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Global Avocados disponibiliza comercialização em toda a Europa aos produtores do Algarve

Futuro passa por produzir com ‘resíduo zero’

Emília Freire13/10/2021

O abacate é uma cultura com grande potencial no Algarve, que tem condições excelentes para a sua produção, considera João Bento, do JBI Group, que é um dos sócios da Global Avocados. A empresa quer comercializar o ‘abacate do Algarve’ em toda a Europa. O produtor defende que o futuro passa por “produzir com ‘resíduo zero’ e no abacate é fácil fazê-lo” porque “não tem pragas, fungos ou doenças, que justifiquem a aplicação de produtos”.

A Global Avocados tem 650ha plantados, o que representa quase um terço de toda a área de abacate no Algarve

A Global Avocados tem 650ha plantados, o que representa quase um terço de toda a área de abacate no Algarve.

João Bento conta à Agriterra que se fez associado “da Trops [cooperativa espanhola que comercializa a grande maioria do abacate produzido no Algarve] em 2015, porque não havia uma central nacional que comercializasse o abacate na região”, mas também, nessa altura, “ainda não havia muita quantidade”, refere, acrescentando: “entretanto, continuei a investir na cultura e como a fruta é comercializada em conjunto com a fruta espanhola, não é diferenciada como produzida no Algarve, saí da Trops no final de 2019 e constituí uma empresa, a Global Avocados, com mais dois sócios”.

No conjunto, os três sócios – João Bento, do JBI Group, Luís Neves da Frutalgoz e Hugo Melita e Rui Sá da Sunshine Fruits – têm 650ha plantados, embora ainda não estejam todos em produção, o que representa quase um terço de toda a área de abacate na região, sendo que 95% das plantações são da variedade Hass, a que tem mais reconhecimento a nível internacional. “A empresa foi criada para comercializar o abacate do Algarve, com marca ‘Algarve – Portugal’, para a mais-valia comercial ficar no País e para os produtores, em vez de estarmos a entregar a fruta em Espanha”.

É um projeto novo, a empresa foi criada em 2020 e já fez a campanha de 2021 – dez/20 a abr/21 –, tendo vendido 1.500 toneladas de abacates, “e esperamos nos próximos três/quatro anos chegar às dez mil toneladas, porque temos sido contactados por muitos produtores de pequena e média dimensão, que não estão associados à Trops e que preferem vender com marca ‘Algarve’, com a marca 'Portugal' e estamos muito satisfeitos com este projeto”, salienta o CEO do JBI Group.

A empresa foi criada para comercializar o abacate do Algarve, com marca ‘Algarve – Portugal’, para a mais-valia comercial ficar no País

Parceria com a Madre Fruta

A Global Avocados tem também um contrato de externalização com a Organização de Produtores Madre Fruta, porque João Bento é sócio fundador e gerente daquela OP e o projeto até era para ter nascido dentro da organização. “Fazia todo o sentido o investimento – que é um investimento de cinco milhões de euros – ter sido feito na Madre Fruta, só que mais de 90% dos 46 sócios têm pequenos frutos, por isso decidi fazer eu o investimento, com dois sócios, tendo então este contrato para comercializarmos o abacate dos associados da OP que têm ou venham a ter produção de abacate”.

A empresa encarrega-se de todo o processo de logística, processamento, embalamento e comercialização da fruta, possuindo uma área de 35.000 m2, com uma nave industrial com mais de 5.000 m2 de área coberta, dotada com três cais de carga e descarga de fruta e instalações frigoríficas de ponta, garantindo a ótima conservação da fruta.

A nave tem condições para processar 200 toneladas de fruta/dia, suportada numa máquina com seis linhas de calibragem e seleção de qualidade de frutos. O rigoroso controlo da qualidade está associado à empresa Biometic, parceira da Global Avocados, que utiliza tecnologia de ponta já patenteada, nomeadamente o sistema QEYE que permite a reconstrução em 3D de todos os frutos que são processados e o sistema de inteligência artificial Deep Learning.

Embora o objetivo inicial fosse a comercialização, “para podermos acompanhar e aconselhar alguns produtores que nos pediram, já contratámos um técnico que irá andar no campo para dar apoio. Porque muitos agricultores têm pouco conhecimento da cultura, podem estar a regar demais ou de menos, não sabem como é que devem fazer a fertilização, como conduzir a cultura, não têm conhecimentos técnicos sobre as podas… e uma visita de três em três meses não é suficiente, tem de haver um acompanhamento contínuo, e é isso que já começámos a fazer”.

Há muito interesse no abacate do Algarve

"O abacate do Algarve tem uma qualidade extraordinária, que é reconhecida, e os compradores têm confiança na nossa produção"...

"O abacate do Algarve tem uma qualidade extraordinária, que é reconhecida, e os compradores têm confiança na nossa produção".

João Bento confessa-nos que “ficámos surpreendidos pelo interesse na nossa fruta: quando divulgámos o lançamento da Global Avocados fomos contactados por cerca de 60 empresas de toda a Europa que queriam trabalhar connosco e nós apenas conseguimos satisfazer cerca de 15 empresas, porque não há produção para fornecer a tanta gente”.

Mais de 95% das 1.500 toneladas vendidas foram, principalmente para o norte da Europa, como a Dinamarca, mas também França, Alemanha, Bélgica, Itália e Reino Unido.

O produtor acrescenta que “foi muito interessante porque o abacate do Algarve tem uma qualidade extraordinária, que é reconhecida, e os compradores têm confiança na nossa produção – são abacates certificados –, conhecem-nos, vêm-nos visitar e o nosso abacate é produzido de forma quase biológica, porque, felizmente, não tem pragas, fungos ou doenças, que justifiquem a aplicação de produtos”.

Existe apenas um ácaro, que pode surgir no verão (de julho a setembro) e que tem sido combatido, essencialmente, por luta biológica, resultando num produto “praticamente biológico”, mas João Bento diz-nos que acredita que “o futuro não passa por produzirmos só biológico, é impossível. Não compreendo como é que existem políticas europeias para se aumentar a produção biológica, quando temos uma população mundial a aumentar e necessitamos de produzir mais. Temos é de produzir de uma forma garantindo a segurança alimentar e procurar, em muitos dos produtos, ter como objetivo produzir com ‘resíduo zero’ e no abacate é fácil fazê-lo”.

João Bento defende uma produção sustentável, “o que implica ter em atenção os três pilares: económico, ambiental e social. Sou produtor há 33 anos e já produzi hortícolas, depois passei para os pequenos frutos, que ainda produzimos, e mais recentemente para o abacate, porque temos de procurar as culturas que têm rentabilidade, que conseguimos produzir de forma sustentável e o abacate garante-nos isso”.

Abacate consome a mesma água que os citrinos

“O abacate consome sensivelmente o mesmo que os citrinos, e podemos prová-lo, porque aqui na Associação de Regantes do Sotavento temos contadores e podemos mostrar que o consumo anual por hectare nos pomares de abacates anda entre os 6.000 e os 7.000 m³”, diz o sócio da Global Avocatos, frisando que “nestes pomares os sistemas de rega são modernos, com rega gota-a-gota, e que mais de 90% destas produções são controladas e acompanhadas tecnicamente e utilizam a tecnologia para serem mais eficientes no uso da água e dos nutrientes”.

Ao nível dos nutrientes o JBI Group trabalha com a AGQ Labs, realizando oito análises por ano à solução líquida no solo e às folhas “para só aplicar, em cada fase de desenvolvimento da cultura, os nutrientes certos na quantidade certa”.

"Mais de 90% destas produções são controladas e acompanhadas tecnicamente e utilizam a tecnologia para serem mais eficientes no uso da água e...

"Mais de 90% destas produções são controladas e acompanhadas tecnicamente e utilizam a tecnologia para serem mais eficientes no uso da água e dos nutrientes”.

Respondendo às recentes críticas à cultura do abacate na região, o produtor afirma: “para conseguir ter os cerca de 300ha de abacate que plantei, tenho 15 explorações entre Olhão e Vila Real de Santo António, onde é está a monocultura? E também não é uma produção intensiva porque temos entre 400 a 500 árvores por hectare, enquanto nos citrinos as plantações se situam entre as 600 e as 700 árvores”.

João Bento relembra que a procura de abacate na Europa está a crescer a cerca de dois dígitos, por isso a cultura tem muito potencial, porque o consumo deverá continuar ainda a crescer, como aconteceu nos Estados Unidos, por exemplo, que hoje consomem anualmente cerca de 1.100 milhões de toneladas, tendo duplicado em cinco anos.

E alerta que “produzir na Europa tem uma pegada ecológica muito menor, mas a Europa – principalmente Espanha, porque Portugal tem pouco peso – produz apenas cerca de 20% do que consome, pelos que os outros 80% vêm essencialmente da América do Sul, de países como o Perú, o Chile e a Colômbia, e também da África do Sul, e o abacate é transportado em contentores que levam, entre duas a quatro semanas no mar, qual é a pegada ecológica destes abacates? E têm de levar um produto para aguentar a viagem enquanto o nosso abacate nem sequer é lavado, é apenas escovado, colocado nas caixas e ao fim de dois ou três dias está nos supermercados da Europa”.

Produzir na Europa tem uma pegada ecológica muito menor, mas a Europa produz apenas cerca de 20% do que consome

O sócio da Global Avocados informa que no próximo ano a empresa deverá vender também para o MARL, porque algumas empresas manifestaram interesse, “principalmente para o abacate que chamamos de segunda categoria, cuja qualidade é a mesma, mas são frutos cuja pele está mais roçada, por causa do vento, por exemplo e que não colocamos na primeira categoria. Por isso, vendemos para cadeias chinesas de frutarias ou para os restaurantes de sushi, que conseguem assim comprar um excelente produto a menos 0,50€ ou mesmo 1€”.

Apesar de não haver muito terreno disponível, João Bento considera que “a área de produção de abacate pode duplicar nos próximos cinco ou seis anos, porque começam agora a serem reconvertidos os pomares de citrinos que têm entre 20 a 40 anos, e as pessoas estão a aproveitar para reconverterem algumas dessas áreas em abacates, podendo estabilizar em torno dos 4.000 a 5.000ha”.

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