MagiC NOVA IMS) tendo como parceiros o Instituto de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV), a Câmara Municipal de Elvas, a Bayer Crop Science, a Syngenta Crop Protection, a Fertiprado, o Centro de Biotecnologia Agrícola e Alimentar do Alentejo (Cebal) a Associação Nacional de Produtores de Proteaginosas, Oleaginosas e Cereais (ANPOC), a Associação Nacional de Produtores de Milho e Sorgo (ANPROMIS), a Casa do Arroz e a Federação Nacional das Organizações de Produtores de Frutas e Legumes (FNOP). Estas instituições criaram uma associação privada sem fins lucrativos que tem como responsabilidade gerir o InnovPlantProtect.

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