Rui Garrido, presidente da Comissão Organizadora da Ovibeja, antecipa certame que decorre nos dias 22 e 23 de abril em formato virtual.
“Percebemos que podemos recorrer às potencialidades das novas tecnologias para fazermos uma Ovibeja com caraterísticas muito semelhantes à nossa feira de sempre. Não podíamos deixar passar mais um ano sem fazer a Ovibeja. Porque a nossa feira sempre soube inovar, superando os obstáculos”.
As afirmações são de Rui Garrido, Presidente da ACOS e da Comissão Organizadora da feira. Por isso, este ano, a Ovibeja vai ter uma versão em formato digital, com pavilhões que podem ser visitados por todos, ao ritmo de cada um, com produtos em exposição e para venda e com espaços onde se realizam espetáculos e conferências.
Tudo durante dois dias, 22 e 23 de abril, uma quinta e sexta-feira. Para a sessão da abertura está prevista a participação do Presidente da República. A escassos dias desta 37ª Ovibeja, subordinada ao tema da 'Agricultura ConsCiência', que procura debater a atividade agrícola enquanto um setor sustentável e apoiado em dados científicos, a adesão dos expositores superou as expectativas em torno de uma Ovibeja que, para além de continuar a afirmar-se como 'todo o Alentejo deste mundo', procura também este ano vencer as barreiras do espaço físico e estar à distância de apenas um clique de todos os visitantes, estejam estes em que parte do mundo estiverem.
Leia a entrevista de Rui Garrido, nas vésperas de o certame decorrer em formato online, devido à pandemia.
É exatamente essa a questão. Há um ano fomos forçados a cancelar a Ovibeja devido à pandemia, por razões de saúde pública. Não se sabia muita coisa acerca do vírus, as pessoas tinham medo. Entretanto percebemos que podemos recorrer às potencialidades das novas tecnologias para fazermos uma Ovibeja com caraterísticas muito semelhantes à nossa feira de sempre. Não podíamos deixar passar mais um ano sem realizar a Ovibeja. Porque a nossa feira sempre soube inovar, superando os obstáculos. A verdade é que a vida no campo não parou e os agricultores continuam a produzir alimentos que chegam todos os dias às nossas mesas. Mesmo as empresas, as marcas e as pessoas se reinventaram neste mundo em mudança. A Ovibeja, que é feita pela comunidade, acompanha e reflete esta procura de novos caminhos.
Temos também agendado um momento musical promissor, chama-se Ovicante – o Cante alentejano em concerto unplugged. São novas vozes do cante, jovens talentos da região que também cantam outras sonoridades, desde o jazz, ao fado e onde o improviso os levar. Num só concerto participam vários artistas; Buba e Eduardo Espinho, Trigacheiro, João Maria Baião e Miguel Costa, Ana Sofia Varela, Jorge Benvinda e Jorge Serafim.
O Concurso Internacional de Azeites Virgem Extra, que continua a ser apoiado pela Caixa de Crédito Agrícola, está, mais uma vez este ano, classificado como um dos melhores concursos de azeite do mundo. A edição do ano passado foi cancelada, mas decidimos retomá-lo este ano sendo esta a décima edição. Ainda por efeitos da pandemia, soubemos agora que temos de adiar as provas para classificação dos azeites a concurso, previstas para o período de 16 a 18 de abril. A prova dos azeites, ficou, por isso, adiada para depois do desconfinamento geral, a partir do dia 3 de maio. A data e o formato da cerimónia de entrega dos prémios, que estava previsto acontecer no decorrer da Ovibeja, serão anunciados em breve.
É tradição, durante a Ovibeja, a abordagem de temas que preocupam não só a agricultura regional, mas também nacional. E assim será também nesta edição virtual. A necessidade urgente de debater questões inadiáveis e apresentá-las às instituições decisoras, foi uma das razões que nos fez organizar esta edição da Ovibeja. Seja à distância, seja no terreno, é indiscutível que é na Ovibeja que se tomam as decisões políticas mais importantes da agricultura do Alentejo.
Quanto às conferências há uma grande aposta nos temas que se revelam mais importantes no âmbito da agricultura nacional e do Alentejo, e que estão alinhados com o tema desta edição da feira 'Agricultura ConsCiência'. Vamos falar da sustentabilidade dos sistemas agro-silvo-pastoris, da sustentabilidade do setor do vinho e da sustentabilidade do olival e do azeite, com dinâmicas cada vez maiores na nossa região. No caso do olival, vamos olhar sobretudo para o olival de sequeiro, o olival tradicional que neste momento tem grandes problemas para sobreviver. Para isso convidámos um consultor espanhol, Juan Vilar, que conhece muito bem a nossa realidade. Estão agendados também webinars dedicados às culturas de sequeiro e à floresta, assim como o tema da PAC no pós 2022. E regadio. Vamos recolher contributos de experiências europeias e vamos falar do enquadramento e de diferentes visões sobre o regadio a partir de Alqueva.
Este ano não haverá entradas pagas… Pelo contrário, procurámos criar uma plataforma virtual em que o acesso fosse o mais simples possível. Não há inscrições, nem links de acesso para os visitantes. As pessoas vão ao site da Ovibeja, entram, fazem a visita virtual e movem-se à sua vontade.
É isso mesmo. De uma forma simples em www.ovibeja.pt podem visitar os diferentes espaços, que são muitos, assistir a eventos em direto, desde as conferências ou webinars, até muitas outras iniciativas que vão desde a gastronomia, à música, pequenos apontamentos de reportagem que vão ser disponibilizados na TV Ovibeja.
Sim. Esta Ovibeja, embora neste formato, vai ter uma sessão de abertura onde contamos já com a participação do senhor Presidente da República, a quem vai caber o discurso de abertura. O senhor secretário de Estado da Agricultura fará a abertura do colóquio sobre o olival e o azeite, enquanto que a senhora ministra da Agricultura, procederá ao encerramento da sessão sobre o regadio.
Para os nossos webinars, que vão decorrer em direto da feira, temos confirmada a presença de responsáveis de organismos públicos e da tutela que vão apresentar os seus pontos de vista mas, principalmente, ouvir o que os representantes dos agricultores têm para dizer.
Há diferenças nalguns setores da nossa atividade. Por exemplo, o negócio do borrego é um exemplo do que estava a dizer. Há um ano os agricultores da nossa região viam não só o preço do borrego a cair, mas sobretudo não havia saída e não apareciam compradores. Estava tudo fechado, turismo, restaurantes, etc.. Neste momento, e contrariamente àquilo que nós pensávamos, o preço do borrego aumentou para valores muito interessantes. A explicação é simples: mesmo neste período as exportações de borregos vivos para Israel têm aumentado muito, o que tem feito com que a procura não desça e o preço tenha estado a subir. Em outros setores, sobretudo os mais influenciados pelo canal Horeca, aí sim tem havido quebras, como no vinho, ainda que isso se reflita mais nas gamas de vinho médias/altas, porque as pessoas em casa também consomem, mas vinhos mais baratos. Por isso, os produtores de vinho de maior qualidade estão a sentir dificuldades. Outro setor que atravessa uma crise é a das frutas e legumes, que está com problemas.
O azeite, devido a outras circunstâncias, teve no ano passado um preço muito baixo, que já vinha baixando devido à existência de grandes stocks, mas tem vindo a aumentar um pouco e conseguido resistir à crise. Ou seja há alguns setores que se equilibraram um pouco, outros ainda não.
Choveu bastante nos últimos meses, o que veio dar outra imagem ao nosso Alentejo e não só. Já se falava muito de seca, as barragens estavam quase vazias, não só para o regadio, mas também ameaçando o abastecimento das populações. Agora, o Alqueva está quase cheio, o que significa que tem água para quatro anos de seca. As barragens da nossa região, estão, de um modo geral, acima dos 50%, sendo que, os maiores problemas estão na bacia do Sado.
Os regadios pré-existentes, ao contrário dos últimos três ou quatro anos, têm neste momento água suficiente para a campanha, o que quer dizer, que não vão necessitar de solicitar água à EDIA, que é mais cara.
Mais uma vez se confirma que chovendo em quantidades razoáveis, mesmo sem ser em excesso, o Alqueva enche com alguma facilidade. E mais reservas de água houvesse, mais água teríamos disponível, não só para a agricultura, mas também para abastecimento das populações. Agora que choveu, tendemos a esquecer-nos que, nos últimos anos, algumas populações foram abastecidas de água por autotanques.