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VITICULTURA | OPINIÃO 36 Viticultura: uma crise de crescimento? Lançado em 2000, o programa VITIS, que financia generosamente a renovação dos vinhedos, mudou a paisagem vitícola do país e foi a base de tanta inovação enológica que hoje faz as nossas delícias e impulsiona a exportação. Vinte anos depois, impera repensar não só o financiamento, mas sobretudo a estratégia vitícola do país. Numa intervenção recente, António Mendes, o novo líder da Fenadegas, veio apontar um sinal que a ninguém pode dar conforto: de acordo com dados oficiais, o país importa, anualmente, mais de cem milhões de litros de vinho a granel de Espanha. Também poderia ter citado a Associação Americana de Economistas do Vinho (AAWE) que, sobre o mesmo assunto, aponta para 200 milhões de litros. Isto no mesmo país que tem stocks excedentários, que colocam em causa a viabilidade do setor cooperativo, desvalorizando o vinho e, naturalmente, também as uvas. A Fenadegas propõe a realização de uma intervenção pública através de uma destilação de crise. Recorde-se que já tivemos uma destilação em 2023. Não contesto o pedido, mas esta será sempre uma medida de curto prazo, um paliativo que não resolve a questão de fundo. A vinha é uma cultura condicionada, o plantio depende de autorizações que o Estado emite, sendo, anualmente, autorizado um “aumento de área”, que é efetivamente inferior ao abandono que se verifica em muitas regiões. Uma medida urgente, ironicamente impedida pela União Europeia na última reforma do setor, é a possibilidade de os viticultores transacionarem as autorizações. Ao proibir esta flexibilidade, a UE expropriou os produtores de um ativo que tinham e que era valorizado pelo mercado. Hoje, temos produtores que querem plantar novas vinhas e não o podem fazer por falta de autorizações e outros que querem abandonar, mas deitam a perder, não rentabilizam, as autorizações que têm em mãos. Rentabilizar a vinha implica produtividade. Sem prescindir de rigorosos controlos de rastreabilidade, urge permitir que o viticultor possa ver aceite pela sua DO toda a produção que efetivamente tem, ao invés de desvalorizar o excedente de uvas ótimas ou andar a pedir a familiares e amigos para as incluírem nas suas DCPs. Os estatutos das DOs têm de levar em conta que hoje há vinhas (certamente não todas nem a maioria) que têm elevadas produtividades e que, com isto, se rentabiliza a atividade vitícola. Os seguros de colheita, em particular os coletivos de grande dimensão, têm de ser generalizados a todas as regiões. É impensável que ainda haja produtores a perder tudo, quando se assiste a uma geada ou granizo, sem compensação ou obrigados a fazer manifestações para pedir apoios. Importaria avaliar mais a fundo os seguros paramétricos, pois esta ferramenta não só reduz potencialmente o custo, como permite que se comece a falar de segurar o rendimento e não apenas a produção. Manuel Pinheiro, CEO da Global Wines

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