Mas esse não é, para a ZERO, o único problema. A associação considera que a especialização dos sistemas agrícolas através de um modelo do tipo industrial, tem levado à intensificação pecuária e à dependência de fertilizantes de síntese, desligando as produções animal e vegetal do ciclo de nutrientes e gerando dependência de matérias-primas não renováveis, como é o caso do fósforo mineral.
Isto leva a que perdas significativas de nutrientes nos sistemas agrícolas portugueses. porquê? Porque “embora em 2019 Portugal tenha registado o menor consumo de fertilizantes minerais (azoto e fósforo) da União Europeia (UE), verifica-se um aumento do consumo aparente de mais 2,7% nesse mesmo ano, de acordo com o INE (Estatísticas do Ambiente 2019)”. Só que é um aumento aparente porque os consumos de fósforo “são significativamente inferiores aos de azoto (Eurostat 2018)”. Além disso, acrescenta a ZERO, Portugal é um dos países que revela menos eficiência no uso de fósforo - o 3.º maior valor de balanço deste mineral na UE em 2017 (Eurostat).
Um dado preocupante reside no facto de que “a quantidade de azoto incorporado no solo é quase o dobro do que é removido pelas culturas, com uma tendência de aumento deste excedente desde 2008 (+2,9% por ano)”.
Segundo a ZERO a “elevada mobilidade do azoto no solo possibilita o seu fácil arrastamento para meios hídricos, tanto superficiais como subterrâneos, causando poluição”. Um problema persistente, apesar dos vários programas de ação e da estipulação de Zonas Vulneráveis. Por outro lado, “a aplicação excessiva de fertilizantes azotados está também associada a emissões de amoníaco e óxido nitroso (um gás com efeito estufa 298 vezes superior ao CO2)”.
Na aplicação agrícola, as perdas de fósforo para as massas de água ocorrem sobretudo através do escorrimento superficial, podendo gerar eutrofização. As perdas de fósforo dos solos para as massas de água doce duplicaram no último século - estimadas entre 9 a 14 milhões de toneladas anuais – e continuam a aumentar, segundo dados do Call for International Action on Phosphorus 2020.
Esta situação faz com que a eutrofização gerada pelo excesso de nutrientes leva lagos, albufeiras e outros meios lênticos a aumentar as suas emissões de metano para a atmosfera. “Estima-se que o incremento de emissões durante o próximo século poderá chegar ao equivalente a 33% de emissões correntes advindas da queima de combustíveis fósseis”, afirma a associação ambientalista.
Mas nem tudo é mau. A ZERO acredita que Portugal está numa posição privilegiada para religar a agricultura ao ciclo de nutrientes. O que só será possível se houver “uma política pública coerente e consistente que procure a eliminação progressiva dos riscos do excesso de nutrientes e da dependência de fertilizantes minerais, numa abordagem multinível”. Que terá, obrigatoriamente de: