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4a12de junho Bem-vindo ao futuro. Inovação&Tecnologia CNEMASANTARÉM FeiraNacional deAgricultura

ABRIMOS AS PORTAS DE UMA EXPLORAÇÃO DE REFERÊNCIA MUNDIAL: GENÉTICA E MÁXIMA TECNOLOGIA UNIDAS PARA LHE DAR A CONHECER A CULTURA DO AMENDOAL DO FUTURO 2022 28 E 29 DE JUNHO DE 2022 FINCA LA COPA - LOGROSÁN (CÁCERES-ESPANHA) Organizam: O EVENTO EUROPEU DE REFERÊNCIA NO SETOR DO AMENDOAL EM STREAMING PARA TODO O MUNDO I Demonstraçao de campo de amendoal www.demoalmendro.com

Edição, Redação e Propriedade INDUGLOBAL, UNIPESSOAL, LDA. Avenida Barbosa du Bocage, 87 4º Piso, Gabinete nº 4 1050 - 030 Lisboa (Portugal) Telefone (+351) 217 615 724 E-mail: geral@interempresas.net NIF PT503623768 Gerente Aleix Torné Detentora do capital da empresa Nova Àgora Grup, S.L. (100%) Diretora Ana Clara Equipa Editorial Ana Clara, David Pozo, Ángel Pérez, Alexandra Costa Marketing e Publicidade Filomena Oliveira www.agriterra.pt Preço de cada exemplar 10 € (IVA incl.) Assinatura anual 40 € (IVA incl.) Registo da Editora 219962 Registo na ERC 127451 Déposito Legal 471809/20 Distribuição total +5.300 envios Distribuição digital a +4.200 profissionais. Tiragem +1.100 cópias em papel Edição Número 7 – Maio de 2022 Estatuto Editorial disponível em www.agriterra.pt/EstatutoEditorial.asp Impressão e acabamento Gráficas Andalusí, S.L. Camino Nuevo de Peligros, s/n - Pol. Zárate 18210 Peligros - Granada (España) www.graficasandalusi.com Media Partners: Membro Ativo: Os trabalhos assinados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. É proibida a reprodução total ou parcial dos conteúdos editoriais desta revista sem a prévia autorização do editor. A redação da Agriterra adotou as regras do Novo Acordo Ortográfico. SUMÁRIO ATUALIDADE 10 EDITORIAL 11 Cultura do arroz “é estratégica em Portugal” mas há desafios pela frente 14 Biofortificação de arroz (Oryza sativa L.) em Selénio: um exemplo de sucesso na Lezíria Ribatejana 20 Lusosem: forte compromisso com a sustentabilidade da cultura de arroz nacional 28 Belchim Crop Protection: uma gama completa de herbicidas para o milho 34 Entrevista com Luís Mira, Administrador do CNEMA 36 Matrículas de tratores agrícolas: primeiro trimestre de 2022 40 John Deere anuncia trator totalmente autónomo no CES 2022 42 CNH Industrial apresenta Plano Estratégico de Negócios para 2024 44 New Holland amplia a oferta de enfardadeiras de câmara variável com a premium Pro-Belt 48 CLAAS expande e reforça a gama de carregadoras compactas TORION 50 Reboques agrícolas novos: registos crescem no primeiro trimestre de 2022 54 Selfab: uma referência na Pulverização 56 Sistema de pulverização com ozono 58 Projeto ISOmap Forragem promove transferência de conhecimento e tecnológica 60 Entrevista com Pedro Viterbo, Gerente da Fertiprado 64 Olival português em transformação estrutural 70 A prevenção do olho-de-pavão começa com tratamentos na primavera 74 H2Oliva quer inovar com poupança de água no olival 78 Agroflorestal é mais do que “apenas” floresta 80 Entrevista com António Gonçalves Ferreira, Presidente da UNAC 86 Serviços de Ecossistemas: o verdadeiro valor da floresta 92 AGRO recebeu a visita de 40 mil pessoas 94 Uma solução digital para gerir a produção do campo ao escritório 96 Primactive: uma solução Tradecorp 100 Tecniferti apresenta nova gama de fertilizantes líquidos Fulvicot® 102 A nova PAC não pode parar 104 Electrocoup F3020: Infaco lança nova linha de tesouras de podar elétricas 106

10 ATUALIDADE MAIS NOTÍCIAS DO SETOR EM: WWW.AGRITERRA.PT • SUBSCREVA A NOSSA NEWSLETTER Condução de tratores agrícolas: formação obrigatória a partir de 1 de agosto A partir de 1 de agosto de 2022 a formação para conduzir tratores agrícolas passa a ser obrigatória. “A partir de 1 de agosto de 2022, os titulares das cartas de condução das categorias B, C e D que pretendam ficar habilitados a conduzir os veículos agrícolas (…) têm de comprovar a realização, com aproveitamento, da ação de formação COTS ou da equivalente UFCD”, lê-se no despacho em causa. A formação deve ser averbada na carta de condução a categoria correspondente, T1, T2, T3, sendo que para tal é necessário o certificado da formação correspondente, atestado médico e dirigir-se ao IMT - Instituto da Mobilidade e dos Transportes. As ações de formação já frequentadas “consideram-se válidas até à data da entrada em vigor do presente despacho”, para efeitos de averbamento na carta de condução. Recorde-se que a obrigatoriedade desta formação foi criada por decreto-lei, publicado no final de 2017, para prevenir acidentes com máquinas agrícolas, abrangendo todos os condutores habilitados com cartas de condução da categoria B que conduzam tratores da categoria II, e das categorias C e D, que pretendam conduzir veículos agrícolas das categoria II e III. A CAP - Confederação dos Agricultores de Portugal conta com um curso destinado a todos os agricultores que pretendam fazer a formação. Inteligência artificial está a tornar mais eficiente a produção da Veracruz Sistema de tratamento de imagens aéreas, que resulta de uma parceria com a Aerobotics, já é atualmente utilizado nas Herdades do Carvalhal e do Vale Serrano, e o objetivo da Veracruz é alargá-lo às restantes herdades do grupo. A Veracruz estabeleceu, em 2021, uma parceria com a Aerobotics, empresa criada na África do Sul, que efetua a captação e processamento de imagens aéreas com foco na agricultura, com recurso à inteligência artificial através de algoritmos de aprendizagemautomática. Esta ferramenta inteligente permite ao produtor aceder a diversos indicadores que lhe garantem uma visão totalmente abrangente sobre o seu produto, com ganhos de eficiência e gestão associados e impossíveis de obter apenas com recurso aos meios utilizados na agricultura tradicional. “Os indicadores utilizados permitemmedir uma série de parâmetros de modo individual e também compará-los entre si em diferentes épocas do ano. É mais uma ferramenta indispensável, com o objetivo de trazer uma visão muito mais detalhada do que é a realidade do nosso cultivo”, sublinha Alexandre Sousa, Diretor da Veratech. Atualmente, a Veracruz já utiliza este sistema nas Herdades do Carvalhal e do Vale Serrano, e o objetivo é alargar este recurso às restantes herdades. Bernardo Costa, responsável de parcerias globais da Aerobotics, explica que “a fileira da amêndoa em Portugal tem crescido e ganhado cada vez mais relevância e a Aerobotics trabalha com imagens aéreas de alta resolução e processa-as com recurso à Inteligência Artificial através de algoritmos de aprendizagem automática, que vamos treinando e que queremos ir alargando e melhorando”.

11 EDITORIAL Portugal garante desde 2014 a sua autossuficiência em azeite e as exportações têm crescido de forma marcada nos últimos anos, ao atingirem os 500 milhões de euros em 2017, cerca de 600 milhões, em 2020, e com a perspetiva de superação deste valor agora em relação ao ano 2021. Tendo em conta a importância do olival português, responsável por 80% da produção nacional de azeite, fomos perceber qual a radiografia do setor, que dificuldades tem pela frente e que desafios estão em cima da mesa no caminho da modernização. A tecnologia tem sido uma aliada dos olivicultores e das empresas mas as alterações climáticas são hoje um problema que, tal como nos restantes segmentos da agricultura, afeta e vai moldar o País. Tudo, para ler, mais à frente num dossier dedicado ao tema. Além do olival, a floresta é outro setor que, no contexto agrícola, contribui com cerca de 2,5% para o PIB nacional, mas enfrenta desafios não só das alterações climáticas (seca e incêndios) como da atividade humana. E além de ser necessária uma visão abrangente, é preciso igualmente saber onde investir. Traçamos um diagnóstico do setor e fomos ouvir os seus agentes que, no território, trabalham para um mercado mais sustentável e economicamente viável. Conte ainda com um vasto trabalho dedicado ao arroz, cultura estratégica para Portugal, e onde detalhamos o ponto de situação atual do mercado. Do ponto de vista da produção, há hoje enormes constrangimentos, como a rentabilidade económica e os reduzidos meios de luta para controlo das infestantes. Contudo, o setor segue resiliente, trabalhando em conjunto para a valorização e diferenciação do arroz nacional. De 4 a 12 de junho, marcamos encontro mais uma vez na Feira Nacional de Agricultura (FNA2022), em Santarém. Luís Mira, Administrador do CNEMA, explica, em entrevista, como será a edição deste ano, cujo mote é a ‘Inovação e Tecnologia’, levantando o ‘véu’ de tudo o que se vai passar por lá. A revista Agriterra é media partner e marca presença com stand na feira. Contamos consigo! Até lá, boas leituras e excelentes negócios! Olival e Agroflorestal: motores da Agricultura portuguesa em ascensão José G. Llopis é o novo diretor de Marketing da New Holland para Espanha e Portugal Engenheiro Agrónomo pela Escola Técnica Superior de Engenheiros Agrónomos da Universidade Politécnica de Madrid, desenvolveu toda a sua carreira profissional no âmbito da maquinaria agrícola, em diferentes áreas e responsabilidades, acumulando grande experiência e conhecimento não só no mercado espanhol como também no latino americano. De acordo com um comunicado da empresa, José G. Llopis conta com mais de 18 anos a trabalhar no setor agro, algo que lhe valeu mérito e é considerado umprofissional de referência. Com a chegada à New Holland irá contribuir coma sua visão estratégica para consolidar o posicionamento da marca. “Quero agradecer à New Holland por me dar esta oportunidade, que é um desafio tanto pessoal como profissional”, afirma, adiantando que está ansioso e muito entusiasmado para começar este novo projeto e integrar a família NewHolland. Comesta nova designação, a empresa pretende dinamizar e apostar numa imagem mais forte e, juntamente com a equipa de marketing de Espanha e Portugal, desenvolver ações estratégicas no setor. Já o diretor geral, Francesco Zazzetta, salienta que “o nosso setor está a evoluir a uma velocidade importante e os acontecimentos recentes aceleramaindamais as mudanças. Na New Holland, temos a obrigação de oferecer aos nossos clientes uma resposta cada vez mais rápida e de vanguarda, em termos de produtos, tecnologia e serviços. Por isso, necessitamos de uma equipa demarketingmelhor, comuma visão centrada no futuro e na inovação. Estou certo de que o José é o melhor intérprete destes valores e como seu conhecimento pode impulsionar ainda mais a nossa missão".

12 ATUALIDADE MAIS NOTÍCIAS DO SETOR EM: WWW.AGRITERRA.PT • SUBSCREVA A NOSSA NEWSLETTER Especialistas em veículos agrícolas aprovam desempenho do Bridgestone VX-Tractor O projeto ‘Embaixadores do pneu VX-Tractor’ conta com quatro testemunhos de profissionais do setor que confirmam a qualidade do Bridgestone VX-Tractor, de acordo com a sua experiência com este pneu da gama premium. O VX-Tractor foi criado para exceder as expectativas da indústria com um desempenho versátil, superior a qualquer outro produto premium no mercado. Os profissionais e especialistas das oficinas de veículos agrícolas foram unânimes na sua avaliação ao pneu agrícola premium, o Bridgestone VX-Tractor, destacando muito positivamente o desempenho, versatilidade, robustez e custo por hora oferecido por este pneu, um dos topos de gama da empresa no seu segmento. José Palomares, Diretor de Produtos Agrícolas da Bridgestone para a Região Sudoeste da Europa, afirma: “o nosso VX-Tractor foi criado com o objetivo de exceder as expectativas da indústria com um desempenho versátil superior a qualquer outro produto premium no mercado. Desde a sua conceção, tanto o utilizador como as suas necessidades, têm estado sempre no centro do nosso negócio. É por isso que queríamos que fossem os próprios profissionais, que conhecem em pormenor as caraterísticas do produto e têm contacto direto com os clientes e utilizadores que o utilizam diariamente, a avaliar a sua qualidade”. Veja as avaliações aqui: https://info.bridgestone-agriculture.eu/pt/embaixadores-do-pneu-vx-tractor STET lança novos destroçadores florestais A STET complementa o portfolio de soluções florestais da sua marca STET Florestal, com uma nova gama de destroçadores adaptados a diversos equipamentos florestais, tais como miniescavadoras, escavadoras, carregadoras compactas e outros equipamentos. Estes equipamentos são essenciais para limpeza de terrenos e florestas, preparação emanutenção de terrenos para obras públicas e construção. Comum forte compromisso como setor da floresta, a STET Florestal trabalha todos os dias para oferecer soluções personalizadas e adaptadas especificamente a cadanegócio e a cada cliente. Uma gama completa de destroçadores florestais ideais para triturar árvores e arbustos, remover cepos e raízes profundas, limpeza e preparação de terrenos, tudo numa ferramenta robusta e fiável, comsuporte técnico garantido. A oferta de destroçadores está adequada para diversos tipos de equipamentos. Eis algumas das soluções: destroçadores hidráulicos para miniescavadoras; destroçador hidráulico para escavadoras; destroçadores hidráulicos para carregadoras compactas. Destroçadores hidráulicos para mini escavadoras. S. José Pneus avança com construção de novo armazém A S. José Pneus, importador da BKT para a Península Ibérica, anunciou que vai iniciar a construção de uma nova nave de armazém commais 5.000 m2, ampliando para 32.000 m2 as suas instalações. O objetivo é continuar a suportar um aumento de stock, nomeadamente empneus agrícolas, de modo a poder garantir o fornecimento de pneus aos agricultores, para não pôr em causa as suas produções agrícolas, seja na sementeira seja na colheita. “Vivemos tempos em que, devido às crises da Covid-19 e da guerra da Ucrânia, a agricultura na Europa tornou-se um eixo fundamental na necessidade de aumentar os índices de autonomia alimentar. Neste aspeto, a Península Ibérica tem uma função importante”, salienta a S. José Pneus, em comunicado. Este aumento de área do armazémcentral BKT na Península, que estará finalizado ainda este ano, vai permitir manter o elevado nível de fornecimentos de pneus aos seus distribuidores em Espanha e estes às oficinas e utilizadores, em cada uma das suas regiões de distribuição.

13 ATUALIDADE MAIS NOTÍCIAS DO SETOR EM: WWW.AGRITERRA.PT • SUBSCREVA A NOSSA NEWSLETTER FIMA 2022 foi um sucesso e recebeu 104 mil visitantes profissionais Os organizadores do certame fazem um balanço positivo da Feira Internacional de Maquinaria Agrícola (FIMA2022) que contou com 1130 empresas expositoras e 104 mil profissionais, tendo "mostrado, uma vez mais, que este é o evento perfeito para dar visibilidade setorial, fazer negócios e partilha de conhecimento”. A Feira de Saragoça premiou 11 empresas, contou com 40 jornadas técnicas (commais de 3700 participantes) e foi palco do Congresso Nacional de Desenvolvimento Rural, que teve um papel muito importante, graças ao trabalho do colégio de engenheiros agrónomos de Aragão, Navarra e País Vasco, com a colaboração do Ministério de Agricultura, Pesca e Alimentação, Governo de Aragão e Feira de Saragoça. Destaque também para inúmeros estudantes, de várias instituições de ensino da Península Ibérica, que visitaram o certame, e que contribuírammuito para incentivar o início profissional dos jovens na agricultura. O evento destacou igualmente o papel da mulher no setor agrícola, com o testemunho de vários casos de sucesso e de mulheres inspiradoras, tendo sido igualmente partilhadas políticas para promover o empreendedorismo no setor. A oportunidade de comercialização que é possível ter numa Feira como a FIMA permitiu, de acordo com a organização, muitos contactos comerciais, deixando empresas expositoras e visitantes profissionais satisfeitos. A internacionalização do certame, num momento particularmente complicado devido às circunstâncias do mercado e restrições de mobilidade, merece destaque, não só pelo número de empresas expositoras provenientes de 35 países, mas também pelas mais de 1000 reuniões no âmbito de missões comerciais internacionais das empresas participantes, organizadas pela Agragex e Feira de Saragoça. Durante esta edição, debateu-se a tecnologia, a profissionalização, a sustentabilidade, os desafios e as oportunidades do setor agrícola. A próxima edição da FIMA está de regresso a Saragoça, em fevereiro de 2024. Tel. +351 933021636 - geral@nutrirural.pt - www.nutrirural.pt Fertilização especial e Bio estimulantes Vinha - Pera - Maçã - Milho – Cereais - Hortícolas - Olival - Amendoal - Nogueiras • Micro-granulados sementeira/plantação • Fertilizantes foliares de grande eficiência BIO Micro-granuladores e semeadores de pequenas sementes

14 ARROZ EM PORTUGAL Cultura do arroz “é estratégica em Portugal” mas há desafios pela frente Lourenço Palha começa por dizer que a cultura do arroz “é estratégica em Portugal e é muito importante do ponto de vista económico e ambiental nas zonas onde é produzido”. Atualmente, refere, são cultivados cerca de 29 mil hectares de arroz em Portugal. Como produtores de arroz, o nosso País ocupa a quarta posição da União Europeia, depois de Itália, Espanha e Grécia, e “somos aqueles que mais consumimos arroz no continente europeu, cerca de 16 kg/per capita/ano”. Em Portugal produzem-se anualmente cerca de 160.000 toneladas de arroz em casca, o que equivale a cerca de 110.000 toneladas (e trincas) de arroz em branco. De acordo com o COTArroz, em 2021, cerca de 75% da área foi semeada com variedades de arroz carolino, 13% com variedades de arroz agulha, 10% com variedades do tipo médio e 1% da área com variedades do tipo redondo. "Relativamente ao consumo, “as quotas de cada tipo de arroz mostram-nos que o arroz carolino ronda os 22%, o arroz agulha cerca de 46%, o arroz vaporizado os 11%, o arroz basmati cerca de 14% (representando o maior aumento de quota) e os restantes 7% distribuem-se pelos outros tipos de arroz”, adianta Lourenço Palha. PRODUÇÃO: GRANDES CONSTRANGIMENTOS Do ponto de vista da produção, “os constrangimentos são muito grandes”, afirma o responsável do COTArroz. “A cultura tem vindo a apresentar uma redução na sua viabilidade económica, uma vez que os sucessivos aumentos O arroz é a terceira maior cultura cerealífera do mundo, apenas ultrapassada pelo trigo e pelo milho. Em Portugal, produz-se nas bacias dos rios Mondego, Tejo e Sado, com o total nacional cultivado a rondar os 29 mil hectares. A Agriterra foi perceber a importância estratégica da cultura e falou com Lourenço Palha, Secretário-Geral do Centro de Competências do Arroz (COTArroz-CC), entidade que pretende contribuir para o desenvolvimento da fileira através do desenvolvimento de projetos de inovação e tecnologia. Ana Clara Programa de melhoramento do arroz: ensaios de produção e qualidade.

15 ARROZ EM PORTUGAL dos custos de produção têm vindo progressivamente a dificultar a rentabilidade e produção desta cultura. Já em 2021, antes do aumento exponencial dos fatores de produção devido à guerra na Ucrânia, os custos para produzir 1 hectare de arroz, em certos casos, poderiam atingir valores de 2.500€. Tendo em conta que a produtividade média nacional de arroz ronda as 6 toneladas por hectare e a cotação de venda de arroz mais frequente foi de 340€, facilmente se verifica que a margem obtida apresenta valores negativos, demonstrando que a cultura não teria interesse sem subsídios. Permitindo estes, não uma compensação ao agricultor, mas antes garantindo que o preço do arroz nas prateleiras de supermercado se mantenha baixo”, explica Lourenço Palha. Para além das dificuldades financeiras, “os reduzidos meios de luta para controlo das infestantes, derivados da Criação de variabilidade genética, cruzamento artificial.

16 ARROZ EM PORTUGAL Nova variedade: Caravela. sucessiva eliminação de substâncias ativas dos produtos fitofarmacêuticos, e as limitações na disponibilidade de água dificultam a obtenção de boas produtividades na cultura”, enumera. Por tudo isto, e conhecendo as dificuldades da fileira, no processo de construção da Agenda de Investigação e Inovação do Arroz, dinamizada pelo Centro de Competências do Arroz – COTARROZ, e que contou com a participação das várias entidades do setor orizícola nacional, desde a produção ao consumidor, passando por instituições ligadas à investigação e ao ensino, com um forte envolvimento da indústria, “foi possível fazer um diagnóstico das principais necessidades deste setor, para as quais a investigação e inovação poderão trazer um contributo”. Uma necessidade importante que foi possível diagnosticar “tem a ver com a inexistência de variedades portuguesas competitivas no mercado durante muitos anos, só colmatada muito recentemente com a inscrição de 4 variedades portuguesas desenvolvidas pelo Programa Nacional de Melhoramento Genético do Arroz do INIAV/COTARROZ. As variedades semeadas em Portugal são de origem italiana ou espanhola. Assim, uma das necessidades identificadas pelo setor é que existam no Catálogo Nacional de Variedades, mais variedades nacionais competitivas”. Também a adaptação às alterações climáticas, através do desenvolvimento de variedades mais adaptadas às condições extremas e mais resistentes a doenças e pragas, bem como a redução do consumo de água, “são desafios bem presentes”, sublinha Lourenço Palha. A modernização do setor através da incorporação de tecnologia e novos conhecimentos é também um dos grandes desafios identificados na Agenda de Inovação. A eficiência do uso da água e nutrientes, assim como do uso de energia e a adequação de itinerário técnico a cada exploração e às especificidades de cada ano são cada vez mais fundamentais para a competitividade da cultura. DIFERENCIAÇÃO E VALORIZAÇÃO DO ARROZ NACIONAL A diferenciação e a valorização do arroz nacional foram também identificadas como um desafio fundamental, sendo assim necessária uma estratégia de promoção institucional para o arroz no mercado nacional. Existem produtos diferenciados com elevado valor acrescentado no setor do arroz (Produção Integrada - PRODI, IGP), contudo, “as campanhas de promoção do nosso arroz carolino são escassas e pouco abrangentes”, diz o responsável do COTArroz-CC. Neste contexto, “um projeto de promoção institucional do arroz europeu, desenvolvido pela Casa do Arroz e que envolve três países produtores (Portugal, França e Itália), tem vindo a dar a conhecer e promover um produto de excelência, que está próximo e que é sustentável do ponto de vista da produção”. As alterações climáticas são, como já se referiu, outro enorme desafio, e já se fazem sentir, principalmente, devido à escassez de água. “Nas zonas proC M Y CM MY CY CMY K

Hidrogenocarbonato de sódio Proteção natural para o controlo do oídio em vinha, hortícolas e pequenos frutos Bacillus thuringiensisKurstaki A solução insecticida natural para controlo de lepidópteros em diversas culturas Extracto de Equisetum arvense Proteção natural para controlo do míldio em vinha, tomate e morango Extracto de urtiga aquosa Proteção natural para controlo de afídeos em fruticultura e ácaros tetraniquídeos em vinha Cloridrato de quitosano Proteção natural para o controlo da botrytis em vinha e pequenos frutos Controlo natural de pragas e doenças em diversas culturas com solução à base de óleo essencial de laranja Blexia®, a nossa marca dedicada a soluções de origem natural Carpet Equiset Prevatect Valesco Doctrin A fim de estar melhor posicionada num mercado em constante mudança, a ASCENZA está a lançar a sua gama de bioprotecção sob o nome BLEXIA®. www.ascenza.pt PREV-AM® Plus é uma marca registada da ORO AGRI Internacional Ltd

O TRABALHO DO COTARROZ-CC O COTArroz-CC pretende contribuir para o desenvolvimento da fileira através de projetos de inovação e tecnologia. Todo o conhecimento que é adquirido através desses projetos é depois difundido e transferido através dos Dias de Campo, Grupos Focais e participação em Feiras e Colóquios. Uma das bases da investigação levada a cabo no COTArroz é a parceria que tem com o INIAV para o desenvolvimento de variedades de arroz nacionais, onde o grande objetivo é a criação e inscrição de novas variedades no Catálogo Nacional de Variedades. No ano de 2021, os direitos para produção, venda e multiplicação, da mais recente variedade portuguesa – Caravela - foram vendidos à empresa Lusosem, comprovando o sucesso do trabalho desenvolvido. O mais recente trabalho, realizado em conjunto entre os diferentes agentes que compõem o Centro de Competências, foi a realização da Agenda de Inovação e Investigação do Arroz. Este documento foi apresentado no Dia de Campo de 2021, e tem o objetivo de identificar as necessidades do setor que possam vir a ser satisfeitas com a transferência de boas práticas e conhecimentos de caráter inovador que possam qualificar e valorizar as competências das entidades das fileiras abrangidas. “A Agenda reflete as principais preocupações dos vários agentes da fileira englobando a capacitação de produzir arroz de forma competitiva, contrariando o aumento dos custos para a sua produção, fixando-se na sistematização e disponibilização de informação de forma normalizada e em linguagem acessível, bem como na transferência de conhecimento atualizado das necessidades de inovação do setor agrícola e zonas rurais. Dá-nos também respostas fundamentadas e inovadoras de forma colaborativa, identificando grandes áreas de desenvolvimento futuro e principais questões de investigação e de inovação até 2030”, conclui Lourenço Palha. Saiba mais aqui: https://www.cotarroz.pt 18 ARROZ EM PORTUGAL Dia de campo COTArroz (2019). dutivas do Estuário do Sado, houve agricultores que em plena campanha agrícola de 2021 tiveram que abandonar os seus campos porque não existia água suficiente. No ano corrente, em certas zonas do estuário do Tejo e do Sado, há um grande risco de não haver água suficiente para que a cultura possa ser desenvolvida. Estima-se que cerca de 2.000 hectares de arroz (1000 ha no Tejo e 1000 ha no Sado) não possam vir a ser produzidos esta campanha de 2022”, refere. No caso do arroz, explica Lourenço Palha, “a água é utilizada não só para dar à planta as suas necessidades em água, mas também, e não commenos importância, para fazer de tampão térmico para que a cultura não sofra com as amplitudes térmicas que se fazem sentir no nosso clima. É ainda utilizada para controlar a emergência de infestantes. É complicado fazer arroz com menos água, se a cultura for conduzida da forma tradicional. A utilização de variedades que sejam mais tolerantes às amplitudes térmicas pode vir a ser uma solução. A utilização de diferentes técnicas de sementeira (sementeira enterrada que se estima poupar entre 13% e 26%de água) estão também a ser testadas e desenvolvidas em várias zonas de produção”. MELHORAMENTO GENÉTICO Uma das missões do COTArroz-CC passa por ajudar no melhoramento das variedades de arroz em Portugal. Lourenço Palha explica que o Programa de Melhoramento Genético do Arroz, desenvolvido desde 2003 até aos dias de hoje, pelo INIAV e pelo COTARROZ, e que conta também com a valiosa colaboração da DRAP Centro, “é a atividade mais importante levada a cabo no Centro de Competências do Arroz”. “Este trabalho tem vindo a atingir resultados bastante importantes neste segmento das variedades. Começou a dar frutos em 2018 (uma variedade de arroz leva cerca de 14/15 anos a ser desenvolvida) com a inscrição das duas primeiras variedades de arroz portuguesas (Ceres – Carolino e Maçarico - Agulha), à quais se seguiram a variedade Diana (Carolino) e Caravela (Carolino), sendo esta última a mais recente variedade portuguesa inscrita no Catálogo Nacional de Variedades (2021), apresentando um superior destaque e na qual depositamos grandes esperanças”, informa. n

ARROZ EM PORTUGAL 20 BIOFORTIFICAÇÃO DE ARROZ (ORYZA SATIVA L.) EM SELÉNIO: UM EXEMPLO DE SUCESSO NA LEZÍRIA RIBATEJANA Ana Coelho Marques1,2, Ana Sofia Almeida2,3, Inês Carmo Luís1,2, Ana Rita F. Coelho1,2, Cláudia Campos Pessoa1,2, Diana Daccak1,2, David Ferreira1,2, Manuela Simões1,2, Paula Scotti Campos2,4, Mauro Guerra5, Roberta Leitão5, Fernando Henrique Reboredo1,2, Paulo Legoinha1,2, Maria Fernanda Pessoa1,2, José C. Ramalho2,6, José Manuel N. Semedo2,4, Isabel P. Pais2,4, José Carlos Kullberg1,2, Maria Brito1,2, Manuela Silva2,7, António Leitão2,4, Maria José Silva2,6, Ana Rodrigues6, Lourenço Palha8, Cátia Silva8 e Fernando C. Lidon1,2 1Departamento de Ciências da Terra, NOVA School of Science and Technology, Universidade Nova de Lisboa (FCT NOVA) 2Centro de Investigação GeoBioTec, FCT NOVA 3Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, I.P. (INIAV), Elvas 4Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, I.P. (INIAV), Oeiras 5LIBPhys, Departamento de Física, FCT NOVA 6PlantStress & Biodiversity Lab, Centro de Estudos Florestais (CEF), Instituto Superior de Agronomia (ISA), Universidade de Lisboa (ULisboa) 7Escola Superior de Educação Almeida Garrett (ESEAG-COFAC), Lisboa 8Centro de Competências do Arroz, Salvaterra de Magos RESUMO Com o intuito de implementar um itinerário técnico para biofortificação de arroz em Selénio (Se), foram aplicadas pulverizações foliares, em cinco concentrações de selenato e selenito de sódio (0, 25, 50, 75 e 100g Se.ha-1) em duas variedades, Ariete e Ceres, em linhas avançadas do Programa de Melhoramento Genético de Arroz (OP1505 e OP1509), em Salvaterra de Magos. Os resultados mostraram aumento crescente de Se no grão, variável entre 2,11-17,7mg.kg-1, 1,7516,7mg.kg-1 e 2,43-17,2mg.kg-1, nas cultivares Ceres, Ariete e OP1505, respetivamente. Foram monitorizadas as condições de cultivo, tais como, parâmetros do clima, solo e água. Ficou demonstrado que através desta técnica é possível incrementar a presença de Se no grão de arroz e minimizar a carência deste elemento na alimentação humana. 1.INTRODUÇÃO O arroz (Oryza sativa L.), considerado como a 2ª cultura cerealífera mais cultivada e consumida no mundo, antecedida pelo milho, é o alimento básico para aproximadamente 2/3 da população mundial (Fraga et al., 2019). Os países europeus produzem cerca de 4,5 milhões de toneladas, o que se traduz numa taxa de autossuficiência de aproximadamente 65%. Embora os portugueses sejamos principais consumidores na Europa, Portugal contribui somente com6%da produção europeia (INE, 2021 & Fradinho et al., 2018). O Selénio (Se) é um micronutriente essencial aos seres humanos, possui funções antioxidantes e com efeitos positivos no crescimento das plantas, particularmente no stress abiótico

ARROZ EM PORTUGAL 21 (Wang et al., 2013 & Sarwar et al., 2020). A reduzida presença de Se nos alimentos básicos, onde se inclui o arroz, resulta na manifestação de deficiências e patologias. O défice deste elemento afeta cerca de 15% da população mundial desencadeando fragilidades nos sistemas imunitário e cardiovascular, estando associado a hipotiroidismo, infertilidade masculina, astenia e cancro (Rayman et al., 2012). De acordo com Agrawal et al., 2020 a biofortificação é definida como a ‘melhoria das culturas alimentares ao nível nutricional utilizando práticas agronómicas, técnicas de melhoramento transgénico ou convencional’. A biofortificação agronómica centra- -se no enriquecimento vitamínico e em micronutrientes enquanto o melhoramento genético recorre à biotecnologia para modificar e inserir genes. Por sua vez, o melhoramento convencional consiste em efetuar cruzamentos entre plantas com características e interesse para obtenção de outras com as características desejáveis. Assim os itinerários técnicos de biofortificação agronómica podem ser adotados como estratégia para incremento do conteúdo de Se no grão de arroz. Contudo a biofortificação coloca questões operacionais, científicas, económicas e sociais, que importa clarificar e contornar, nomeadamente na seleção das variedades a utilizar, no tipo e formas de aplicação de Se, que sejam mais eficientes e que evitem toxicidades. Considerando a importância da cultura e a necessidade de enriquecimento do grão, num contexto de inovação, a biofortificação agronómica com Se, aliada aomelhoramento convencional, resultará, consequentemente, num acréscimo de valor na cadeia de produção. De facto, sendo um alimento funcional, face às respetivas funções terapêuticas, constitui um nicho de mercado dinâmico e inovador atrativo ao tecido empresarial. 2. METODOLOGIA Este ensaio consistiu na produção de arroz biofortificado em Selénio, com particular ênfase no estudo do grão, aliado à introdução de nova diversidade genética de arroz, integrado no Programa de Desenvolvimento Rural (PDR2020-101-030671) e cofinanciado pelo Fundo Europeu Agrícola de Desenvolvimento Rural (FEADER), no âmbito do Portugal 2020 - Projeto Proder PA43374. Considerando que se trata de um projeto de longa duração, a otimização das condições de cultivo envolveu 3 campanhas agrícolas. Os resultados aqui apresentados foram obtidos na campanha agrícola 2018 compreendida entre 30 de maio e 2 de novembro. 2.1 Desenho Experimental O ensaio foi implementado nos campos experimentais do Centro Operativo e Tecnológico do Arroz (COTArroz), localizado na Lezíria Ribatejana - Salvaterra de Magos. Foramutilizadas 2 variedades comerciais de arroz (Ariete e Ceres) e 2 linhas avançadas (codificadas como OP1505 e OP1509) do Programa de Melhoramento Genético de Arroz do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV, Elvas). O sistema de biofortificação consistiu na pulverização, em campo, com selénio nas formas de selenato de sódio (Na2SeO4) e sele-

ARROZ EM PORTUGAL 22 nito de sódio (Na2SeO3), e testadas 5 concentrações (0, 25, 50, 75 e 100 g Se.ha-1). Foi feita aplicação foliar em 3 fases determinantes do ciclo da cultura: emborrachamento, floração e grão leitoso. As plantas, controlo, não foram pulverizadas em nenhum momento com selénio. Numa fase inicial, considerou-se um delineamento experimental com 1188m2 (33mx 36m) dividido emblocos casualizados e com arranjo fatorial (5 concentrações x 2 formas de Se x 4 cultivares de arroz x 4 replicados = 160 blocos). Os 160 blocos foram dispostos em 80 talhões. Cada talhão (constituído por 2 blocos) apresentou área total de 9,6m2. Analisou-se o grão em película (integral) e o descasque dos grãos foi efetuado no COTArroz. 2.2 Monitorização das Condições de cultivo: parâmetros do Clima, Solo e Água Durante o período da campanha agrícola, as condições meteorológicas foram consideradas e obtidas em estação meteorológica instalada no local dos ensaios. Parâmetros como a aplicação de fertilizantes, controlo de infestantes, pragas, doenças e gestão da água de rega foram os recomendados e tipicamente utilizados para a cultura de arroz naquela região. Foram recolhidas, de acordo com pontos de amostragem previamente definidos, 16 amostras de solo do canteiro. A recolha ocorreu a 30 cm de profundidade e a metodologia adotada foi a descrita por Pessoa et al., 2021. O conteúdo mineral foi analisado com recurso a analisador por fluorescência de Raio – X com atmosfera enriquecida com Hélio para otimizar as leituras, minimizando interferências (Pelica et al., 2018). As amostras de água recolhidas foram analisadas no laboratório de hidroquímica localizado no Departamento de Ciências da Terra - FCT NOVA, para determinação de parâmetros físicos (condutividade elétrica, pH e temperatura) e químicos (iões). A condutividade elétrica (CE) e o pH foram determinados com um analisador multiparamétrico. A alcalinidade/ bicarbonato foi determinada por titulação segundo o método descrito por Rodier J. et al., 2009. Os catiões cálcio, magnésio, sódio e potássio foram quantificados por cromatografia iónica de alta pressão (HPLC) em cromatógrafo equipado com coluna e pré-coluna. Os aniões cloreto e sulfato foram quantificados por fotometria. 2.3 Quantificação e Localização de Selénio no Grão de Arroz A quantificação e localização de Se no grão foi determinada por Energia Dispersiva de Fluorescência de Raio-X de acordo com Cardoso et al., 2018. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Durante a campanha agrícola (Figura 1), as temperaturas do ar oscilaram entre 9ºC e 47ºC. O relatório do IPMA, destaca que no período de primavera os valores da temperatura média do ar foram inferiores ao normal, sendo julho o mês mais frio desde 2000. Durante a campanha choveram69mm enquanto a humidade média relativa do ar registada foi de 41%. A caraterização do solo foi efetuada considerando os teores de humidade, matéria orgânica, pH, condutividade elétrica e quantificação de elementos minerais, uma vez que as características do solo podem interferir diretamente no processo de biofortificação do arroz. Constatou-se que no canteiro do ensaio os valores de humidade, matéria orgânica, e condutividade elétrica oscilaram entre 12,1 - 17,5%, 1,08 - 1,57% e 145 - 428µS cm-1, respetivamente. Por oposição, os valores de pH não variaram de forma relevante, oscilando entre 5,70 e 6,02. Na sua generalidade, os solos de Portugal apresentam baixo teor de matéria orgânica com tendência para diminuição progressiva como resultado das condições climáticas favoráveis à decomposição, assimcomo de práticas culturais, sem reposição adequada Figura 1. Vista geral do campo, em 12 de julho, situado no COTArroz (Salvaterra de Magos).

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ARROZ EM PORTUGAL 24 dos seus níveis. Considerando que os valores de pH se situaram no intervalo de 5,5 - 6,5, os quais se incluem na faixa considerada ideal para a agricultura pois neste caso os nutrientes apresentam elevada disponibilidade para as plantas. Os teores em elementos minerais obtidos pela análise ao solo do canteiro são apresentados na Tabela 1. A composição física e química da água de rega deve ser encarada em termos dos seus efeitos no solo (impermeabilização e/ou alcalinização) e nas culturas (toxicidade), bem como os cuidados a ter com os equipamentos utilizados na irrigação (incrustações e corrosão). Com base nestes pressupostos foi feita a classificação da água do campo de ensaio em termos de iões dominantes segundo a metodologia proposta por Piper; determinado o índice SAR (índice de adsorção de sódio) e classificada a água, relacionando este com a condutividade elétrica, nas classes C e S; e estimado o índice de saturação de Langelier (ISL), a partir do pH (pH de saturação), com vista à determinação do poder incrustante ou de agressividade da água em relação ao carbonato de cálcio. A água (furo) de irrigação do canteiro de arroz é de origem subterrânea, temmineralização intermédia (concentração de sais avaliados em termos de condutividade elétrica, entre 250 e 750μS/cm, a 20ºC) é de fácies cloretada bicarbonatada sódica e, em termos de utilização agrícola, pertence à classe C2S1 com índice SAR igual a 1,98, podendo por isso ser utilizada em culturas moderadamente tolerantes aos sais e em praticamente todos os tipos de solos. Tabela 1. Quantificação de elementos minerais (% ou mg.kg-1) ± desvio padrão do canteiro de ensaio no COTArroz. K Fe Ca P Mg S As Pb Se % mg.kg-1 2,48 ± 0,04 0,28 ± 0,01 0,16 ± 0,01 0,15 ± 0,06 682 ± 99,0 299 ± 114 13,1 ± 0,18 11,6 ±0,61 1 < Figura 2. Quantificação de catiões e aniões nas amostras da água do furo, à entrada e interior do canteiro de ensaio no COTArroz. Figura 2. Quantificação de catiões e aniões nas amostras da água do furo, à entrada e interior do canteiro de ensaio no COTArroz. Os grãos em película (integrais) de plantas sujeitas ao itinerário de biofortificação apresentaram, em ambas as variedades, teores de Se superiores ao controlo (Figura 3). Na pulverização com selenato, o melhor resultado, 17,2mg.kg-1, foi obtido no tratamento com 100g Se.ha-1 e no genótipo OP1505, contrastando com o valor do controlo - 2,43mg.kg-1. Relativamente à biofortificação com selenito, foi na variedade Ceres que o aumento de Se foi mais notório, com subida de 2,11mg.kg-1, no controlo, para 17,7mg.kg-1 no tratamento com 100g Se.ha-1. Ainda nesta concentração é de salientar que, na variedade Ariete, também se registou aumento relevante, de 1,75mg.kg-1 para 16,7mg.kg-1. A aplicação de selenito obteve grande relevância em ambas as variedades Ariete e Ceres. Figura 3. Quantificação de Selénio nos grãos em película (integrais) (mg.kg-1) ± desvio padrão nos tratamentos selecionados de 50 e 100g Se.ha-1 de selenato (SE) e selenito (SI) no canteiro de ensaio no COTArroz. Figura 3. Quantificação de Selénio nos grãos em película (integrais) (mg.kg-1) ± desvio padrão nos tratamentos selecionados de 50 e 100g Se.ha-1 de selenato (SE) e selenito (SI) no canteiro de ensaio no COTArroz. 4. Conclusões A biofortificação, por pulverização foliar, revelou-se um método eficaz para enriquecer em Se as variedades de arroz e as linhas avançadas em estudo. As aplicações foliares, na forma de selenato e selenito de sódio, em 5 concentrações, compreendidas entre 0-100g Se.ha-1, permitiram obter grãos biofortificados, com aumentos de 2,11 para 17,7mg.kg-1

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ARROZ EM PORTUGAL 26 Trata-se de uma água subsaturada em carbonato de cálcio sendo, por isso, muito corrosiva, com pHs de 8,4 e ISL igual a -1,8. A água na entrada e no interior do canteiro é cloretada sódica, pertencendo às classes C2S1 e C3S1. Desde a captação até à entrada no canteiro a água sofre evolução, enriquece em Ca2+, Mg2+ e Na+, perde K+, diminui o HCO3- e aumenta em Cl- (Figura 2). O aumento da mineralização é significativo, em termos de condutividade elétrica, passando de 376μS/cm, no furo, para 420μS/cm na entrada do canteiro e 800μS/cm no interior do canteiro. O aumento é mais significativo em Na+ e Ca2+. Os grãos em película (integrais) de plantas sujeitas ao itinerário de biofortificação apresentaram, em ambas as variedades, teores de Se superiores ao controlo (Figura 3). Na pulverização com selenato, o melhor resultado, 17,2mg.kg-1, foi obtido no tratamento com 100g Se.ha-1 e no genótipo OP1505, contrastando com o valor do controlo - 2,43mg.kg-1. Relativamente à biofortificação com selenito, foi na variedade Ceres que o aumento de Se foi mais notório, com subida de 2,11mg.kg-1, no controlo, para 17,7mg.kg-1 no tratamento com 100g Se.ha-1. Ainda nesta concentração é de salientar que, na variedade Ariete, também se registou aumento relevante, de 1,75mg.kg-1 para 16,7mg.kg-1. A aplicação de selenito obteve grande relevância em ambas as variedades Ariete e Ceres. 4. CONCLUSÕES A biofortificação, por pulverização foliar, revelou-se ummétodo eficaz para enriquecer em Se as variedades de arroz e as linhas avançadas em estudo. As aplicações foliares, na forma de selenato e selenito de sódio, em5 concentrações, compreendidas entre 0-100g Se.ha-1, permitiramobter grãos biofortificados, com aumentos de 2,11 para 17,7mg.kg-1 em Ceres; de 1,75 para 16,7mg.kg-1 em Ariete e de 2,43 para 17,2mg.kg-1 em OP1505, nas concentrações mais elevadas. Desta forma, o itinerário técnico de biofortificação de arroz em Selénio assume-se como uma opção estratégica paraminimizar os efeitos na saúde pública resultantes do défice de Selénio na alimentação, sem comprometer o ciclo natural da planta. n REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS • Neha Agrawal, N.; Upadhyay, P.; Tigadi, S. (2020). Biofortification to Improve Nutrition: A Review. Int. J. Curr. Microbiol. App. Sci., 9, 763-779. • Cardoso, P.; Mateus, T.; Velu, G.; Singh, R.P.; Santos, J.P.; Carvalho, M.L.; Lourenço, V.M.; Lidon, F.; Reboredo, F.; Guerra, M. (2018). Localization and distribution of Zn and Fe in grains of biofortified bread wheat lines through micro and triaxial-X-ray spectrometry. Spectrochim. Acta Part B At. Spectrosc., 141, 70–79. • Fradinho, P.; Sousa, I.; Raymundo, A. (2018). Functional and thermorheological properties of rice flour gels for gluten-free pasta applications. Int J Food Sci Tec, 54, 1109-1120. • Fraga, H.; Guimarães, N.; Santos, J. (2019). Future Changes em Rice Bioclimatic Growing Conditions in Portugal. Agronomy, 9, 674. • Instituto Nacional de Estatística (INE). (2021) Disponível online: https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_indicadores&indOcorrCod=0000186&contexto=bd&selTab=tab2&xlang=pt (consultado a 08 janeiro 2022). • Pelica, J.; Barbosa, S.; Lidon, F.; Pessoa, M.; Reboredo, F.; Calvão, T. (2018). The paradigm of high concentration of metals of natural or anthropogenic origin in soils-The case of Neves-Corvo mine area (southern Portugal). J. Geochem. Explor., 186, 12–23. • Pessoa, C.; Lidon, F.; Coelho, A.; Caleiro, J.; Marques, A.C.; Luís, I.; Kullberg, J.; Legoinha, P.; Brito, M.; Ramalho, J.; Guerra, M.; Leitão, R.; Simões, M.; Campos, P.; Semedo, J.; Silva, M.; Pais, I.; Leal, N.; Alvarenga, N.; Gonçalves, E.; Silva, M.; Rodrigues, A.; Abreu, M.; Pessoa, M.; Reboredo, F. (2021). Calcium biofortification of Rocha pears, tissues accumulation and physicochemical implications in fresh and heat-treated fruits. Sci Hortic, 277, 109834. • Rayman, M.P.; Blundell-Pound, G.; Pastor-Barriuso, R.; Guallar, E.; Steinbrenner, H.; Stranges, S. (2012). A randomized trial of selenium supplementation and risk of type-2 diabetes, as assessed by plasma adiponectin. PLoS ONE, 7, e045269. • Rodier, J.; Legube, B.; Merlet, N. (2009). L’Analyse de l’Eau, 9th ed.; Dunod: Paris, France, 1579, ISBN 9782100072460. • Sarwar, N.; Akhtar, M.; Kamran, M.A.; Imran, M.; Riaz, M.A.; Kamran, K.; Hussain, S. (2020). Selenium biofortification in food crops: Key mechanisms and future perspectives. J. Food Compos. Anal., 93, 103–615. • Wang, Y.D.; Wang, X.; Wong, Y.S. (2013). Generation of selenium-enriched rice with enhanced grain yield, selenium content and bioavailability through fertilisation with selenite. Food Chem., 141, 2385–2393.

28 ARROZ EM PORTUGAL Lusosem: forte compromisso com a sustentabilidade da cultura de arroz nacional Desde a sua génese, a Lusosem assumiu um enorme compromisso com a sustentabilidade da cultura do arroz nacional promovendo a inovação e o desenvolvimento de soluções (sementes, agroquímicos e fertilizantes) e boas práticas que assegurem a viabilidade da cultura, numa óptica de valorização da fileira em forte colaboração com os diferentes intervenientes, desde a produção à indústria, actuando sempre de forma sustentável e responsável 2019 - Teti, Coruche. A Lusosem promove a inovação e o desenvolvimento de soluções e boas práticas que assegurem a viabilidade da cultura, numa óptica de valorização da produção nacional. Filipa Setas e Gonçalo Canha Departamento de Desenvolvimento da Lusosem

29 ARROZ EM PORTUGAL (base técnico-científica), garantindo assistência técnica e partilha de conhecimento para o sector numa lógica de grande proximidade. Em 2022, a Lusosem já tem previsto um conjunto de Ensaios e Campos Demonstrativos, onde para além do desenvolvimento de novas variedades de arroz e da temática da gestão das infestantes, de soluções para a piriculariose, áreas comoanutriçãodoarroz, com produtos como o Chamae, o Ino Activ e o Ino Green N, as técnicas de pulverização e a aplicação de adjuvantes como o Li700 star (nova solução) e o Sticman continuarão a ser estudados de forma integrada como ferramentas de valorização da produção orizícola nacional. O arroz é uma cultura profundamente ligada aos hábitos alimentares e à gastronomia portuguesa. Em Portugal, cultivam-se cerca de 29.000 hectares de arroz, repartidos pelos Vales do Mondego, do Tejo e Sorraia e do Sado. Nos últimos anos, a área cultivada tem-se mantido estável, com algumas oscilações pela dependência da disponibilidade de água, com uma evolução positiva da produtividade, obtida pela melhoria da gestão da tecnologia e principalmente através da qualidade das sementes utilizadas. SEMENTES Desde a sua génese que a Lusosem representa em Portugal a ALMO Spa, empresa italiana referência de inovação e qualidade em sementes de arroz, com destaque para variedades como o Ariete, Gladio, Albatros e Teti entre outras com grande impacto na fileira orizícola nacional. A condução de ensaios de adaptação de novas variedades tem sido uma constante. Para além de analisar agronomicamente as novas variedades aos diferentes condicionalismos agro-climáticos nacionais, a Lusosem está em permanente contacto com as tendências do mercado, através do contacto com as agroindústrias. Sendo um cereal que se consome sem ser processado, apenas é descascado e branqueado mecanicamente, as características organolépticas e biométricas de cada variedade de arroz inserem-nas em grupos de mercado bem caracterizados, como os “carolinos”, “agulhas”, “risotos” ou “aromáticos”. Assim, apenas as variedades que aliam as melhores características agronómicas às melhores qualidades para os mercados onde se inserem têm sucesso. O Ariete, lançado há mais de 20 anos, continua a ser a referência nos carolinos. Mais recentemente, variedades como o Teti no mercado internacional (médio cristalino) ou o Electtra no mercado nacional dos aromáticos são fortes apostas da Lusosem. Em poucos anos o Teti é já a segunda variedade mais semeada emPortugal, depois do Ariete. Paralelamente a esta parceria com a ALMO, a Lusosem apoia e acompanha, desde o seu início, o Programa Nacional de Melhoramento de Variedades de Arroz, por considerar que é necessário apostar em variedades nacionais dirigidas e adaptadas ao nosso País, garantindo a continuidade da orizicultura nacional e gerando receitas que revertem para tornar ainda mais eficiente este programa. Após vários anos de expectativa, foi recentemente lançado o concurso pelo Cotarroz - Centro de Competências, da nova variedade de arroz carolino Caravela oriunda do programa de melhoramento nacional. Foi com grande entusiasmo e sentido de compromisso que a Lusosem recebeu a responsabilidade pela multiplicação, divulgação e disponibilização ao mercado desta nova variedade nacional. Com o Caravela será possível embreve colocar à disposição da fileira uma nova variedade com elevado potencial produtivo, resistente à piriculariose do arroz e com elevada aceitação pela indústria nacional. SUSTENTABILIDADE DO AGRO-ECOSSISTEMA ARROZAL NACIONAL Na actualidade, as infestantes têm sido o principal factor biótico responsável pela perda de rendimento na cultura. O arroz é cultivado em regime Benavente.

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