A área de abacate representa cerca de 3,2% da área de culturas permanentes e 1,8% da Superfície agrícola utilizada do Algarve. Foto: Alanyadk, Pixabay
A marca, que vai ser gerida pela AlgFuturo – União Empresarial do Algarve, implica o cumprimento de um conjunto de regras por parte dos produtores, que incorrem em penalizações caso não cumpram as especificações previstas, adiantou Ana Soeiro.
“Para registar uma marca tem que haver um conjunto de regras. Temos que ter um caderno de especificações que torne específico a que é que se pode chamar abacate do Algarve”, referiu, acrescentando que a cultura tem de “ser feita em boas condições, de sustentabilidade”, que implicam “não delapidar água, não delapidar energia, não degradar o solo”, havendo mecanismos de controlo para verificar se as regras são cumpridas.
Ana Soeiro, que também é vice-presidente para a Europa do movimento oriGIn, entidade responsável por atribuir na União Europeia a denominação de origem ou geográfica a produtos alimentares, frisou que apesar deste primeiro passo, “não estão ainda reunidas as condições” para a eventual criação de uma Indicação Geográfica Protegida (IGP).
A principal conclusão do estudo ‘A Importância da Cultura do Abacate na Região do Algarve’, solicitado pela AlgFuturo à Agro.Ges e ontem apresentado, é que “a cultura do abacate tem uma importância crescente e o potencial de trazer à região do Algarve um contributo económico e social importante, sendo possível desenvolver a produção com respeito pelas questões da sustentabilidade ambiental”.
A Agro.Ges salienta que “dos 2016 hectares ha ocupados com abacateiros em Portugal Continental, 1.833 ha encontram-se no Algarve de acordo com o recém-publicado Recenseamento Agrícola de 2019 (RA 2019), do Instituto Nacional de Estatística (INE). Esta área, que representa cerca de 3,2% da área de culturas permanentes e 1,8% da Superfície agrícola utilizada da região, distribui-se de forma muito diferenciada na região, (…) Como se pode verificar, os municípios de Silves, Tavira e Faro são responsáveis pela maioria (68%) da área de produção”.
De acordo com o estudo, a alfarrobeira mantém o primeiro lugar nas culturas permanentes do Algarve, representando a maior área plantada na região (13.584 hectares), seguida dos citrinos (13.269), do olival (9.409), de outros frutos secos (7.524) e da amendoeira (5.004). Por seu lado, a vinha, com 1.513 hectares, é a única que ocupa menos área que o abacateiro.
“Os atuais 1.833 hectares (ha) da cultura de abacates no Algarve vão gerar 40 milhões de euros anuais para a região de Valor Acrescentado Bruto (VAB). Atualmente, mesmo sem todos os pomares estarem no chamado ano cruzeiro de produtividade, essa contribuição é já de 20 milhões de euros para a economia anual da região”, destaca o comunicado de imprensa da AlgFuturo.
“Num dos temas mais relevantes no debate sobre a cultura dos abacates no Algarve – o da água – o estudo indica que a água utilizada por esta cultura é, em média, 6.500 m3/ha por ano, o que é semelhante à média das culturas dominantes, nalguns casos ainda menos”, adianta o comunicado.
Quanto às necessidades de rega, o abacateiro está, assim, equiparado às culturas do olival, citrinos ou romãzeiras, enquanto as nogueiras, amendoeiras e diospireiros precisam de mais água, conclui o estudo.
O comunicado da AlgFuturo destaca que “o estudo da Agro.Ges recomenda que o abacate seja uma opção estratégica e uma opção importante do desenvolvimento agrícola da Região do Algarve, incluindo os seus produtores nos processos de decisão, planeamento e abordagem às soluções para os problemas que o futuro possa guardar”.
Na abertura da sessão o presidente da Câmara Municipal de Faro, Rogério Bacalhau, afirmou que o abacate é uma cultura geradora de valor económico capaz de rentabilizar pequenos espaços.
Por seu lado, José Vitorino, presidente da AlgFuturo, sublinhou que este estudo dissipa todas as dúvidas sobre a importância do abacate na diversificação da agricultura algarvia e que quaisquer campanhas contra têm “perna curta” porque não se inventariou nada de negativo.
A sessão de apresentação contou também com a participação do professor Amílcar Duarte, da Universidade do Algarve, que afirmou que ao contrário do que parecem pensar algumas pessoas a produção de abacate não é nem uma monocultura nem é uma cultura intensiva.
Uma ideia sublinhada também pelo diretor Regional de Agricultura e Pescas do Algarve, Pedro Valadas Monteiro, ao afirmar que 1.830 hectares de abacate, num total de 22.000 hectares de cultura de regadio na região, significa que se está “bastante longe de uma monocultura”.
Pedro Valadas Monteiro disse ainda que a cultura do abacate apresenta-se como o novo paradigma do que deve ser o futuro da agricultura na região, ou seja, com forte incorporação tecnológica, com alto valor acrescentado e com as mais eficientes técnicas de gestão de recursos, nomeadamente a água.
O estudo foi coordenado pelo professor Francisco Avilez, responsável pele coordenação técnica, científica e metodológica da Agro.Ges e elaborado por Miguel Vieira Lopes, que fez a apresentação do documento.